É com a proposta de aproximar os campos da pesquisa e da dança que nasceu o projeto Os Afetos dos Silêncios, idealizado por Ana Carolina Brindarolli e Maria Fernanda Figueiró. A iniciativa articula diferentes frentes: circulação de espetáculos, produção acadêmica, digitalização do acervo e uma mesa-redonda com foco em questões de gênero. Os recursos vêm do Fundo Municipal de Investimentos Culturais (FMIC), que é gerido pela Secretaria Executiva de Cultura (Secult) da Prefeitura de Campo Grande.
“A pesquisa que estamos realizando é de caráter etnográfico, voltada diretamente aos processos do espetáculo: sua criação, manutenção, bastidores e as pessoas envolvidas. “Nossos diálogos sobre gênero sempre foram constantes e ganharam força quando a Ginga Cia. de Dança decidiu criar o espetáculo ‘Silêncio Branco’, cuja temática central é o feminicídio”, explica Maria Fernanda, que, assim como Ana, é bailarina da companhia.
O projeto contempla apresentações gratuitas dos espetáculos “Silêncio Branco”, dirigido por Chico Neller, e “Rompendo o Silêncio”, com direção de Vanessa Macedo. As sessões serão realizadas, respectivamente, nos dias 5 e 12 de agosto, ambas às 19h, no Sesc Teatro Prosa.
“Silêncio Branco”, inclusive, foi contemplado pelo Prêmio Klauss Vianna, da Funarte, o que permitiu sua apresentação em São Luís (MA). Para essas duas apresentações, o projeto convida o público a doar alimentos não perecíveis como forma de contribuição à comunidade, que posteriormente serão destinados à iniciativa Mães da Favela, da Central Única de Favelas (Cufa) de Campo Grande.
“A ideia de desenvolver um projeto em parceria já nos acompanhava há tempos. Foi após um curso de dança com Eduardo Fukushima que conseguimos fechar algumas ideias e dar forma ao que antes era apenas um desejo compartilhado”, lembra Ana Carolina.
ACERVO ONLINE
Outra frente importante do projeto é a digitalização e a disponibilização online e pública do acervo histórico da Ginga Cia. de Dança, com a criação de um site oficial, contendo os 39 anos de materiais da companhia. O espaço digital será alimentado pelos integrantes da Ginga e do diretor Chico Neller, como forma de preservar dados e garantir a continuidade do registro da memória artística do grupo.
A celebração dos 39 anos da Ginga também é um dos marcos do projeto. Para as proponentes, manter uma companhia de dança contemporânea ativa por quase quatro décadas em Mato Grosso do Sul é um ato de resistência. “Ao longo dessa trajetória, destacamos a formação de artistas, a criação de repertório autoral, o diálogo com diferentes públicos e linguagens, além da construção de espaços de troca, afeto e resistência”, pontua Ana Carolina.
SEGUIR DANÇADO
O projeto também prevê a realização de uma mesa-redonda com pesquisadoras da área de gênero e profissionais que atuam nas políticas públicas voltadas às mulheres. “Nosso objetivo foi criar um espaço de diálogo entre quem está na universidade e quem atua nas políticas públicas. Acreditamos que a dança é uma ferramenta de transformação social e deve ser reconhecida como linguagem capaz de abordar temas urgentes da contemporaneidade”, afirma Maria Fernanda.
A proposta inclui, ainda, a produção de um artigo etnográfico a partir dos dois espetáculos, aprofundando a relação entre arte e teoria. A produção é de autoria da Manaká Cultural. Para o futuro, o desejo das bailarinas e da companhia é de seguir criando e resistindo. “Continuar existindo já é um sonho e uma resistência. Queremos seguir dançando, formando, pesquisando e nos reinventando com as pessoas que constroem essa história com a gente”, projeta Ana Carolina.


