Quando o jornal chega à porta de Marta todos os dias, ela faz questão de ler cada página tomando o café, assim como o pai, seu Orlando, repetia todas as manhãs. A rotina herdada é apenas mais uma das inspirações que o torcedor fanático do Comercial ensinou aos filhos antes de partir. “Ele sempre comprou o jornal; mais de 40 anos comprando todos os dias. Há dois anos, resolvi presentear ele com a assinatura do Correio do Estado. Quando ele terminava de ler, eu pegava a edição e lia também”, relembra.
Economista aposentado, músico, fanático pelo Vasco e pelo Comercial, Orlando Brito de Alencar faleceu no dia 7 de março, aos 77 anos, enquanto dormia, em razão de um infarto. Naquele dia, como em todos, dedicou os primeiros minutos do dia à leitura. Preferia o toque do papel nas mãos às novidades da era da internet.
Pelo menos em duas ocasiões, Orlando saiu na edição do Correio. A primeira a filha Marta Beatriz Galdino de Alencar Lima, 54 anos, lembra muito bem. “O Comercial foi campeão em 1982 e nós atravessamos o estádio do Morenão de joelhos para cumprir uma promessa. Eu, meu pai e minha mãe. A foto saiu na primeira página e nós ficamos muito felizes. Por isso eu digo que a história dele com o Correio do Estado é muito antiga”, destaca.
Em outra ocasião, Orlando saiu pelo amor à música. No dia 26 de agosto de 2007, ele contou um pouco da sua história como seresteiro em uma entrevista intitulada “Nos Bailes da Vida” e ostentou um chapéu bonito e um violão nos braços. “Ele amava tocar, gostava muito de baile, de bolero. Não saíamos do União dos Sargentos, era uma paixão tórrida pela música”, afirma a esposa de Orlando, Mariza Galdino de Alencar, 78 anos.
Ao lado de dona Mariza, Orlando teve cinco filhos: dois deles faleceram antes de nascer e três eles criaram juntos durante os 56 anos de casado. “Ele amava bolero. A música favorita é ‘Boneca Cobiçada’”, conta. A filha mais nova, Élida Cristina Galdino de Alencar Duarte, 47 anos, complementa: “Mas tinha aquela canção ‘Professorinha’, que ele gostava também. Meu pai era seresteiro, da nata do bolero”.
CARINHO
Com parte da história de sua família contada nas páginas do jornal, Marta nem cogitou deixar de manter a rotina diária. “Para mim, é como uma lembrança dele todos os dias. Pedi autorização para minha mãe e só mudei o endereço da assinatura para a minha casa. Como moramos em frente uma da outra, eu leio e depois deixo na casa dela. Quando pego aquele jornal pela manhã, eu lembro dele e sinto um carinho muito grande. É uma lembrança muito forte”, ressalta.
No primeiro Dia dos Pais sem a presença física do pai, as filhas sentem que Orlando ficaria feliz em ver a família manter o amor pela leitura. “Era algo importante para meu pai, ele via a gente e já perguntava do jornal”, diz Marta.
Outra tradição do seresteiro, agora o amor que a família nutre por Orlando também está registada no jornal, como a promessa no Morenão e o amor à música.
