A receita é de dona Naime, filha de sírios que já nasceu em Campo Grande, depois que os pais se estabeleceram no Estado. Aqui teve três filhos, três netos e um bisneto de quem foi muito próxima até partir, em 2005, aos 76 anos. Casada com um português, encaixou na vida de dona de casa a profissão de confeiteira. Durante décadas, fazia bolos “para fora”, para aniversários e casamentos. “Até onde eu sei, ela não fez nada de curso, ia fazer por conta. Herdei dela muitos livros de confeitaria, armação de bolo”, conta o neto Anderson Medeiros, de 42 anos.
Da infância com a avó, ele tem a nítida lembrança de ficar ao redor da mesa, enquanto ela confeitava. Muito sistemática, dona Naime não deixava o neto encostar em nada, só quando sobrava casca de bolo e recheio. As receitas da avó não eram nada “de cabeça”, as medidas eram seguidas à risca, tal qual estava escrito no caderno.
Na adolescência do neto, dona Naime ficou viúva, e então passou a fazer bolos somente para a família, para os aniversários dos netos. Mais ligada aos doces, não faltavam receitas “de sal” no caderno da senhorinha. Por influência da família síria, ela fazia muitos salgados e também a pedidos do marido português que gostava de matar as saudades de casa. “E era algo muito corriqueiro, qualquer reunião de família ou fim de tarde, sempre tinha algo para comer que a gente mesmo fazia, descreve o neto. Ele e o irmão pegaram o gosto pela cozinha, mais especificamente para Anderson, o talento ficou um pouco adormecido.
Depois do falecimento, o neto herdou os livros e os cadernos de receita que dona Naime escrevia à mão, que somados à necessidade que ele tinha de aprender algo, começaram a ser lidos e seguidos. “Eu passei a ficar junto com as irmãs dela, minhas tias-avós e fui pegando essas referências”, fala. Referências que ele vem trazendo ao longo dos 16 anos de atuação como chef para a sua cozinha junto das bandeiras que defende: de comida local e produtos regionais.
A empada que estampa esta reportagem foi feita nesta semana, depois de um pedido da mãe de Anderson, filha de dona Naime para o lanche da tarde com gosto de saudade. “Comida afetiva é isso, tudo o que remete à infância, ao que proporcionava um momento de prazer na época.A gente não vê mais isso hoje em dia, receitas passo a passo, só os congelados. E essa questão da memória afetiva está relacionada ao que a pessoa viveu. Você relembra o sabor e o cheiro, até porque ela não está ligada só ao paladar, mas também ao olfato”.
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EMPADINHA DE FRANGO
Ingredientes
Massa:
200g farinha de trigo
100g manteiga
1 ovo
20 ml água
1 pitada de sal
Recheio:
300g peito de frango desfiado
2 dentes alho
1 colher azeite
1 colher pimentão picado
2 tomates picados
Azeitonas a gosto
250 ml leite
2 colheres farinha de trigo
- Rende em média 15 empadinhas
MODO DE PREPARO
Da massa: Misture todos os ingredientes, não precisa sovar. Envolva em papel filme e leve à geladeira por 30 minutos.
Para o recheio: Aqueça o azeite, coloque o alho , tomate, frango desfiado, o leite, a farinha trigo e o pimentão. Cozinhe tudo até ficar cremoso, por último coloque a azeitona. Agora espere esfriar.
Agora monte as forminhas com a massa, apertando com os dedos, recheie e cubra a massa. Por fim, pincele com 1 gema de ovo e coloque para assar a 200 graus até dourar. Aí é só esperar esfriar, desenformar e se deliciar!

Helio Mandetta e Maria Olga Mandetta
Thai de Melo


