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Show celebra ponte musical entre Campo Grande e Cuiabá, festival destaca cinema de MS e muito mais

"Do Pantanal ao Litoral", na Cervejaria Canalhas, no domingo; festival e streaming destacam cinema sul-mato-grossense, Begèt De Lucena participa de festa afro-brasileira e, nos cinemas, estreia novo longa do Quarteto Fantástico

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As cenas musicais de Cuiabá e Campo Grande se encontram no show “Do Pantanal ao Litoral”, que promove um intercâmbio cultural inédito entre artistas do Centro-Oeste brasileiro. No domingo, a partir das 18h, a Cervejaria Canalhas, em Campo Grande, recebe a banda Calorosa (MT), o cantor e compositor Paulo Monarco (MT) e o anfitrião Jerry Espíndola. O evento é gratuito, com ingressos disponíveis pelo Sympla e sujeito à lotação da casa.

A programação inicia com a roda de conversa Paisagem Sonora: Música e Território, às 18h, reunindo os artistas Paulinho Nascimento (Calorosa), Jerry Espíndola e Paulo Monarco, com mediação de Aly Ladislau.

Em seguida, às 20h, o palco se abre para o show que marca a primeira apresentação conjunta dos músicos mato-grossenses com Jerry Espíndola, referência da música sul-mato-grossense e referência na fusão da polca rock.

Mais que uma parceria musical, o encontro celebra as conexões sonoras e territoriais do bioma pantaneiro. A afinidade com a obra de Jerry Espíndola – que há décadas transforma referências locais em linguagem universal – torna o diálogo ainda mais potente. 

Influenciado por Jerry, Monarco transita pela tradição musical da baixada cuiabana, dando continuidade à herança plantada pelo cururu, siriri, o rasqueado e o lambadão. Em seu show a sonoridade caminha sinestesicamente, guiada pelas estruturas das claves rítmicas típicas da baixada cuiabana. Hora com peso e atitude rock, hora experimental e flutuante.

A Calorosa define seu “pop tropical pantamazônico” como uma “fusão de gêneros contemporâneos com ritmos tradicionais da cultura popular de Mato Grosso”. “Do Pantanal ao Litoral” é um projeto de intercâmbio musical que integra o Circuito Funarte de Música Pixinguinha 2023.

BONITO CINESUR

Antônio Pitanga (foto) e Maeve Jinkings são os apresentadores da cerimônia de abertura da terceira edição do festival, na noite de hoje, em Bonito; grátis - Foto: Divulgação/Raique MouraAntônio Pitanga (foto) e Maeve Jinkings são os apresentadores da cerimônia de abertura da terceira edição do festival, na noite de hoje, em Bonito; grátis - Foto: Divulgação/Raique Moura

Começa hoje, em Bonito, o 3° Bonito CineSur – Festival de Cinema Sul-Americano, que segue até o dia 2 de agosto, com 63 filmes, celebrando a produção sul-mato-grossense, brasileira e da América do Sul, com filmes da Argentina, Peru, Chile, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Uruguai, Paraguai, Equador e títulos nacionais.

Após a cerimônia de abertura, na noite de hoje, no Centro de Convenções de Bonito, será exibido o longa “As Herdeiras”, de Marcelo Martinessi, que tem como protagonista a paraguaia Ana Brun, atriz homenageada pelo festival neste ano. O sanfoneiro Gabriel Chiad faz um show no local logo após a projeção.

O sanfoneiro de Campo Grande leva seu arrasta-pé para o Bonito Cinesur nesta sexta-feira; no Centro de Convenções; grátis - Foto: DivulgaçãoO sanfoneiro de Campo Grande leva seu arrasta-pé para o Bonito Cinesur nesta sexta-feira; no Centro de Convenções; grátis - Foto: Divulgação

CURTA NO ITAÚ

O cinema sul-mato-grossense também é destaque no streaming. No pacote de curtas premiados que a plataforma gratuita Itaú Cultural Play disponibiliza a partir de hoje está “Sideral” (2021), ficção científica do Rio Grande do Norte, de Carlos Segundo, premiado nos EUA, Hong Kong e outros países, e o sul-mato-grossense “De Tanto Olhar o Céu Gastei Meus Olhos” (2018), drama da diretora Nathália Tereza que mergulha na complexidade dos laços familiares e no impacto do abandono paterno.

O drama da diretora Nathália Tereza (MS) é um dos curtas premiados que estreiam hoje na plataforma gratuita Itaú Cultural Play - Foto: DivulgaçãoO drama da diretora Nathália Tereza (MS) é um dos curtas premiados que estreiam hoje na plataforma gratuita Itaú Cultural Play - Foto: Divulgação

No filme, o pai de Luana e Wagner envia uma carta, após anos de abandono. O filho acredita que o pai possa ter mudado. A filha, não. As atuações intimistas e a trilha sonora que valoriza o silêncio instigam os espectadores a refletir sobre os sentimentos contraditórios dos personagens. O filme foi indicado para o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2018 e ganhou, em 2017, o Prêmio Canal Curta! e Porta Curtas no 28º Kinoforum – Festival Internacional de Curtas de São Paulo.

FESTA DA FOGUEIRA

Amanhã, das 15h às 23h, a Casa de Santo Asé Efunsola de Ajagunã (na Rua Marechal Câmara, nº 959, Seminário), realiza a 1ª Fogueira de Ayrá, celebração afro-brasileira, com entrada franca, e várias atrações, como a performance solo “Oxumarê: Um Corpo em Devoção”, de Giulia Maciel, show de Begèt De Lucena e a roda Yakekerê, protagonizada por mulheres em homenagem ao sagrado feminino.

Dono de uma das melhores vozes da atual cena musical de Campo Grande, o cantor é uma das atrações da festa Fogueira de Ayrá neste sábado; grátis - Foto: DivulgaçãoDono de uma das melhores vozes da atual cena musical de Campo Grande, o cantor é uma das atrações da festa Fogueira de Ayrá neste sábado; grátis - Foto: Divulgação

Também participam da festa, que será realizada na rua, ao ar livre, o Coletivo do Mato e a Associação Varanda do Dendê, com maculelê, capoeira e samba de roda, a cantora Manu Kavallari, com o projeto autoral “Canções da Noite”, e o grupo Flor de Pequi, que encerra o evento com um show de forró pé de serra. Nos intervalos, o DJ Renan Cruz assume o comando com sets de ritmos populares e regionais.

CLUBE DE LEITURA

O Clube de Leitura Pássaro-Poesia realiza amanhã, às 10h, na Hámor Livraria, em Campo Grande, mais um encontro, desta vez para falar sobre o livro “Ninguém Quis Ver” (2023), da poetisa Bruna Mitrano. A autora, filha de camelôs e que só leu o primeiro livro aos 17 anos de idade, já tinha chamado atenção com o seu primeiro livro, “Não” (2016).

“Ninguém Quis Ver” (2023) atesta a ressonância de seu trabalho, “dando voz ao que se cala e rosto ao que o mundo insiste em não ver”. Os organizadores reforçam que não é exigida a leitura completa do livro, “basta às pessoas atraídas pelo fenômeno poético que se disponham a falar e a escutar um pouco”. Grátis.

CINEMA

Pôster do novo longa do Quarteto Fantástico, estrelado por Pedro Pascal - Foto: DivulgaçãoPôster do novo longa do Quarteto Fantástico, sob direção de Matt Shakman - Foto: Divulgação

Um grupo de astronautas passa por uma tempestade cósmica durante seu voo experimental. Ao retornar à Terra, os tripulantes descobrem que possuem novas e bizarras habilidades. Reed Richards pode esticar seu corpo. Sua noiva, Susan Storm, ganha a habilidade de se tornar invisível. Seu irmão mais novo, Johnny Storm, adquiriu o poder de controlar o fogo e voar. Já o piloto Ben Grimm foi transformado em um monstro rochoso. Ao tentar compreender seus poderes, eles têm que lidar com novas ameaças. Com Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Ebon Moss-Bachrach e Joseph Quinn no elenco.

SERVIÇO

Encontro do Clube de Leitura Pássaro-Poesia.
Livro: “Ninguém Quis Ver”, de Bruna Mitrano.
Onde: Hámor Livraria – Rua Amazonas, nº 1.080.
Data: amanhã , às 10h.

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ENTREVISTA COM BIANCA

"A fauna pantaneira é a base musical das nove composições de 'Pantanal Jam'"

Cantora Bianca Bacha, da Urbem, fala como a paisagem natural de Miranda afetou o processo de criação e gravação do segundo álbum da banda, sobre a diferença entre o canto com letra e as vocalizações que são a sua marca e anuncia projetos nos EUA e Espanha

15/12/2025 11h00

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano Divulgação / Alexis Prappas

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ENTREVISTA COM BIANCA

Recuperando para o leitor: como se deu a oportunidade do encontro e da parceria com o Ryan para o projeto do álbum “Pantanal Jam”?

Conhecemos Ryan Keberle no Campo Grande Jazz Festival [em março de 2024] e com ele tivemos uma troca musical instantânea. Tocamos juntos em um show no Sesc [Teatro Prosa] em setembro de 2024 e, a partir de lá, tivemos a certeza de que ainda faríamos muita música juntos.

No Pantanal, onde Ryan esteve pela primeira vez durante as gravações, ficou nítido que ele conseguiu transpassar para o repertório o encantamento que ele estava vivendo em meio a toda aquela natureza.

É o segundo disco, nove anos depois de “Living Room”. O que “Pantanal Jam” representa para a Urbem?

Este projeto é o nosso território sonoro: onde a música que criamos se entrelaça à natureza que nos guia em forma de jam. Na música, uma jam significa um encontro musical sem aviso prévio, as coisas vão acontecer ali na hora, portanto, o inesperado é bem-vindo e, com ele, você improvisa.

Qual seria o conceito geral do álbum?

O conceito do álbum nasce da escuta profunda da fauna pantaneira. Os cantos dos pássaros, o esturro da onça e os sons das águas e dos ventos não são efeitos nem pano de fundo: são a base musical das nove composições. A natureza atua como um músico a mais na banda de jazz, dialogando conosco em frases de pergunta e resposta.

Sandro Moreno registrou esses sons in loco, mergulhando no Pantanal para captá-los com precisão. Depois, analisou esse vasto material para identificar melodias, ritmos e motivos que se tornariam a essência das composições.

E, para fechar o ciclo, o álbum também foi gravado no coração do Pantanal. Com geradores a gasolina e um estúdio móvel, nós, a Urbem e o trombonista Ryan Keberle, levamos a música para o ambiente que a inspirou. E ali criamos, novamente in loco, em plena natureza selvagem.

Que tipo de referências buscaram para os arranjos, as sonoridades e as texturas?

Toda a referência e textura do álbum “Pantanal Jam” nascem dos próprios sons do Pantanal. A imersão no território e a escuta atenta transformaram cantos de pássaros, esturros, movimentos da água e vozes da mata em matéria-prima musical.

Cada faixa traduz essa convivência direta com a fauna e seus ritmos naturais, convertendo sons de bichos em música. Viva, orgânica e profundamente enraizada na paisagem pantaneira.

Isso está bastante perceptível. Os sons e toda a atmosfera do Pantanal atravessam o mood e talvez a própria concepção dos temas. Pode comentar um pouco mais sobre essa presença de elementos da natureza – e dessa natureza tão singular de MS – na criação de vocês?

A fauna, a luz, o silêncio amplo, os ventos, os cantos e até os vazios típicos da paisagem pantaneira influenciam diretamente a forma como criamos. É como se o ambiente nos orientasse musicalmente: às vezes guiando uma melodia, às vezes sugerindo um pulso, às vezes impondo uma pausa.

Esse encontro com a natureza não é decorativo, é estrutural. Ela atravessa tudo, o gesto musical, o espírito do disco e a maneira como a banda se relaciona com o som.

No “Pantanal Jam”, a paisagem não é cenário: é presença, é voz, é parceria criativa. É música.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Onde exatamente estiveram e gravaram? E quando foi?

As gravações foram feitas na Fazenda Caiman, em junho deste ano, num cenário que não poderia ser mais inspirador. Foram escolhidas pela produtora três locações diferentes, e para cada uma delas, três músicas.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Com uma equipe ultraprofissional que trouxe segurança e leveza para uma gravação ao vivo numa condição completamente inusitada.

E quanto ao repertório? Como chegaram às nove canções do disco?

Entre as composições, temos duas músicas do Paulo Calasans [“Swingue Verdejante” e “Suspiro da Terra”], um dos maiores produtores, arranjadores e instrumentistas do País, além de duas canções do Ryan Keberle junto com Sandro Moreno [“Paisagem Invertida” e “Entre Folhas”] e cinco composições nossas [“Espiral”, “Pluma”, “Voo Curvo”, “Barro” e “Canção do Ninho”].

Penso que o Pantanal é experimentado de um jeito bem particular por cada pessoa. Como é para você? Como aquele ambiente lhe toca e eventualmente interfere no seu jeito de cantar?

Tudo ali era extremamente inspirador. Dormir e acordar naquele lugar por alguns dias já me fazia até respirar de jeito diferente, com menos pressão e mais imersão.

Isso com certeza influenciou no jeito de cantar. Porém, o mais impressionante era saber que estava gravando um disco com toda aquela fauna ao redor, um jacaré no lago ao lado e uma onça a alguns quilômetros.

Embora domine há duas décadas o canto com letra e muitas vezes cante dessa forma em apresentações ao vivo, na Urbem, você investe sempre nos vocalizes e scats.

Todas as músicas do álbum “Pantanal Jam” usam a voz como instrumento, ou seja, não há letras nas músicas. Além de ser uma característica jazzística, esse estilo de canto se aproxima mais do cantar dos pássaros, a busca por seus fonemas e emissões.

Cada música exige uma altura e um escolher apropriado de sílabas que encaixem com a afinação e a expressão.

Adoro o canto com letras. Ali você tem palavras, interpreta, coloca ênfases. É até uma emissão de voz diferente. Só que comecei a me encantar com o mundo do jazz e toda essa coisa do canto que não usa palavras, o vocalize. E comecei a ouvir cantoras que cantam assim.

Tatiana Parra [cantora, compositora e professora paulistana] canta assim, nossa, de um jeito maravilhoso. A [portuguesa] Sara Serpa também. Tem também as divas mais antigas que faziam mais questão de improviso, o scat singing.

O canto sem palavra é muito desafiador porque ele é mais cru, mostra mais imperfeições de respiração, de emissão, de escolha de sílabas. E é muito improvisado. Porque a cada dia você pode usar uma sílaba diferente, pode caracterizar de uma outra forma.

Num dia vou fazer “u”, no outro dia posso fazer “a”, no outro posso fazer “e”. E você tem que descobrir ali, numa forma você com o seu corpo. E além de ter o desafio de você demonstrar o interpretar com emoção sem ter palavras.

Então é muito jazz [risos]. E acho muito bonito. Sempre vai ser um desafio. Sou com o meu corpo, com as palavras que eu escolho, que nem sempre são pensadas.

Claro que tem uma questão técnica de que o “i” você vai mais para um agudo, no “u” também; nos graves, você vai para outras escolhas, as consoantes também interferem. Gosto muito de passear pelas duas áreas. Tanto a área da interpretação com letra quanto a área dos vocalizes e texturas.

E Nova York? Pode contar um pouco sobre a recente temporada de vocês por lá?

O “Pantanal Jam” foi lançado em novembro deste ano com um show memorável em Nova York, durante a feira internacional de turismo Visit Brazil Gallery [na Detour Gallery], e a recepção foi extraordinária.

Pessoas do mundo inteiro, agentes de turismo, diretores da National Geographic, fotógrafos de natureza e profissionais de diversas áreas assistiram ao show com atenção absoluta.

Desde a primeira música, compreenderam nossa proposta e permaneceram maravilhados até o fim. Foi um momento histórico para Mato Grosso do Sul e para a arte sul-mato-grossense.

Esse resultado só foi possível graças ao apoio total da Fundtur e do seu diretor-presidente, Bruno Wendling, que acreditou no projeto desde o início e se comprometeu a nos apoiar tanto nas etapas de captação no Pantanal quanto no lançamento em Nova York. Além disso, segue impulsionando a campanha contínua de apresentar o “Pantanal Jam” ao mundo.

E faz sentido: ouvir o Pantanal desperta o desejo de visitá-lo, conhecê-lo e preservá-lo. O projeto reúne arte, natureza, conservação, turismo e toda a beleza única do nosso bioma, uma combinação que emociona e conecta o público global ao coração do Pantanal.

Além do álbum que já está lançado em todas as plataformas, temos uma série de vídeos das nove músicas e um minidocumentário.

Quando teremos shows da Urbem? Quais os próximos passos e projetos da banda?

A Urbem se sente profundamente entusiasmada em seguir os passos de Manoel de Barros, da família Espíndola, de Guilherme Rondon, Paulo Simões, Grupo Acaba, Geraldo Roca e tantos artistas que sempre beberam dessa fonte primária que é o Pantanal, transformando-a em arte para o mundo.

Recentemente, pesquisadores de Harvard e professores da UFMS colheram sons do Pantanal [pelo projeto Pantanal Sounds, que conta, entre outros, com nomes como o do violoncelista e professor William Teixeira], e esse movimento nos inspirou a ir a campo gravar os sons pantaneiros e a fazer composições dentro da nossa linguagem jazzística, incorporando esses registros naturais ao nosso modo de compor e evidenciando em música as belezas pantaneiras.

Temos planos de retornar aos Estados Unidos em breve e estamos em diálogo com a Embaixada do Brasil em Barcelona, onde palestraremos em março.

Além disso, a Urbem participará do Campo Grande Jazz Festival de Rua, no dia 21 de dezembro [neste domingo], em uma jam session com músicos locais e de São Paulo.

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MÚSICA

Entre onças e tuiuiús, o jazz

Em parceria com o trombonista Ryan Keberle, com nove composições inspiradas na exuberância do Pantanal, URBEM lança segundo álbum; 2º Campo Grande Jazz Festival celebra o gênero na Capital, com apresentações gratuitas

15/12/2025 10h00

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno Divulgação / Alexis Prappas

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Sem dar muitos detalhes, o baterista Sandro Moreno, quando conversou comigo, em junho, sobre o álbum que a Urbem gravaria com Ryan Keberle, adiantou que o projeto seria “algo muito especial”.

Após o show – memorável, diga-se – que fizeram juntos no Teatro do Mundo, o quarteto campo-grandense – além de Sandro, Bianca Bacha (vocais), Ana Ferreira (piano), Gabriel Basso (contrabaixo) – e o trombonista norte-americano foram para a zona rural de Miranda e se instalaram na Fazenda Caiman.

Foi lá que a magia aconteceu. Na estrada desde 2013 e com apenas um álbum lançado até então, “Living Room” (2016), a banda disponibilizou “Pantanal Jam” no Spotify no dia 29 de outubro, três dias antes do show que realizaria em Nova York, em um evento na Detour Gallery que uniu arte, gastronomia e turismo para promover o Pantanal.

São nove faixas criadas e gravadas com extremo apuro e sensibilidade, que alcançam os músicos da Urbem e Ryan num ponto bem elevado de suas capacidades.

Os temas soam como se os cinco artistas tivessem se deixado abraçar pela contagiante pregnância da natureza de Miranda, e Bianca Bacha confirma isso em entrevista exclusiva.

Melodias, pulsações e andamentos foram se definindo conforme eles mergulhavam em tudo que viam, ouviam e sentiam por ali: ventos, o canto das aves, “o esturro da onça”, como Bianca relata. Ouvindo os sons naturais, captados previamente por Sandro, que assina a produção musical do projeto, cada um estabeleceu sua conversa criativa com o Pantanal.

O registro dos sons naturais – de aves, por exemplo — introduz, se mescla ou faz a ponte para uma execução instrumental (voz inclusa) coesa e deveras inspirada, que não força a barra para sorver e devolver, em forma de música, a fartura que o habitat de Miranda oferece.

“Suspiro da Terra”, doce e pulsante, e “Paisagem Invertida”, essa mais selvagem e misteriosa, são uma prova disso.

Ryan pontua, preenche ou arremata sempre com uma precisão e desprendimento envolventes. Ana, como se ouve em “Espiral”, migra da base para os solos numa transparência que comove. Gabriel – em “Canção do Ninho”, por exemplo, que começa e segue na cama dos gomos que vai colhendo ao longo do tema – parece deter a justa medida para o desempenho de seu baixo.

"Foi uma grande honra participar da criação do ‘Pantanal Jam’. Os sons da Pantanal, do modo como Sandro captou, tiveram um papel direto no processo de composição das duas músicas que fiz para o álbum.

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro MorenoRyan Keberle, trombonista - Foto: Divulgação / Alexis Prappas

O tom e os ritmos dos sons naturais do Pantanal, inspirados por ideias musicais e paisagens sonoras próprias, criaram um clima que eu tentei capturar nas minhas composições. Quando nós gravamos, literalmente no meio de um dos lugares mais selvagens e remotos do mundo, a beleza e a energia natural nos inspirou a ouvir a natureza e um ao outro mais profundamente, o que resultou numa performance musical que demonstra uma profunda comunicação musical.

Adoro os músicos e a música da Urbem. E, desde que tocamos juntos em diversas ocasiões anteriores, eu compus as minhas músicas especificamente com o talento e a habilidade musical especial deles em mente” - Ryan Keberle, trombonista.

Sandro é um laboratório inquieto, dos pedais aos pratos de condução. E Bianca conduz os vocais numa têmpera e numa fruição que se articula como síntese do conjunto.

Comparações e referências são uma tentação no mundo do jazz. Mas a qualquer palpite sobre “Pantanal Jam”, é melhor calar e ouvir. É um álbum estimulante para esse silêncio de dentro, que nos faculta as melhores emoções da escuta e da experiência musical.

Brazilian jazz? Jazz? Ouça. Música apenas. E quanta música! Embrenhada e revelada nos refúgios de um lugar mágico, onde a natureza se recobra e o espírito se fortalece.

A Urbem lança “Pantanal Jam” hoje, às 18h, no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo. Apareça.

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