Por Denise Neves – Colaboradora direto do RJ
Edição Flavia Viana
Adriano Tunes, 36, é o retrato de tantas histórias vividas por atores brasileiros que se dedicam ao árduo trabalho de seguir carreira artística no Brasil: uma pessoa cheia de sonhos que sai da sua cidade no interior (Porto Ferreira/SP) para tentar carreira na maior capital do país (São Paulo/SP) e conquista oportunidades enriquecedoras ao longo de uma trajetória cheia de desafios.
É assim que começa a narrativa do ator que vem trilhando a sua carreira nos palcos do teatro.
Inspirado pelo seu irmão mais velho, Alexandre Araújo, que era um cantor conhecido no município de Porto Ferreira,Tunes teve seu primeiro contato com a arte através da música.
Ainda na adolescência, formou uma dupla musical com o irmão e passou a fazer shows pela cidade com um repertório que variava de MPB a sucessos internacionais.
Com o passar dos anos, a música foi abrindo os caminhos para Adriano Tunes se descobrir artisticamente até identificar que dentro de si havia um propósito que se tornou o maior da sua carreira profissional: viver da atuação.
Com esse objetivo, o ator foi para São Paulo aos 19 anos de idade, na esperança de apostar nesse sonho incentivado por sua tia-vó, Antônia Tunes — que intitula o nome artístico do ator.
O “Tunes”, segundo o artista, é uma homenagem a uma das pessoas que mais acreditam no seu trabalho.
A mudança para a capital paulista uniu as duas faces artísticas de Adriano Tunes em uma só, fazendo com que ele atuasse e cantasse em peças musicais como:
“Alice, O Musical” interpretando figuras como o Chapeleiro e a Rainha de Copas, em “Mamonas Assassinas” na pele do tecladista Júlio Rasec, e em “Hebe, O Musical” vivendo Mazzaropi e Marcello Camargo.
Em seu trabalho mais recente, o musical “Silvio Santos Vem Aí”, ele interpretou diferentes personagens, dentre eles, a Velha Surda e o cantor Nahin.
O espetáculo saiu de cartaz em novembro com retorno programado para janeiro do ano que vem, no Teatro Raul Cortez, em São Paulo.
Foi através dos musicais que Adriano Tunes conheceu uma das suas maiores referências na arte, Miguel Falabella, com quem fez o seu primeiro trabalho em “Os Produtores” seguido da ópera “Viúva Alegre”.
Depois, Tunes também colaborou com Falabella no sitcom “Eu, a Vó e a Boi”, no qual interpretou uma travesti chamada Sapore.
O talento multifacetado de Adriano Tunes reconhecido pelo diretor rendeu a ele o convite para ser dublador de Felizardo Pharmaco, personagem protagonista da série on-line “Família Pharmaco” de Miguel Falabella.
O seriado está disponível no YouTube e fala sobre uma família que vivencia histórias divertidas com temas voltados para saúde e bem-estar.
Recentemente, Adriano encerrou o espetáculo “Aos Domingos” escrito por ele.
Curiosamente, a peça nunca foi apresentada aos domingos, mas a história acontece aos domingos com um casal de idosos, a Dona Evangelina, interpretada pelo próprio Adriano Tunes, e o Sr. Petrônio, vivido por Emerson Grotti.
Dona Evangelina tem Alzheimer e o enredo da peça envolve desembaraços emocionais aos mais diversos tipos de relacionamentos.
De forma intimista, “Aos Domingos” possui limitação de público para até 30 pessoas, justamente por ter a proposta de proporcionar um maior contato entre a mensagem de reflexão da história junto aos espectadores.
Com as raízes plantadas nos palcos que geraram frutos a sua carreira no audiovisual, Adriano Tunes espera transformar os espaços até aqui conquistados em realizações ainda maiores em 2022.
Ao menos foi isso que ele nos contou durante uma entrevista exclusiva cedida ao Correio B+ dessa semana.
Leia a entrevista completa:
CE: O que o teatro representa para você?
AT: “O teatro é a minha vida. Ele é a minha profissão, mas é uma profissão que mistura tanto com a nossa vida pessoal, eu já não sei mais separar o que que é pessoal e o que que é profissional. Eu não sei viver sem o teatro. Não consigo mais me imaginar em outra profissão. O teatro é a minha vida por completo.”
CE: No “Silvio Santos Vem Aí” você interpreta diversos personagens, como a Velha Surda e o cantor Nahin. Como é para você essa dinâmica de assumir diferentes papéis em uma mesma peça? Há alguma dificuldade?
AT: “Eu gosto dessa brincadeira de poder fazer vários personagens no mesmo espetáculo. É uma oportunidade que eu tenho de demonstrar versatilidade. É muito divertido, principalmente quando eu consigo conquistar o público no sentido de ninguém saber que sou eu ali naqueles personagens diferentes. Quando eu saio, a pessoa vem me cumprimentar e eu digo que sou eu e a pessoa se surpreende, para mim, é um dos melhores elogios.”
CE: Você já interpretou também personagens biográficos, como o tecladista, Júlio Rasec, por exemplo. Como foi incorporar uma personalidade já conhecida pelo público?
AT: “Interpretar o Júlio Rasec foi um super presente, porque era um desejo que eu tinha como ator, eu queria passar por essa experiência de alguém que já existiu, para entender como que chega nesse lugar. Eu sou muito fã dos Mamonas, eu era muito fã do próprio Júlio mesmo, eu lembro que eu imitava ele quando eu era criança. Então, foi uma grande realização.”
CE: Ao comparar a forma de interpretar um personagem desconhecido e uma figura já conhecida pelo público, você acha que existe alguma espécie de “limitação criativa” durante a atuação?
AT: “Acredito que há uma dificuldade referente à expectativa. Quando você vai interpretar alguém que já existiu, naturalmente, as pessoas criam uma expectativa de que você vai entregar aquele personagem para elas. E há a limitação, sim, justamente porque você precisa ser fiel àquilo.”
CE: Entre os personagens que você já fez, há a Sapore, uma travesti que incorpora o elenco de “Eu, a Vó e a Boi”, de Miguel Falabella. Como foi essa experiência?
AT: “Foi a coisa mais difícil do mundo (risos). Foi o meu primeiro contato com o trabalho audiovisual, e de cara trabalhar com pessoas como Vera Holtz e Arlete Salles é uma baita ‘responsa’. Eu costumo dizer que o Miguel Falabella é um padrinho, e eu tinha uma expectativa de ter que honrar o presente que ele me deu com esse personagem. E por se tratar de uma travesti, eu que sou um defensor das bandeiras das minorias, eu tinha muito cuidado também em interpretar esse personagem sem magoar alguém, de entender, de não falar besteira, de não levar para o lado da chacota etc. Então foi bem difícil.”
CE: Com quem você gostaria de trabalhar algum dia?
AT: “Com tanta gente. Mas, para dizer um nome, uma atriz seria a Marjorie Estiano e um ator, o Alexandre Nero.”
CE: E o que que o Adriano Tunes espera para 2022?
AT: “Primeiro, que a gente se livre de todos os males: os virais, de gente ruim... De tudo o que for de ruim, eu espero que a gente se livre em 2022. Eu espero que todo mundo sobreviva a tudo isso que está acontecendo e se recupere. As pessoas de baixa renda estão sofrendo demais, a fome voltou de uma maneira avassaladora por conta dessa pandemia... Então, pensando no todo, como ‘Adriano cidadão’, eu espero que o mundo melhore para todo mundo. Agora, como ‘Adriano artista’, eu espero conquistar novos espaços. Tenho muita vontade de ir para outros caminhos além do teatro.”


Foto: Divulgação / Alexis Prappas
Foto: Divulgação / Alexis Prappas
Ryan Keberle, trombonista - Foto: Divulgação / Alexis Prappas


