Durante a vigência da República Velha brasileira, no período de 1889 a 1930, costuma-se dizer que “São Paulo dá café, Minas dá leite”, em referência à chamada Política do Café com Leite, acordo firmado entre as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais para beneficiar os polos produtores e a economia de cada estado.
Se tal acordo fosse firmado em tempos atuais, a frase precisaria espichar. Além dos já famosos e patenteados queijos, as uvas e os vinhos mineiros estão fazendo bonito e acabam de receber um importante incentivo.
É que a produção de vinhos de inverno do sul de Minas Gerais conquistou reconhecimento do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) como indicação de procedência (IP).
Isso significa que a região tem reputação e tradição como produtora da bebida, exclusivamente elaborada com o cultivo com uvas brancas e tintas do tipo Vitis vinifera L. autorizadas. A certificação foi anunciada na terça-feira.
Com esse registro, o País alcança 129 indicações geográficas (IGs) chanceladas pelo Inpi aos produtores e prestadores de serviços de determinadas áreas geograficamente delimitadas. No caso do vinho nacional, é o 13º registro.
O produto, vinho de inverno, é assim considerado para a produção de uvas conduzidas em regime de dupla poda, em ciclo invertido, para colheita no período de inverno, compreendida entre os dias 1º de junho e 21 de setembro, em condições climáticas específicas.
A IG Sul de Minas, como é chamada, restringe-se às áreas dos municípios de São João da Mata, Cordislândia, São Gonçalo do Sapucaí, Três Corações, Três Pontas, Campos Gerais, Boa Esperança, Bom Sucesso, Ibituruna e Ijaci. O registro contempla, portanto, os vinhos produzidos em um território descontínuo de 4.239,6 quilômetros quadrados, com altitude mínima de 800 metros.
Com invernos secos e ensolarados e altitudes favoráveis, aliados à técnica adequada, a região tem uma produção de vinhos de excelência, já premiados nacional e internacionalmente. A IG certifica a qualidade e garante que, ao chegar na mesa do consumidor, aquele estilo de vinho tão apreciado seja respeitado do momento da produção até a taça do consumidor final.
SINAL VERDE
Entre as variedades autorizadas para a produção de vinhos tintos e rosés estão syrah, merlot, cabernet franc, cabernet sauvignon, marselan, tempranillo, petit verdot, pinot noir e grenache. Já para os brancos podem ser utilizadas as cepas sauvignon blanc, viognier, marsanne e chardonnay.
Outras variedades podem ser aprovadas pelo conselho regulador (da entidade representativa da região produtora), desde que comprovadamente contribuam para a qualidade da vitivinicultura na região.
Para a coordenadora de Tecnologias Portadoras de Futuro do Sebrae, Hulda Giesbrecht, o reconhecimento como IG impulsiona o desenvolvimento socioeconômico dessas regiões.
“Os pequenos produtores se tornam mais competitivos no mercado, e a região, com sua produção controlada, ganha uma proteção legal contra falsificações e uso indevido dos nomes reconhecidos”, ressalta Giesbrecht.
O TERROIR
Apenas duas regiões de vinhos brasileiros têm indicação geográfica na modalidade senominação de origem: Vale dos Vinhedos (RS) e Altos de Pinto Bandeira (RS). Nesses casos, além da fama da região, o registro exige que as características do vinho sejam diretamente influenciadas pelo terroir.
Essa expressão define o conjunto de fatores naturais e humanos que controlam a cultura da vinha e a produção do vinho. Ou seja, tanto o solo, o clima e os aspectos do terreno – como altitude e inclinação – quanto as práticas de cultivo que tornam cada vinhedo único, a exemplo das técnicas da vinícola e de como são aplicadas no manejo direto.
Além do Vale dos Vinhedos e dos Altos de Pinto Bandeira, no Rio Grande do Sul, as outras regiões são qualificadas como indicação de procedência. Confira a lista completa: Pinto Bandeira (RS); Vale do São Francisco (PE/BA); Vale dos Vinhedos (RS); Altos Montes (RS); Monte Belo (RS); Farroupilha (RS); Campanha Gaúcha (RS); Vales da Uva Goethe (SC); Vinhos de Altitude de Santa Catarina (SC); Vinhos de Bituruna (PR); e Sul de Minas (MG)
VINHO NO PRATO
A receita de frango ao vinho tinto que o Correio B sugere para este fim de semana é uma recomendação do enólogo, sommelier e embaixador da Famiglia Valduga Lucas Simões. Trata-se de uma variação do coq au vin, um clássico da cozinha francesa, que surgiu na região da cidade de Clermont-Ferrand (Puy-de-Dôme). A história diz que o prato surgiu da rendição do exército de Júlio César, que recebeu um galo de briga. A ação resultou em um jantar no qual o cardápio foi galo cozido no vinho.
Tradicionalmente, o prato era feito com galos reprodutores abatidos velhos. Por isso, o vinho era usado para amaciar a carne dura do animal. Atualmente, a receita é preparada com frango ou galinha e vinho da Borgonha, mas você pode adaptá-la com outro vinho.
Como sugestão de acompanhamento, Simões indica legumes assados ou fettuccine na manteiga. Agora, pendure o avental, mãos à obra e bom apetite.
FRANGO AO VINHO TINTO
Ingredientes
Para a marinada
- 1 kg de coxa e sobrecoxa de frango;
- 1 cebola picada;
- 2 cenouras picadas;
- Ervas frescas (tomilho, louro);
- 3 dentes de alho picados;
- 1 garrafa de vinho tinto;
- Sal e pimenta-do-reino a gosto.
Para o frango
- 50 ml de azeite;
- 1 colher (sopa) de manteiga;
- 1 colher (sopa) de farinha de trigo;
- 1 ramo de cebolinha;
- 150 g de cogumelo em conserva;
- Sal e pimenta-do-reino a gosto.
Modo de preparo
Para a marinada
Coloque em um saco plástico a cebola, as cenouras, as ervas, os dentes de alho, o vinho, o sal e a pimenta.
Acrescente as coxas e sobrecoxas de frango.
Feche o saco e deixe apurar na geladeira por 24 horas.
Para o prato
Retire o frango do saco plástico. Coe e reserve o caldo da marinada.
Em uma panela, aqueça o azeite e doure o frango.
Junte o caldo e cozinhe, em fogo médio, por 40 minutos ou até as coxas e sobrecoxas ficarem macias.
Em uma frigideira, derreta a manteiga e acrescente a farinha de trigo.
Mexa bem, em fogo baixo, e incorpore a mistura à panela de cozimento do frango.
Junte a cebolinha e o cogumelo em conserva.
Finalize com sal e pimenta a gosto.
*Durante a preparação, é importante deixar o vinho evaporar para que o prato não fique exageradamente ácido. Para isso, faça o cozimento com a panela semitampada. Quando a refeição estiver pronta, o frango terá uma cor linda, deixando o prato ainda mais apetitoso.

Estener Ananias de Carvalho e Renata dos Santos Araújo de Carvalho
Anderson Varejão, Luiz Fruet e Aylton Tesch


