Falta de gestão e abandono de obras por toda a cidade, no âmbito municipal, e indefinição de políticas públicas nas esferas estadual e federal têm diminuído o otimismo empresarial. É o que aponta levantamento da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG) realizado neste mês.
Em números, os resultados mostram que cerca de 58% dos empresários de Campo Grande preveem o crescimento de suas empresas neste ano. Apesar de ainda serem maioria, ano passado esse patamar chegou a 77%. Em termos práticos, isso significa que o otimismo recuou 19 pontos porcentuais.
Para o vice-presidente da ACICG, Omar Aukar, na medida em que as políticas vão se esclarecendo, esses números vão se modificando.
“Em nível nacional, tivemos uma mudança grande de natureza ideológica. Isso é um fator que pesa, porque houve muitas oscilações no mercado financeiro. A partir do momento que as indefinições cessarem, os empresários deixarão de ficar com o pé atrás”, analisa.
De acordo com o estudo da ACICG, 31% dos empresários acreditam que haverá estagnação, e quase 11% esperam por queda no volume de negócios de sua empresa.
Segundo Aukar, as informações foram extraídas de um questionário intitulado “Desempenho 2022 e Perspectivas para 2023”, que a entidade realizou com mais de 100 empresas, entre os dias 8 e 20 de janeiro, em Campo Grande. Na ocasião, a ACICG também questionou se os empresários esperam ampliar o quadro de colaboradores em 2023.
Os resultados mostraram que quase 70% indicaram que não aumentarão suas equipes de colaboradores. No entanto, 30% dos empresários responderam que pretendem ampliar o time de funcionários, e 20% desses disseram que contratarão até três colaboradores.
POLITIZAÇÃO
Em nível nacional, uma questão que pesou para a ACICG foi a politização de ministérios. Entretanto, Omar Aukar deixa claro que, a partir do momento que os resultados começarem a aparecer, dúvidas e desconfianças vão se dissipar.
Além do próprio negócio, os empresários foram indagados sobre a perspectiva da economia brasileira. Nesse caso, 45% deles sinalizaram que esperam que a economia esteja melhor neste ano. Para cerca de 30%, a expectativa é de piora do cenário, e 25% acreditam que o panorama será igual ao do ano passado.
Já em relação aos impactos do cenário econômico em 2023, os empresários destacaram a política tributária do País, a alta dos juros e o aumento de gastos com a máquina pública – municipal, estadual e federal – como os principais fatores que devem influenciar negativamente.
“Os empresários também pontuaram que a economia pode ser impactada pelo aumento da corrupção, pela recessão econômica internacional e pela restrição da liberdade”, revela o presidente da ACICG, Renato Paniago.
Omar Aukar acrescenta que, no caso das obras públicas, as equipes da administração pública têm de ser competentes para dar credibilidade às políticas em todas as esferas de poder.
Na avaliação de Aukar, os indicativos econômicos apontam um crescimento de apenas 1,5% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, contra 4% no ano passado. A pesquisa da ACICG perguntou aos empresários como foi o desempenho de seus negócios no ano passado. A maioria, representada por cerca de 40%, respondeu que se manteve igual ao de 2021.
Outros 33% sinalizaram que houve crescimento. O maior porcentual desse grupo, cerca de 47%, indicou que o desempenho de sua empresa foi até 5% maior em 2022, e 37% responderam que seus negócios cresceram até 10%. Outros 16% sinalizaram alta de 20% nos resultados.
O levantamento também constatou que 27% dos empresários tiveram desempenho menor em 2022, quando comparado ao de 2021. Quase 40% desse grupo afirmou que a queda foi superior a 20%.
Responderam o questionário empresas dos setores alimentício, de vestuário, de acessórios, de serviços, moveleiro, de comércio de eletrônicos, entre outros, a maior parte localizada no centro de Campo Grande.
“Os governos, de uma maneira geral, precisam se planejar melhor. Uma loja de roupas, para vender no verão, em janeiro deste ano, teve de comprar em maio do ano passado. O outono começa em março, e as compras foram feitas em novembro. O empresário quer contratar, mas os governantes precisam planejar”, comenta Aukar.
PROBLEMAS
O abandono de Campo Grande tem sido mostrado em série de reportagens do Correio do Estado. Obras inacabadas, ruas cheias de buracos e diversos outros problemas de ordem fiscal foram apontados nas matérias.
Conforme publicado na edição de 27 de dezembro de 2022 do Correio do Estado, quem passa com atenção pelas principais ruas de comércio do centro de Campo Grande se depara com, pelo menos, 52 estabelecimentos fechados e com placas de aluga-se.
O vívido centro de anos atrás está com baixo fluxo de consumidores em dias normais, com quadras com dois a três comércios fechados. A realidade é que o Projeto Reviva Centro, que tinha por intenção melhorar a estética das lojas e, assim, tornar o local mais atrativo, ainda não cumpriu seu objetivo.
Um dos principais motivos para esse cenário de debandada dos comerciantes, segundo lojistas que trabalham há anos no local, são os preços dos aluguéis dos estabelecimentos. Outro problema também citado por empresários é a falta de estacionamento na região central da Capital.
Gerente de uma loja de roupas, Wesley Araujo acredita que a pandemia e as reformas no centro causaram o fechamento de lojas. “Essas reformas e a pandemia atrapalharam o movimento no centro e desmotivaram as pessoas a virem para cá”, resume.
Para a loja se manter durante a pandemia, foi necessário investir nas redes sociais, vendendo os produtos on-line.
“O nosso público é maior nas redes sociais que na rua, 70% das vendas são on-line. Se fossemos depender só dos clientes presenciais, já não estávamos mais aqui”, declara Wesley.
Outra reportagem publicada nesta semana aponta o abandono de 23 obras de infraestrutura e de lazer, o que desestimula o investimento do empresariado em melhorias.
O empresário Omar Aukar diz, ainda, que o centro de Campo Grande passou por um longo período com obras estruturantes que atrasaram muito.
Além disso, a chegada da pandemia determinou o fechamento de portas de um significativo número de empresas. “Houve perdas com a pandemia, mas agora é necessário virar essa página e iniciar uma recuperação”, completa.





