Comunicado da Petrobras anunciou que as negociações para a venda da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3) e da Araucária Nitrogenados S.A. (Ansa) para a russa Acron terminaram sem o fechamento do negócio. Os motivos não foram informados, mas o desfecho frustrante para as autoridades de Mato Grosso do Sul ocorre semanas depois da crise boliviana que culminou na queda do ex-presidente Evo Morales. O negócio envolvendo a venda das duas unidades era de R$ 8,2 bilhões no ano passado, mas poderia ser ainda maior, pois era cotado em dólar.
Além de ser fornecedora oficial do gás natural – a matéria prima para o funcionamento da fábrica –, a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) era sócia com 12% do negócio, com opção de ampliar a participação para 30%. O prefeito de Três Lagoas, Ângelo Guerreiro, acredita que a Petrobras buscará um novo comprador. Neste ano, Morales foi a Moscou e lá anunciou a parceria com a Acron, junto do presidente da Rússia, Vladimir Putin.
As obras na UFN3 foram interrompidas em dezembro de 2014, com 83% já concluídas, por ilegalidades apontadas pela Operação Lava Jato. A concretização da compra das ações pelos russos deveria retomar as obras do empreendimento, na zona rural de Três Lagoas, no começo de 2020. Conforme o cronograma divulgado pelo governo do Estado, a finalização das tratativas deveria ter sido concluída em agosto, posteriormente em outubro e findou com o anúncio da Petrobras na manhã desta terça-feira (26).
A Acron já havia negociado a compra de 2,2 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia da empresa pública boliviana por um período de 20 anos, válido a partir de 2023. Com a saída do presidente boliviano, o acordo foi desfeito e sem o fornecimento da matéria-prima, a empresa russa pediu novo prazo ao Brasil, conforme informou o governador Reinaldo Azambuja.
Em comunicado, a Petrobras informou que permanece com seu posicionamento estratégico de sair integralmente dos negócios de fertilizantes, visando à otimização do portfólio e à melhora de alocação do capital da companhia. Questionada sobre o motivo da não assinatura dos contratos, a Petrobras informou ao Correio do Estado que “segue analisando internamente todas as possibilidades de negócio que envolvam a Ansa e o projeto da UFN3”.
ESPERANÇA
Mesmo após o anúncio do fim das tratativas, o governador Reinaldo Azambuja disse que a Acron ainda não desistiu de comprar a unidade. “Eles não desistiram da compra, entregaram uma carta à Petrobras pedindo um prazo até março do ano que vem, em razão da questão da compra direta de gás [da Bolívia]. Eles procuraram a Companhia de Gás do Estado de Mato Grosso do Sul (MSGás) para intermediar uma negociação, mas isso não depende do governo do Estado, quem tem que aceitar é a Petrobras”.
Segundo o prefeito de Três Lagoas, Angelo Guerreiro, somente o recomeço das obras da fábrica iria envolver 5 mil trabalhadores. “Com a crise boliviana já tínhamos uma posição negativa, estávamos aguardando que algo acontecesse. É uma pena, porque a Acron havia dito que em março começariam as movimentações na UFN3. Somente para o término das obras, seriam contratadas 5 mil pessoas, após a conclusão seriam contratados de 500 a 800 colaboradores diretos”.
Guerreiro ainda reforçou que a sensação é de que precisarão recomeçar as tratativas do zero. “Foram cerca de 24 meses de negociações entre Acron e Petrobras, acompanhamos passo a passo essas reuniões. Tudo que foi solicitado à prefeitura e ao governo nós atendemos”, disse. “É um retrocesso, teremos que começar tudo de novo. Agora é aguardar os próximos meses. Como os presidentes da Rússia e da Bolívia eram muito próximos e com a saída do Evo Morales não sei como ficam as trativas deles. Pode ser que eles estejam postergando para ver como será comprado o gás. De repente a Acron possa rever a decisão”, afirmou o prefeito.
*Colaborou Bruna Aquino