A percepção do campo-grandense em relação à economia é marcada pelo pessimismo. Pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Resultado (IPR), em parceria com o Correio do Estado, revela que a maioria da população de Campo Grande acredita que sua situação financeira pessoal deve piorar nos próximos 12 meses.
Além disso, os entrevistados identificam que as tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos são vistas como fator que pode comprometer diretamente o desempenho da economia brasileira.
O levantamento, feito entre 15 e 18 de agosto de 2025, ouviu 553 moradores da capital sul-mato-grossense com 16 anos ou mais. O estudo tem margem de erro de 4,5 pontos porcentuais e intervalo de confiança de 95%.
De acordo com os dados, a maioria dos campo-grandenses (56,9%) acredita que sua situação financeira vai piorar ao longo do próximo ano. Outros 26,4% apostam em estabilidade e apenas 8,3% esperam melhora. O restante não soube ou preferiu não responder.
Esse quadro revela uma baixa confiança do consumidor, que deve se traduzir em redução do consumo das famílias. Em Campo Grande, onde o setor de comércio e serviços responde por boa parte do PIB municipal, a retração das expectativas indica um cenário desafiador para lojistas, prestadores de serviço e também para o mercado de crédito.
O pessimismo se conecta a outros diagnósticos recentes. Reportagem publicada pelo Correio do Estado na semana passada mostrou que o consumidor de Mato Grosso do Sul tem hoje 68,8% de sua renda comprometida com dívidas e despesas fixas, segundo levantamento inédito da Serasa Experian.
Conforme adiantou reportagem no mês passado, MS encerrou o primeiro semestre deste ano com 1.196.534 pessoas com o “nome sujo”, ante 1.129.829 pessoas em dezembro – alta de 6% ou mais de 66,7 mil novos registros somente nos primeiros seis meses deste ano.
No total, os sul-mato-grossenses acumulam 5.148.260 dívidas em aberto, que somam R$ 8,39 bilhões.

TARIFAÇO
O estudo do IPR também investigou a opinião da população sobre fatores externos. A maioria absoluta, 85,9% dos entrevistados, acredita que as tarifas impostas pelo governo norte-americano do presidente Donald Trump podem atrapalhar a economia brasileira. Apenas 9,2% disseram que não haverá impacto e 4,9% não souberam responder.
Essa preocupação é coerente com a estrutura econômica de Mato Grosso do Sul. O Estado é altamente dependente do agronegócio exportador.
Na prática, tarifas externas que reduzam a competitividade brasileira impactam o campo, as indústrias de processamento e, em cadeia, o comércio urbano de Campo Grande.
As tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, entraram em vigor no dia 6 de agosto e atingiram em cheio a indústria sul-mato-grossense, afetando principalmente o setor de carnes e miudezas comestíveis.
Levantamento feito pelo Estadão aponta que Campo Grande lidera as perdas, com mais de US$ 117,5 milhões em exportações afetados, seguida por Nova Andradina (US$ 37,8 milhões), Naviraí (US$ 29,2 milhões) e Bataguassu (US$ 16,1 milhões).
Além da carne bovina, outros setores também sentiram os efeitos das barreiras comerciais, como açúcar e produtos de confeitaria, gorduras e óleos de origem animal ou vegetal, preparações alimentícias e até papel e cartão.
RECORTE
O pessimismo aparece em todos os segmentos da população, mas é mais forte entre as mulheres. Enquanto 53,1% dos homens acreditam que a renda vai cair, entre as mulheres, o índice chega a 60,2%. Já a confiança em melhora é maior entre eles (10,6%) do que entre elas (6,3%).
No recorte por idade, os adultos de 35 anos a 44 anos formam o grupo mais descrente: 62,7% afirmam que sua situação financeira deve piorar. Entre os jovens de 16 anos a 24 anos, 54,4% compartilham dessa visão.
Acima dos 70 anos, ainda que haja alguma expectativa de estabilidade (32,6%), o pessimismo também prevalece, com 56,5% projetando queda de renda.
No caso da percepção sobre tarifas externas, o consenso é amplo: em todas as idades, mais de 75% acreditam que elas prejudicam a economia brasileira.
A faixa entre 25 anos e 34 anos é a mais preocupada, com 88,6% dos entrevistados apontando impacto negativo.
*SAIBA
A pesquisa foi realizada pelo Instituto de Pesquisa Resultado (IPR), em parceria com o Correio do Estado, entre os dias 15 e 18 de agosto de 2025, em Campo Grande. Foram 553 pessoas entrevistadas, com idade a partir de 16 anos. A amostragem foi feita por conglomerados e sorteio aleatório simples. A margem de erro é de 4,5 pontos porcentuais e o intervalo de confiança é de 95%.


