Estudo elaborado pela UFMG aponta que o incremento é motivado pelo aumento das exportações das oleaginosas
Mato Grosso do Sul vai ser beneficiado em R$ 871 milhões nas exportações com a guerra tributária entre os Estados Unidos e a China, segundo levantamento computacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Esse incremento é motivado principalmente pelo comércio externo de oleaginosas e da agropecuária.
O grupo de pesquisa do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea) do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da UFMG preparou modelos de equilíbrio geral computável (EGC), a fim de analisar os desenvolvimentos de tarifas comerciais entre os dias 7 e 11, acompanhando as medidas propostas e realizando estimativas de impacto no Brasil, nos estados e na economia mundial.
Os principais elementos do exercício de simulação foram: a elevação das tarifas dos EUA das importações da China para 145% e de 10% para os demais países; a elevação para 25% da tarifa de importações de automóveis e aço nos EUA, de qualquer país; e a elevação de tarifas da China das importações dos EUA para 125%.
De acordo com os pesquisadores Edson Paulo Domingues, João Pedro Revoredo Pereira da Costa e Aline Souza Magalhães, o impacto global da guerra tarifária representaria uma queda de 0,25% no Produto Interno Bruto (PIB) global, equivalente a uma perda de US$ 205 bilhões. Além da perda de atividade, o comércio mundial também seria prejudicado, reduzido em 2,38%, equivalente a perdas na ordem de US$ 500 bilhões.
No Brasil, no impacto agregado na produção setorial brasileira, os pesquisadores afirmam que, “embora ocorram ganhos de exportações na agropecuária, outros setores sofreriam perdas significativas. O industrial seria o mais afetado, demonstrando um impacto adverso considerável na economia brasileira”.
IMPACTOS
As repercussões das medidas tarifárias entre os EUA e a China na economia brasileira seriam muito diferenciadas.
“Os resultados mostram que os efeitos de elevações de exportações seriam limitados a poucos setores (sementes oleaginosas, vestuário, computadores, produtos minerais, etc.). O incremento de importações seria um fenômeno mais generalizado, em produtos agrícolas e industriais, pois as medidas de tarifas afetariam de forma relevante os preços internacionais. O resultado em termos de produção depende desses impactos e dos deslocamentos de fatores entre os setores”, destacam os pesquisadores.
Eles ainda frisam que, “na maioria dos casos, o efeito na produção seria negativo, com destaque para equipamentos de transporte. O impacto positivo mais relevante ocorreria em sementes oleaginosas
(soja) e derivados de petróleo”.
O estudo mostra que a agropecuária teria um incremento de R$ 6,642 bilhões, enquanto a indústria perderia R$ 6,409 milhões e os serviços teriam uma retração de R$ 2,203 milhões, com um saldo negativo para
o Brasil de R$ 1,970 bilhão.
REGIÕES
Na estimativa de impactos nos estados, quanto maior produtor e exportador de oleaginosas, especificamente a soja, maior o ganho para a unidade da Federação. Por isso, há um saldo positivo nos estados do Centro-Oeste e no Rio Grande do Sul.
Mato Grosso do sul deve ter um ganho de R$ 871 milhões, enquanto Goiás pode ficar com R$ 778 milhões. Bem mais acima está Mato Grosso, com uma estimativa de lucrar R$ 5,352 bilhões.
Na Região Sul, o estudo aponta que terão incremento de receita os estados do Paraná (R$ 706 milhões) e do Rio Grande do Sul (R$ 573 milhões). No Nordeste, os estados da nova fronteira agrícola também terão saldo positivo. São eles: Maranhão (R$ 1,319 bilhão), Piauí (R$ 952 milhões) e Bahia (R$ 123 milhões). Na Região Norte, o estado do Tocantins vai ter um incremento de R$ 251 milhões.
Já a Região Sudeste teria as maiores perdas, dado o efeito na produção industrial e na entrada de importações. No estado de São Paulo, o impacto corresponderia a uma perda de R$ 4,167 bilhões, enquanto Minas Gerais teria uma redução de R$ 1,16 bilhão. Os ganhos no Centro-Oeste praticamente equivalem as perdas estimadas no Sudeste.
Em suas redes sociais, o titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, destacou que o Centro-Oeste, como um todo, teria ganhos expressivos no PIB, diretamente relacionados à produção agrícola.
“Mato Grosso do Sul, com sua forte presença na produção de soja, carne bovina e outras commodities, seria diretamente beneficiado pelo aumento das exportações e pela melhora nos preços relativos desses produtos”, disse.
Ainda de acordo com o secretário, o movimento compensaria, inclusive, as perdas industriais em outras regiões do País, como a Sudeste.
“O impacto positivo no PIB estadual de estados agroexportadores, como os do Centro-Oeste, reforça o papel estratégico de Mato Grosso do Sul no comércio exterior em um cenário de reconfiguração das cadeias globais”, concluiu Verruck.
RELAÇÃO COMERCIAL
Conforme adiantou o Correio do Estado no mês passado, o tarifaço de 10% sobre as exportações brasileiras aos EUA, anunciado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, impacta em um mercado de US$ 669,5 milhões anuais – o valor ultrapassava os R$ 3,7 bilhões.
Esse é o volume que o setor produtivo de MS vendeu para os EUA durante todos os meses de 2024. O volume financeiro das vendas para o país norte-americano aumentou 28,3% nesse período, em comparação à movimentação de 2023, quando os EUA compraram US$ 522 milhões em produtos sul-mato-grossenses.
Pouco mais da metade das compras norte-americanas de produtos de MS é de proteína animal: aproximadamente 60% do total. Também tem uma participação significativa no comércio com os EUA a celulose, além de óleos e gorduras, tanto animais quanto vegetais.
Colaborou Súzan Benites
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