Esta coluna é especial, são 200 textos publicados no Correio do Estado desde 2021, analisando a economia do mundo, do Brasil e do Mato Grosso do Sul semanalmente para vocês leitores.
A semana econômica global foi marcada por uma intensa expectativa em torno dos indicadores de inflação norte-americanos e as consequentes decisões do Federal Reserve (Fed), reverberando diretamente nos mercados financeiros internacionais e, de forma particular, no Brasil. Enquanto o cenário mundial lida com tensões comerciais e a volatilidade das commodities, a economia brasileira demonstrou resiliência em alguns setores, com o Ibovespa atingindo patamares recordes e o dólar recuando. Em Mato Grosso do Sul, o foco se volta para os impactos de decisões nacionais, como o aumento da tarifa de energia, e para os robustos investimentos em infraestrutura, especialmente no setor de celulose, que continua a ser um pilar da economia estadual.
Cenário Internacional
Os mercados globais permaneceram em compasso de espera e alta volatilidade, com os investidores atentos à divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) dos Estados Unidos. Este indicador é crucial para balizar as próximas decisões do Federal Reserve (Fed) quanto à taxa de juros, uma vez que a persistência inflacionária poderia levar a uma política monetária mais contracionista, com potencial para desacelerar a economia global. Dados preliminares e expectativas de analistas, como os reportados por Investing.com e MoneyTimes, indicavam que qualquer surpresa nesse índice poderia desencadear movimentos bruscos nos mercados.
Paralelamente, as tensões comerciais entre Estados Unidos e China continuaram no radar. Embora tenha sido noticiada pela Bloomberg Línea e Euronews uma possível "trégua de 90 dias", a chamada "guerra comercial" segue como um fator de incerteza. Washington também anunciou alterações em regras para remessas de baixo valor, com potencial impacto no comércio internacional.
No mercado de commodities, o preço do petróleo oscilou próximo a máximas recentes, embora com notícias de quedas semanais anteriores, como o recuo do WTI. O ouro, por sua vez, registrou sua segunda baixa semanal consecutiva, segundo o Nomad Global. Um alívio para os consumidores norte-americanos veio da queda de 18% no preço dos ovos, após um período de altas recordes, conforme noticiado pela Bloomberg Línea.
Brasil
O cenário internacional, especialmente os dados econômicos provenientes dos EUA, teve um impacto direto e positivo no mercado financeiro brasileiro. O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores B3, atingiu uma nova máxima histórica, ultrapassando a marca dos 139 mil pontos. Este otimismo, foi impulsionado não apenas pelo ambiente externo favorável, mas também por balanços corporativos positivos divulgados no país. Acompanhando a euforia, o dólar comercial registrou uma queda expressiva, sendo cotado a R$ 5,60, o menor valor em sete meses, refletindo um maior apetite por ativos de risco e um fluxo positivo de capital.
No entanto, a economia doméstica enfrenta seus próprios desafios. A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada pela CNN, indicou que a manutenção da taxa Selic em patamares elevados (14,75%, o maior desde 2006) já começa a surtir efeitos na moderação do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Essa política monetária restritiva visa combater a inflação persistente, um desafio que também se manifesta no aumento do custo de vida para a população.
Em um contraponto positivo, a renda média no Brasil atingiu um recorde histórico de R$ 3.057 em 2024, embora seja necessário contextualizar esse dado com a distribuição de renda e a inflação acumulada. O setor de serviços aguarda a divulgação de novos números, que poderão fornecer mais clareza sobre o ritmo da atividade econômica. No âmbito corporativo, balanços de grandes empresas como Hapvida (cujas ações subiram 11%), JBS (com lucro expressivo) e Petrobras movimentaram o mercado.
Nas relações internacionais, a importância da parceria entre Brasil e China foi reiterada, com declarações sobre a necessidade mútua desta aliança estratégica, conforme divulgado. A China permanece como um destino crucial para as exportações brasileiras, incluindo as de Mato Grosso do Sul.
Mato Grosso do Sul
O setor de celulose continua sendo a grande força motriz das exportações estaduais. No acumulado dos quatro primeiros meses de 2025, as exportações totais de MS (US$ 3,370 bilhões) ainda superaram em 2,7% o mesmo período do ano anterior, graças ao aumento de 80% no faturamento com a celulose. Este desempenho é resultado da entrada em operação de novas plantas industriais, como a da Suzano em Ribas do Rio Pardo, e da valorização do produto no mercado internacional. Sem a celulose, as exportações do estado teriam encolhido 12,5% no período.
Mesmo com o tarifaço imposto pelos EUA, as vendas de Mato Grosso do Sul para o país norte-americano mais que dobraram em abril (alta de 121,6%) e cresceram 31% no quadrimestre, com a antecipação de compras por parte dos importadores americanos, receosos de futuras barreiras.
Olhando para o futuro, Mato Grosso do Sul aposta em grandes projetos de infraestrutura para sustentar seu crescimento. O leilão da concessão da chamada "Rota da Celulose", que engloba trechos das rodovias BR-262/267 e MS-040/338/395, garantirá investimentos de R$ 10,1 bilhões em obras de melhoria e ampliação de capacidade. O projeto, detalhado pelo Portal Gov.br, prevê a geração de cerca de 100 mil empregos e beneficiará diretamente o escoamento da produção de celulose, setor no qual MS é o maior exportador do Brasil. A Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul (Fiems) projeta que a melhoria logística atrairá ainda mais investimentos. Este projeto se conecta à Rota Bioceânica, que promete encurtar o caminho para os mercados asiáticos.
O setor de celulose continua atraindo capital, com a Arauco iniciando em abril a construção de sua primeira fábrica no Brasil, em Inocência (MS), um investimento de US$ 4,6 bilhões. Adicionalmente, o governo estadual tem buscado ativamente novos investimentos, como demonstrado pela recente missão do governador Eduardo Riedel a Nova Iorque, com foco nos setores de energia e proteína animal.
A semana econômica evidencia um mundo interconectado, onde as políticas monetárias das grandes economias e as tensões comerciais globais moldam os mercados e afetam diretamente nações como o Brasil. Enquanto o país busca equilibrar o combate à inflação com a manutenção do crescimento, estados como Mato Grosso do Sul enfrentam desafios específicos, como o aumento dos custos de energia, mas também demonstram dinamismo e capacidade de atrair investimentos estratégicos, especialmente em setores onde possuem vantagens comparativas, como o de celulose. A aposta em infraestrutura surge como um caminho promissor para garantir a competitividade e o desenvolvimento sustentável a longo prazo, tanto para o estado quanto para o país.