Um detalhe não escapa aos olhos de quem costuma acompanhar o noticiário econômico: qual foi a variação diária do dólar? Mesmo quem não entende muito bem do assunto sabe que a moeda norte-americana está com o valor nas alturas, um fator a mais para se preocupar neste período de pandemia, mas será que as cotações elevadas beneficiam algum setor da sociedade?
Como todas as nuances no mercado, há sempre quem sofra e quem comemore. A economista Daniela Dias explica ao Correio do Estado que para falar sobre os efeitos do dólar em Mato Grosso do Sul, é preciso levar em consideração dois aspectos que vão ajudar a compreender os impactos: importações e exportações.
“E por que eu digo isso? Porque a valorização da moeda dos Estados Unidos significa, em uma outra linguagem, que nós precisamos de mais reais para conseguir comprar um dólar. Logo, precisamos de mais dinheiro brasileiro para comprar algum item do exterior, seja produtos considerados industrializados ou semi-industrializados, e isso acaba interferindo no valor final ou no preço de revenda dele”, disse à equipe de reportagem.
Muitas indústrias, explica Daniela, importam os insumos que usam nas suas linhas de produção. Logicamente, cada centavo gasto deságua no preço que será cobrado quando o item ficar pronto. “Esse repasse pode seguir até o consumidor final, o produto acaba ficando com preço mais alto”.
E esses efeitos incidem em diferentes áreas. “Por exemplo, muitos dos produtos do agro são ditados pelos seus preços no mercado internacional. Se o trigo que usamos é importado da Argentina, como acontece, o pão e todos os demais produtos que usam essa matéria prima podem subir nas prateleiras dos mercados. Então sofrem mais aquelas áreas que dependem de importações, como eletrônicos”, diz a economista.
Por outro lado, o dólar mais alto acaba favorecendo quem costuma vender seus produtos para fora.
“Quando a gente fala de exportações, significa que os outros países precisam de menos dólares para comprar os produtos Brasileiros, de Mato Grosso do Sul. Então fica mais barato, nós ficamos mais competitivo no mercado internacional”, afirma.
Essa tendência diz respeito à realidade do Estado, já que produtos agropecuários in natura, especialmente a carne, estão na lista de itens que levam vantagem fora do país quando o dólar está alto.
“Tanto que o setor foi o que segurou um pouco o Produto Interno Bruto (PIB) para que não tivéssemos uma queda tão drástica”, destaca Daniela.
Já os consumidores sentem bem o peso no bolso, ainda mais considerando o cenário atual motivado pela pandemia, com rendas afetadas, desemprego, reduções salariais. “Então às vezes precisamos realocar o orçamento e procurar opções mais baratas para que possamos consumir. De repente o arroz mais caro, posso trocá-lo por um tipo que seja mais em conta, ou então vou em busca de promoções”, diz a economista.
O jeito é apertar os cintos como for possível e esperar que esse momento de crise econômica passe o mais rápido possível, embora ainda não hajam previsões de quanto tempo mais vá durar, já que a doença é incerta e só deve ser considerada como problema solucionado quando houver uma vacina que possa imunizar a população.