Certificar e rotular um produto como ambientalmente correto é uma das formas que empresas e instituições de defesa do meio ambiente encontraram para dizer ao consumidor que, no processo de produção daquele item, não foram utilizados meios ou instrumentos que, de alguma forma, agridem o meio ambiente.
Contudo, esse tipo de rotulagem ambiental ainda precisa de mudanças para ser mais efetivo, na avaliação do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). A pesquisa “O uso do poder de compra para melhoria do meio ambiente”, divulgada pelo instituto nesta terça-feira (1), mostra que o preço mais alto dos produtos certificados é um dos limitadores desse processo.
“O esforço para adaptar o processo produtivo aos critérios estabelecidos para a certificação ou rotulagem geralmente redunda em aumento de custo para as empresas”, avaliaram os pesquisadores no estudo. Obter e manter os selos também acaba onerando esses processos.
“Tudo isso tende a se refletir, consequentemente, no preço dos produtos. Desta forma, o número de consumidores que podem ou desejam pagar por produtos verdes tende a ser reduzido em relação ao mercado de produtos tradicionais”, disseram.
Outros problemas
Além de elevar, muitas vezes, os preços dos produtos, a certificação ambiental revela mais problemas, na avaliação do Ipea. A dificuldade de estabelecer critérios objetivos e cientificamente aceitos é um desses problemas. “A falta de padrões ou definições claras de critérios ambientais dificulta a adoção da rotulagem ambiental por parte das empresas”, avaliaram os pesquisadores.
Outra questão levantada pelos pesquisadores é sobre o fato de a rotulagem não informar os consumidores a respeito dos aspectos ambientais específicos dos produtos que compram. “A consciência sobre o significado da rotulagem ambiental ainda é baixa entre os consumidores e mesmo revendedores".
“Os programas não encorajam os consumidores a se informarem a respeito de características dos produtos sobre a complexidade das questões ambientais e tampouco a respeito do que podem fazer, como indivíduos, para melhorar seus hábitos de uso e disposição final dos produtos”, criticou o Ipea.
Outro ponto levantado pelos pesquisadores do instituto é sobre o fato de os consumidores não conseguirem distinguir a autorrotulagem do uso de rótulos certificados por instituições, que não a própria empresa. “Os consumidores não têm clareza para distinguir aqueles produtos que passaram por critérios e testes para receber um selo certificado e aqueles que afirmam, por conta dos próprios produtores ou fabricantes, estar contribuindo de alguma forma para o meio ambiente”.
Os pesquisadores ressaltam que, muitas vezes, essa autorrotulagem se trata de marketing ambiental das empresas – o que pode confundir os consumidores.
Até no comércio internacional os selos verdes podem atrapalhar. Segundo os pesquisadores, a rotulagem cria barreiras, pois serve, de certa forma, como medida protecionista. “A formulação dos critérios pode se dar de forma arbitrária, realçando preferencialmente parâmetros ambientais alcançados com maior facilidade pelos produtos domésticos da parte interessada em propor o rótulo ambiental", avaliaram.
"Em consequência, estes critérios não refletem a diversidade global das questões e práticas ambientais e tendem a estimular a discriminação contra produtos de fora do país ou da região, beneficiando estritamente consumidores do local no qual foi desenvolvimento o programa de rotulagem”, concluíram.