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AMÉRICA DO SUL Rota Bioceânica tem potencial para movimentar R$ 1,5 bilhão em Mato Grosso do Sul Estudo da UFMS aponta a abertura de várias oportunidades na economia local 21 NOV 2020 • POR Súzan Benites • 07h30

Uma das metas do governo do Estado é ampliar a diversificação econômica de Mato Grosso do Sul. 

A implantação da rota ou corredor bioceânico tem o intuito de expandir a relação comercial do Estado com países asiáticos e sul-americanos e deve fomentar, além da diversificação da pauta de exportações, a atração de indústrias e empresas para MS.

O objetivo da criação de um corredor rodoviário entre Brasil, Paraguai, Argentina e Chile é interligar os oceanos Pacífico e Atlântico. Estudo desenvolvido pela professora e pesquisadora Luciane Carvalho, que integra o projeto de pesquisa e extensão Corredor Bioceânico da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), aponta as possibilidades de diversificar a economia do Estado.

A proposta do corredor é conectar e integrar os países vizinhos (Paraguai, Argentina e Chile) e diversificar a pauta dos produtos exportáveis para os países asiáticos.

 “O corredor poderá favorecer, também, o comércio com a Costa Oeste dos Estados Unidos e a Oceania”, explica a pesquisadora.

Luciane ainda afirma que a ideia é fomentar a instalação de novos empreendimentos nos municípios de Mato Grosso do Sul.

“Futuramente, com o corredor há perspectivas de instalações de novos empreendimentos nos municípios. Mas isso também depende de políticas de atração de novas empresas e da decisão de empresários, que veem o corredor como oportunidade para expandir suas atividades”, considera.

Conforme já noticiado pelo Correio do Estado, a diversificação econômica é uma das metas da gestão estadual. De acordo com o titular da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, a projeção para os próximos anos é a de investir na diversificação da base econômica, facilitar a logística e melhorar a infraestrutura.

“Nosso foco é a questão logística, estamos focados no corredor [bioceânico], o projeto de acesso à ponte já está avançando, a estruturação dos portos tem avançado, saiu o edital da licitação dos aeroportos de Mato Grosso do Sul, que é outra medida importante para que possamos avançar”, analisou Verruck.

Tempo

Conforme estudo desenvolvido na UFMS, os custos para o envio da produção sul-mato-grossense serão reduzidos, além do tempo de viagem, que será encurtado em até 17 dias rumo ao mercado asiático.

“Isso indica melhora com relação ao frete e maior competitividade para os produtos sul-mato-grossenses, que atualmente são escoados via Porto de Santos e Porto de Paranaguá. Então, a rota é um projeto ambicioso que vem a se tornar realidade”, destaca Luciane Carvalho.

Conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), de 2015 a 2020, metade das exportações de Mato Grosso do Sul foi destinada para a China e para a ilha de Hong Kong, sendo os principais produtos: soja, carne bovina, pastas químicas de madeira, milho, açúcares de cana e de beterraba e sacarose.

Outros países, como Japão, Coreia do Sul, Tailândia, Indonésia e Malásia, correspondem a 13% do total das exportações sul-mato-grossenses nos últimos cinco anos.

 “Com a rota, Mato Grosso do Sul poderá aumentar o volume de exportações para os países asiáticos, atendendo à demanda por alimentos ao fornecer proteína animal, como frango, suínos e peixes”, avalia a pesquisadora.

Na pauta de importações do Estado, China e Hong Kong representam 14% do total, e os outros países asiáticos, 5%, no período de 2015 a 2020. “A rota traz um benefício mútuo, tanto para as exportações como para viabilizar as importações para a produção industrial, fomentando o desenvolvimento e a criação de novos empreendimentos”, explica Luciane.

América Latina

A rota também deve promover a integração entre os países da América do Sul e o desenvolvimento local nos municípios alcançados.

O estudo identificou que o Paraguai pode fornecer a Mato Grosso do Sul produtos que atualmente são importados da China, como tecidos de malhas e fios sintéticos. 

Em 2019, por exemplo, Mato Grosso do Sul importou um total de US$ 82,9 milhões deste tipo produto.

“A pauta de exportações de Mato Grosso do Sul para o Paraguai também pode ser melhorada com o aumento no volume de produtos já destinados ao país vizinho, como papel e cartão, tripas, bexiga e estômago de animais, óleo de soja e couro curtido”, explica Luciane.

As exportações para o Chile corresponderam a 22% do total exportado pelo Estado em 2018, e a 26% em 2019, enquanto as importações registraram 19% e 12%, respectivamente. 

Para a pesquisadora, tanto o volume de exportações quanto o de importações pode ser melhorado.

“O Chile é um parceiro importante, tanto para o Brasil quanto para Mato Grosso do Sul, porque há diversos produtos que têm como destino o mercado brasileiro, como salmão, minérios, frutas secas e vinhos”, avalia Luciane.

Integração

Levantamento realizado pela Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems) aponta que o Corredor Bioceânico terá potencial para movimentar US$ 1,5 bilhão por ano em exportações de carnes, açúcar, farelo de soja e couros para os outros países por onde passará.

A pesquisadora da UFMS considera que a rota poderá potencializar as relações comerciais entre municípios dos quatro países que farão parte do trajeto e destaca possibilidades para o transporte de mercadorias. “A ideia é que os caminhões que vão até os portos do Chile carregados com commodities retornem para o Brasil com alguma carga, há produtos como o feijão nas regiões argentinas, como San Salvador de Jujuy e Salta, além da produção de vinho no Chile e na Argentina”, conclui Luciane.

Obras da rota avançam

O avanço nas obras de pavimentação asfáltica da Rota Bioceânica no Paraguai e a conclusão do processo de licitação para a pavimentação do acesso ao estacionamento de triagem (ETM Murtinho), em Porto Murtinho, marcam mais uma etapa nas ações de infraestrutura para a consolidação do corredor rodoviário.

O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, e o ministro das Obras Públicas e Comunicações, Arnoldo Wiens, inauguraram o “tramo 5” do trecho da Rota Bioceânica nesta sexta-feira, no país vizinho. O trecho conta com 14 km de asfalto, entre as cidades paraguaias de Loma Plata e Carmelo Peralta.

Em Mato Grosso do Sul, a Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul) divulgou, nesta sexta-feira, o resultado da licitação para implantação e pavimentação do acesso ao estacionamento de triagem, em Porto Murtinho. A obra, orçada em R$ 2,521 milhões, teve como vencedora a empresa Engenharia e Comércio Bandeirantes Ltda.