Em um cenário econômico de recuperação gradual pós-pandemia, o Brasil apresenta um panorama de contrastes regionais significativos, com Mato Grosso do Sul emergindo como protagonista no crescimento econômico nacional. Enquanto o país projeta um avanço moderado de 2,2% para 2025, o estado sul-mato-grossense deve crescer a um ritmo três vezes superior, com projeção de 6,86%, consolidando sua posição como líder no ranking de desenvolvimento econômico entre os estados brasileiros.
Os dados mais recentes da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) revelam que o Produto Interno Bruto (PIB) de Mato Grosso do Sul deve alcançar a impressionante marca de R$ 190,4 bilhões estimados para 2024. Este desempenho excepcional reflete uma transformação estrutural da economia estadual, que viu seu PIB dobrar nos últimos seis anos.
“O Mato Grosso do Sul vive um ambiente de desenvolvimento e prosperidade, fruto de um trabalho feito com afinco para criação de todo um arcabouço jurídico, fiscal, econômico, ambiental, social, que nos permite experimentar um crescimento muito acima da média nacional”, destacou o governador Eduardo Riedel em recente pronunciamento.
O motor principal deste crescimento acelerado tem sido o agronegócio, setor que vem passando por uma profunda modernização no estado. Para a safra atual, projeta-se um aumento de 6,8% na área plantada de soja, superando 4,5 milhões de hectares, com produtividade estimada em 51,7 sacas por hectare e expectativa de produção de 13,9 milhões de toneladas.
Entretanto, o diferencial de Mato Grosso do Sul está na estratégia de agroindustrialização, que agrega valor à produção primária e diversifica a economia. Mato Grosso do Sul prospectou R$ 44 bilhões projetados apenas para 202. Estes aportes reforçam a posição do estado como um dos mais dinâmicos no cenário nacional.
A bioenergia emerge como um setor estratégico neste processo de diversificação. Em 2025, começam as obras da Arauco em Inocência e serão inauguradas mais três usinas de bioenergia, além de uma usina de etanol de milho em Sidrolândia. Esta expansão do setor industrial sul-mato-grossense é confirmada pelo índice PIMPF (Produção Industrial Mensal - Produção Física), que registrou crescimento de 62,3% entre fevereiro de 2022 e outubro de 2024.
CAMPO GRANDE: CAPITAL DE SERVIÇOS COM DESAFIOS PRÓPRIOS
Enquanto o estado avança impulsionado pelo agronegócio e pela agroindústria, Campo Grande, sua capital, apresenta uma dinâmica econômica distinta. Com um PIB de R$ 30,121 bilhões (dados de 2020), a cidade ocupa a 31ª posição entre as maiores economias municipais do país e a 3ª no Centro-Oeste, atrás apenas de Brasília e Goiânia.
Diferentemente do perfil estadual, Campo Grande tem sua economia fortemente baseada no setor de serviços, que movimenta R$ 6,308 bilhões e pela indústria R$ 4,174 bilhões. Esta configuração aproxima a capital do padrão econômico nacional, mais dependente do setor terciário.
A pandemia afetou significativamente a economia campo-grandense, com recuo do PIB em 2020. Contudo, a recuperação tem sido consistente. “Campo Grande já gerou mais de 30 mil empregos com carteira assinada desde julho de 2020. A cidade também é destaque apresentando a segunda menor taxa de desemprego, de 5,1%..
As estimativas apontam que o PIB da capital deve superar os R$ 38 bilhões e o salário médio mensal dos trabalhadores formais de 3,3 salários mínimos (2022) colocam Campo Grande em posição favorável em termos de renda quando comparada à média nacional.
Um aspecto preocupante é a gestão fiscal do Governo Federal, que atualmente não segue as regras de arcabouço, não freia a inflação e continua a expansão monetária, limitando investimentos e aumentando o custo de vida nacional, impactando os estados e municípios.
Mato Grosso do Sul destaca-se ainda como referência em gestão fiscal responsável no Brasil. Com uma taxa de investimento público equivalente a 15,30% da receita corrente líquida, o estado lidera o ranking nacional, consolidando-se como exemplo de eficiência e compromisso com o uso dos recursos públicos. Este desempenho resulta de um equilíbrio nas contas públicas que viabiliza investimentos constantes em infraestrutura, saúde, educação e inovação.
“Os indicadores mostram que devemos comemorar. O desemprego é de 3,4% no Estado, taxa de pobreza em 2%. Investimento em produtos de escala de estado com mais 20% de investimento público”, ressalta o titular da Semadesc.
Apesar do cenário positivo, os desafios permanecem. O Brasil enfrenta questões estruturais como a necessidade de reformas, controle inflacionário e redução do déficit público. Mato Grosso do Sul, embora em situação privilegiada, precisa garantir que seu crescimento seja sustentável e inclusivo, evitando a dependência excessiva do agronegócio.
Campo Grande, por sua vez, busca diversificar sua economia para além do setor de serviços e da administração pública. A agricultura, que representa uma parcela pequena da economia municipal (R$ 488 milhões em 2020), apresentou o maior crescimento proporcional recentemente, saltando da posição 174ª para 107ª no contexto nacional, sinalizando um potencial a ser explorado.
As perspectivas para os próximos anos apontam para a manutenção deste contraste: enquanto o Brasil deve seguir com crescimento moderado, Mato Grosso do Sul continuará em ritmo acelerado, impulsionado pela agroindustrialização e bioenergia. Campo Grande, beneficiando-se indiretamente deste dinamismo estadual, tende a consolidar sua posição como polo regional de serviços e comércio, com gradual diversificação econômica.
O caso de Mato Grosso do Sul ilustra como políticas públicas focadas em atração de investimentos, diversificação produtiva e equilíbrio fiscal podem transformar a realidade econômica de uma região, mesmo em um contexto nacional desafiador. A experiência sul-mato-grossense oferece lições valiosas para outras unidades da federação que buscam acelerar seu desenvolvimento econômico de forma sustentável.