A política é dos homens, eles a criaram. Não é de Deus, porque Ele está acima dela. Nem do diabo, porque ele está abaixo dela, já que não tem o poder de criar nada, apenas de subverter. A política, por definição, é um instrumento que tanto serve ao bem quanto ao mal, por isso não pode pertencer apenas a Deus (bem) nem somente ao diabo (mal). A política, aos homens pertence o seu domínio, lastreado pelo livre arbítrio concedido pelo Criador.
Ah, a política, a tão malfadada e bem falada política nossa de cada dia, que nos encanta, desencanta, nos maltrata, nos bem trata, que separa famílias, entes queridos, une adversários, que constrói, destrói, que liga, desliga, enfim, que nunca sai de nossas vidas, embora, às vezes dela queremos nos esquecer por algum tempo.
É verdade. Não se enganem, a política está presente em tudo que fazemos desde que colocamos nossos pés para fora de nossas camas, quando despertamos pela manhã. A política da boa vizinhança, o relacionamento com o que nos contraria ou nos agrada, o dizer não e sim na hora certa, tudo é política.
Na maioria do tempo em nossas vidas, estamos fazendo algum tipo de política. É preciso, desde logo, esclarecer que não estou me referindo somente àquela política que a maioria das pessoas no mundo conhece, ou seja, a política partidária, a política praticada por membros de partidos políticos, muito embora, a prática da política, em sua essência, devesse ser idêntica em todos os sentidos, isto é, dotada de honestidade, boas intenções e da busca da realização de algum resultado ou bem individual ou coletivo. Mas, infelizmente, não é assim sempre, nem no individual nem coletivo.
Às vezes é. Às vezes não é. Mas, afinal, o que é a política em sua plenitude? De onde vem essa palavra? O que a define da melhor forma?
Qualquer um de nós, culto ou não, pode ter o seu conceito de política. Contudo, é razoável frisar que aprendemos estudando que a palavra política deriva do grego antigo (politeía), que a definia como “todos os procedimentos relativos a Pólis ou cidade estado grego”.
Mas, posteriormente, o grande filósofo e matemático inglês Thomas Hobbes (1588-1679) ampliava esse conceito, estabelecendo, ao meu modo de ver, a melhor definição para a palavra política. Dizia ele: “A política consiste nos meios adequados à obtenção de qualquer vantagem”.
Com todo respeito ao grande filósofo inglês, eu tomaria a liberdade de acrescentar: sejam eles lícitos ou não, esses meios e essas vantagens sejam para o bem ou mal individual ou coletivo, pois é assim que temos visto a política, não só a partidária, agir na vida dos homens em todo o mundo desde sempre.
Destaco ainda mais dois conceitos de grandes homens da história mundial para a política, que praticamente corroboram com a definição de Hobbes. Primeiro refiro-me ao também filósofo do Reino unido, Bertrand Arthur Willian Russel (1872-1970). Disse Russel: “A Política é o conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos desejados”. Bem parecido com o que afirmou Hobbes.
Muitos séculos antes, grande historiador, poeta e filósofo fiorentino, Nicolau Maquiavel ( 1469-1527) ensinava que: “Política é a arte de conquistar, manter e exercer os poderes, o governo”.
Se podemos concordar que a política é uma arte e também com as outras definições mencionadas, então devemos entender a amplitude do que significa a palavra política e jamais menosprezar sua importância em nosso dia a dia e, muito menos, aqueles que a querem usar para obter vantagens individuais ou coletivas, principalmente, por meio de mandatos outorgados por ela.
Não se deve jamais creditar a Deus ou ao diabo os seus sucessos ou fracassos diante da política adotada, pois ao usar seu livre arbítrio, você assume sua autonomia. Agradecer a Deus pelo sucesso é demonstração de respeito e reconhecimento.
Culpar o diabo pelo fracasso é sinal de fraqueza e estupidez, pois o diabo não tem o poder de interferir no livre arbítrio concedido pelo Criador. A política não é para amadores nem para fracos, principalmente, a política usada para “conquistar, manter e exercer os poderes, o governo”, como pregou Maquiavel.
O Brasil vive um grande dilema político em seu momento atual e quem se der ao trabalho de analisar os fatos que levaram um a vitória e outro a derrota, sem paixão ideológica, apenas pela visão fria da lógica e estratégia, vai perceber “os meios da política que permitiram a vitória a um e a derrota a outro”.
Não se trata de analisar neste artigo se “esses meios” foram legais ou ilegais, não é função deste cronista, o que quero apenas é estabelecer, em minha visão, a dicotomia da política, ao vinculá-la, o seu uso, tanto para o bem quanto para o mal. Nesse sentido, a razão em reafirmar minha tese de que a política não é de Deus e nem do diabo.
É invenção humana. Talvez por isso é que nem sempre na política vence o bem e perca o mal ou vice-versa. E continuará assim até quando Deus quiser.
“Nada se pode criar em um lado senão à custa da dissolução no outro”. (Bertrand Russel)






