O conceito ESG – sigla em inglês para Environmental, Social and Governance, traduzido como Meio Ambiente, Social e Governança – ganhou força no início da década, impulsionado por movimentos globais que buscavam aliar o desenvolvimento econômico à responsabilidade socioambiental e à integridade institucional. Mesmo com o enfraquecimento da pauta no cenário internacional, após o retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, o ESG continua a ser um tema presente no Brasil, especialmente em discursos empresariais e institucionais.
Em Mato Grosso do Sul, o uso da sigla tem sido recorrente, tanto entre governantes quanto no setor produtivo. Expressões como governança, compliance e responsabilidade social passaram a figurar com frequência em pronunciamentos de lideranças empresariais, a exemplo da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems). Há metas arrojadas sendo anunciadas, neste caso pelo governo, como a neutralidade na emissão de carbono até 2030 – um compromisso que, por si só, merece reconhecimento, dada sua relevância diante da crise climática global.
Eventos como o realizado recentemente pela Lide em Bonito, com o tema da sustentabilidade, reforçam essa agenda. Com a participação de políticos, empresários e líderes de federações como a própria Fiems, a pauta verde voltou ao centro do debate. O protagonismo assumido por entidades locais mostra um lado positivo: há, pelo menos, a intenção de alinhar o desenvolvimento do Estado a valores modernos de responsabilidade ambiental e social.
Entretanto, a credibilidade do discurso ESG é colocada em xeque quando confrontada com práticas que evidenciam sérios problemas de governança e integridade. Não é aceitável que, ao mesmo tempo em que se proclama o compromisso com o compliance, episódios envolvendo dirigentes de sindicatos ligados à Fiems revelem justamente o oposto. Casos recentes expuseram a fragilidade desse discurso, e o contraste entre a teoria e a prática é gritante.
Um desses episódios envolve uma padaria de Campo Grande, fechada pela vigilância sanitária. Até aí, seria um problema comercial isolado, não fosse o fato de que o estabelecimento pertencia ao presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria do Estado de Mato Grosso do Sul (Sindepan-MS), entidade vinculada à Fiems. A contradição é ainda mais desconfortável porque a própria federação havia enaltecido a eleição do empresário em seu site institucional.
Outro caso que coloca em dúvida a seriedade da governança corporativa local é o do presidente do Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados de Mato Grosso do Sul (Sicadems). A dívida dele com a União, superior a R$ 200 milhões, não foi sequer incluída em seu pedido de recuperação judicial – um procedimento que deveria zelar pela transparência e pela responsabilidade empresarial. Essa omissão compromete o princípio básico do compliance e lança dúvidas sobre os critérios éticos das lideranças setoriais.
Diante de tudo isso, fica evidente que, mais do que discursos, Mato Grosso do Sul precisa urgentemente de práticas coerentes com os princípios ESG. Sustentabilidade, responsabilidade social e governança não podem ser apenas adornos retóricos para eventos e campanhas institucionais. O verdadeiro desafio está em aplicar esses valores de forma concreta, ética e transparente. O Estado precisa, sim, de mais ESG – mas também de mais integridade.




