A recente escalada tarifária anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lança uma sombra preocupante sobre as relações comerciais entre o Brasil e o seu tradicional parceiro do norte. O impacto direto nas exportações brasileiras, especialmente na produção de carne bovina de Mato Grosso do Sul – um dos pilares de nossa balança comercial –, é uma possibilidade real e concreta. Mais do que um problema econômico, trata-se de um sinal de alerta para o risco que as disputas político-partidárias representam quando se sobrepõem aos interesses nacionais.
Não é incomum que países entrem em disputas comerciais. Tarifas, embargos e sanções são instrumentos que fazem parte do jogo diplomático entre nações que buscam proteger seus mercados, seus empregos e sua competitividade. No entanto, o que torna o atual episódio particularmente alarmante é o fato de que as tarifas impostas por Trump ao Brasil parecem estar mais associadas a motivações político-partidárias do que a argumentos econômicos sólidos. Quando a política interna de um país se transforma em moeda de troca para decisões comerciais, o prejuízo transcende fronteiras.
O pano de fundo dessa medida tarifária é inquietante. A inclusão do nome do ex-presidente Jair Bolsonaro como um dos motivos que fundamentariam a retaliação comercial indica que a disputa ultrapassou a lógica das balanças comerciais e entrou no território das pressões políticas. Pior: a medida se coloca como uma forma velada de interferência em processos jurídicos internos do Brasil, algo que, além de inaceitável, compromete as possibilidades de diálogo técnico e diplomático entre os dois países.
Nessas condições, a margem de negociação se torna estreita. Afinal, como negociar tarifas cujo real motivo não está nas planilhas de exportação e importação, mas sim nos palanques eleitorais e nos tribunais? Quando a diplomacia é colocada em segundo plano e os interesses comerciais são submetidos à lógica da disputa partidária, todos perdem – especialmente o setor produtivo, que depende de previsibilidade e segurança jurídica para operar.
O Brasil e os Estados Unidos são nações com muito mais afinidades do que divergências. A relação entre os dois países remonta a mais de 200 anos de história, cooperação e interesses compartilhados. São dois gigantes agrícolas, duas potências democráticas e duas economias com vasto potencial de complementaridade. Não faz sentido que esse laço seja enfraquecido por tensões momentâneas motivadas por ideologias ou disputas eleitorais.
É urgente que os líderes políticos de ambos os países tenham maturidade para isolar os interesses nacionais das querelas partidárias. A defesa da economia brasileira – e, em especial, de setores estratégicos como o agronegócio sul-mato-grossense – deve estar acima de qualquer alinhamento ideológico. A diplomacia deve ser restabelecida como canal prioritário de negociação, com foco em soluções e não em confrontos.
O que esperamos, como brasileiros, é que a cooperação entre as nações prevaleça. Que as diferenças políticas sejam respeitadas, mas não transformadas em obstáculos intransponíveis. E, sobretudo, que o Brasil saiba responder com firmeza e inteligência diplomática, defendendo sua soberania, sua economia e o bem-estar de seus cidadãos – sem jamais colocar os interesses partidários acima dos interesses nacionais.




