Artigos e Opinião

OPINIÃO

Sônia Puxian: "Uau..."

Sônia Puxian é Jornalista

Redação

19/03/2018 - 02h00
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Basta! É tanta informação, explicação, dieta disso e daquilo, exercícios específicos, mídia social, informativa, digital, impressa, televisiva, especulativa; é tanta notícia de tantas áreas: alimentação adequada, receita, comida, exercícios, isso e aquilo o tempo todo. Ugh! Chega uma hora que cansa. E, na maioria das vezes, surge uma pergunta: “O que será que está correto?”.  Comer isso ou aquilo, ouvir isso ou aquilo, seguir isso ou aquilo, aceitar isso ou aquilo, olhar isso ou aquilo ou nada disso?

Parece que, hoje em dia, tudo segue regras. Vamos a algumas delas. “Número 1: Coma alimentos saudáveis, menos carboidratos, mais proteínas, menos gordura, mais vegetais, menos pão, mais frutas, menos doces, mais grãos, menos refrigerante e por aí vai. Uau... Será que é possível dar conta do recado que muda a cada dia e aumenta a com novas descobertas? Quem está certo?

Quando você pensa que acertou numa receita ou exercício, surgem outras novidades, que também prometem resultados imediatos. Quando você pensa que o café era o vilão da história, ele reaparece como benfeitor da saúde do cérebro. Quando você pensa que os ovos eram os responsáveis pelo alto colesterol, ele reaparece como benfeitor dos músculos, quando você pensa que o pão é inofensivo à saúde, percebe que não é nada disso, até um simples pãozinho tem os seus efeitos nocivos.            

E por falar em “pãozinho”, o que está acontecendo com o nosso pão de cada dia? Está cada vez pior. O que será que estão adicionando em sua receita? Ou será que ele também tem ido à academia exercitar os músculos, porque, muitas vezes, ele já vem duro. Ugh! E na hora de cortar ao meio se despedaça e se tirar o miolo não sobra nada, hehehe.... Quer comprar pão? Melhor pensar direito. 

Vamos lá, regra número 2: “Pratique exercícios anaeróbicos, natação, Pilates, Academia, caminhada, esportes variados ou qualquer outro que seja do seu agrado. Mas será que agrada? Hoje as pessoas estão mais interessadas em manter a forma, exibir um corpo saudável, malhado, com formas harmoniosas, músculos firmes, barriga sarada a qualquer custo... O preço disso tudo? Preço alto, porque por trás dessas peripécias está a dedicação e o esforço que nem sempre é tão agradável”.

É difícil seguir à risca todo o ritual da boa forma desde a alimentação até os exercícios físicos, porque se porventura não forem executados nos dias certos ou forem deixados para trás por algum motivo, os músculos se despedem e dizem tchau ao seu dono, que se vê às voltas com uma imagem pouco recomendada.

Já pensou nisso? É preciso manutenção e atenção redobrada para mantê-los em dia, mas tem que pagar o preço! E de sobra tem que consumir ovos, afinal fortalecem os músculos. E não é só isso, existe toda uma programação rígida para que o corpo responda com aceitação tanta mudança e responsabilidade de se manter firme. Vai desistir?

Mas voltando às regras, vamos à de número 3: “Evite frituras, bebidas alcoólicas, cigarro, dormir tarde, trabalho excessivo, nossa, quanta exigência, será que as pessoas aguentam levar isso tudo adiante. No início é tudo agradável, novidade e a espera por resultados positivos gera expectativa, até que num dado momento essa peregrinação à Academia ou a qualquer outra atividade física começa a cansar. As idas nem sempre trazem conforto e muitas vezes começam a diminuir, afinal está dando muito trabalho...”.

Pois é! Há que se repensar todas essas questões e analisar com calma para elaborar o seu roteiro de boa forma e saúde. Será que está correto correr atrás de uma imagem que requer tanto empenho e dedicação? A resposta é sua. Só pra lembrar, no tempo de nossos avós não tinha nada disso. Tenham ótimos dias e muitas alegriasss...

ARTIGOS

O que tem para dizer o MPF?

19/11/2024 07h45

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O que há de ser entendido no silêncio que o Ministério Público Federal (MPF) adotou – quando se calou e se mantém calado – diante da solução que os governos federal e estadual encontraram para pôr fim ao caso da Terra Indígena (TI) Ñande Ru Marangatu, em Mato Grosso do Sul?

Como é sabido, a questão abarcava conflitos violentos que vinham acontecendo há décadas entre indígenas e não indígenas. Esses conflitos foram desencadeados a partir da instrução do processo administrativo em que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) demarcou – pela ocupação indígena em passado remoto que ela mesmo declarou – um território inteiro de terras particulares em Antônio João, até então, integralmente ocupado, possuído e explorado há quase um século por seus respectivos proprietários. 

O que amparava esses conflitos era a teoria do indigenato, de 1912, do ministro João Mendes, que pela ocupação indígena em passado remoto identificou a TI Ñande Ru Marangatu. Essa forma de identificação de terra indígena tem sido a causa das incontáveis invasões indígenas às terras particulares que ocorreram e que ocorrem todos os dias em MS e em muitas regiões do território nacional.

Lado outro, a Comissão Especial de Autocomposição do Supremo Tribunal Federal (STF) homologou o acordo, o que leva concluir que a mais alta Corte de Justiça concorda com esse modus operandi de se identificar terras indígenas e o adota, como se tanto fosse possível, na solução das causas que julga envolvendo matéria indígena. O exemplo mais recente envolve o julgamento do Recurso Extraordinário nº 1.017.365/SC.

Aliás, a Corte faz confusão quando identifica terras indígenas. Ora adota a teoria do indigenato, ora adota a sua própria interpretação, proclamada na assertiva de que a “configuração de terras ‘tradicionalmente ocupadas’ pelos índios já foi pacificada com a edição da Súmula nº 650, que dispõe: ‘Os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal não alcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado remoto’”.

Notadamente, o STF relativizou ainda mais o direito de propriedade constitucional diante da matéria indígena, proclamando que, uma vez constatada a ocupação indígena em passado remoto, não há que se invocar o direito de propriedade, o título translativo nem a cadeia sucessória do domínio como defesa. Em resumo, o posicionamento extremo do Supremo é de que a ocupação indígena – seja ela presente, seja ela em passado remoto (indigenato) – define a terra indígena da União. 

A seu turno, por que o MPF – ferrenho defensor dessa ordem jurídica – deixou que os governos federal e estadual pagassem aos particulares pelas terras indígenas que ocupavam e exploravam no distrito de Campestre, em Antônio João? Com a palavra, o MPF em Mato Grosso do Sul!

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ARTIGOS

A resiliência e a fé

19/11/2024 07h30

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Os desafios diários enfrentados por quem atua na proteção da natureza têm se tornado uma enorme prova de resistência e fé. As condições climáticas extremas, impulsionadas pelas altas temperaturas, ameaçam nossas reservas com o fogo e penalizam a fauna e a flora – já impactadas pela reincidência de incêndios violentos desde 2020.

Percebo que a fauna enfrenta o pior processo de extinção desde o período em que conseguimos a vitória no controle da caça, do tráfico de animais silvestres e da pesca predatória na década de 1980. O cenário atual é de destruição de habitat natural, em que espécies estão sendo dizimadas de forma assustadora, especialmente répteis e insetos. As chamas estão tão intensas que, somadas aos ventos fortes, invadem todos os lugares: locas, copas das árvores, etc, persistindo por meses de forma impiedosa.

Não há dúvidas de que estamos perdendo essa batalha. Somente neste ano já ultrapassamos os 3 milhões de hectares queimados. Esse trágico número foi alcançado mesmo com o empenho de recursos financeiros nas ações de combate, que certamente superam R$ 1 bilhão – entre os investimentos dos governos federal e estadual.

Nunca tivemos – em um histórico de 40 anos – uma infraestrutura de combate tão ampla, incluindo recursos humanos, equipamentos de logística, helicópteros, caminhões e embarcações. É importante destacar o trabalho pioneiro da Famasul, que contabiliza os prejuízos na produção das fazendas no Pantanal, já ultrapassando R$ 50 milhões.

Como podemos ser mais eficientes se nossa capacidade financeira já extrapola seus limites dos desafios e a força humana se mostra insuficiente, em algumas situações até incapaz? Estamos enfrentando algo sem precedentes e que excede nossa capacidade de resposta.

Não devemos nos omitir na identificação dos responsáveis. Eles existem, embora sejam poucos. Ainda assim, acredito que não haverá melhoras significativas na questão comportamental apenas com multas milionárias e possíveis prisões. 

A experiência de outros países, como Portugal e Austrália, nos indica que o ímpeto punitivo não traz uma solução completa. Esses países já lidam com incêndios gigantescos e perdas de vidas humanas em virtude deles há mais de 20 anos.

O mais impressionante – e certamente mais doloroso que as próprias chamas – são as acusações equivocadas e a ignorância de alguns que associam o crescimento dos incêndios às reservas de proteção. Ao contrário, as poucas áreas protegidas no Pantanal (menos de 5%) têm estruturas para evitar incêndios e ações preventivas em seus planos de trabalho, como a presença de brigadas.

Podemos reduzir a escalada dos incêndios ano após ano se implementarmos outras estratégias que não se restrinjam ao combate ao fogo, mas que incluam 
a prevenção. Devemos reconhecer que nossos planos atuais não estão trazendo os resultados esperados e que não será somente o aumento dos investimentos financeiros que nos trará a solução.

O ponto crítico é como um dos biomas mais preservados (cerca de 85%) passou a ser um grande emissor de gás carbônico no País. Os fenômenos naturais são impactados negativamente pelas condições climáticas extremas. Essa situação ameaça nosso bioma e exige novas estratégias que unam ciência e competência para enfrentar esses fenômenos sem precedentes.

Restaurar ao proprietário formas de manejo do fogo pode ser uma alternativa. Eles podem ajudar. Ao mesmo tempo, com mais tecnologia e grupos de ação de combate ao fogo, equipados com boa logística e equipamentos adequados, podemos reduzir o tempo de resposta. Não podemos desistir e precisamos ter fé e resistência para rever nossa relação com o planeta.

Poderíamos, em um gesto responsável, olhar e fazer algo pela nascente do Rio Paraguai. Não sou pessimista, mas talvez apenas a desesperança e o senso de urgência possam nos salvar.

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