A sobreposição da polarização política sobre a boa gestão tem prejudicado a vida de nossa gente. Exemplo recente, em seu grau mais nocivo, é o episódio da imposição por parte dos Estados Unidos de tarifas de 50% aos produtos brasileiros com justificativas políticas. Diferentemente da maioria das reações que politizaram ainda mais o tema, prefiro racionalizar a análise com equilíbrio e propostas. Esta crise não é apenas fruto de uma decisão externa – ela é alimentada por narrativas extremadas que dominam a política nacional. De um lado, há quem veja perseguição e peça apoio internacional. De outro, há a ênfase em soberania e o repúdio a qualquer influência externa.
A disputa interna transbordou para o campo diplomático e comercial, provocando insegurança, o que, ao meu ver, é grave. Isto porque a segurança jurídica enfraquece e decisões econômicas passam a seguir a lógica eleitoral, não a lógica técnica. Resultado: exportadores perdem mercado, e o País perde divisas, investimentos e empregos, ao passo em que a imagem internacional se deteriora e o Brasil é visto como instável e imprevisível.
Quem paga a conta? O cidadão comum, que sente o dólar mais caro, os preços dos produtos mais altos, e o emprego, a estabilidade e o poder de compra cada vez mais distantes.
Se me permitem, há caminhos para sair desta crise. É possível, sim, reagir com equilíbrio e responsabilidade, por meio de medidas concretas, entre elas: reativar o diálogo do Brasil com os Estados Unidos. O Itamaraty precisa liderar uma diplomacia técnica, afastada de disputas ideológicas, buscando a interlocução direta com lideranças norte-americanas.
Outra medida: acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC), o que reforça o compromisso com regras internacionais e ajuda a tirar o tema do campo político. Apostar em novos mercados é outro caminho para o País reduzir a dependência americana e abrir outras oportunidades. E, não menos importante: blindar a política externa da polarização. Afinal, a diplomacia deve ser política de Estado, não política de governo. Em suma: o Brasil precisa voltar a ser visto como parceiro confiável e previsível.
O tarifaço imposto pelos Estados Unidos é, ao meu juízo, uma reação desproporcional, mas também é reflexo da imagem fraturada que o Brasil tem projetado ao mundo nos últimos tempos. Quando líderes políticos transformam o País em um palco de confronto permanente, os efeitos extrapolam a política e atingem em cheio a economia, os empregos e a estabilidade nacional.
Por fim, sublinho: o Brasil precisa, urgentemente, blindar a sua política externa das batalhas eleitorais internas. É hora de resgatar o profissionalismo diplomático, investir em previsibilidade institucional e reconstruir pontes com parceiros estratégicos. Mas, também, é hora de aprendermos uma lição: não se combate um tarifaço com trincheiras retóricas, nem com discursos inflamados e, muito menos, com o silêncio pragmático do “deixa como está”.
Momentos como este se combate com planejamento, diálogo, unidade, visão de futuro e, acima de tudo, com gestão. Esse é o caminho que proponho: mais gestão, menos polarização – uma urgência nacional.




