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sem fiscalização

Emenda Pix no valor de R$ 4,07 milhões "desaparece" no município de Vicentina

A prefeitura informou apenas que o recurso foi destinado para saúde, assistência social e educação, mas não deu nenhum detalhe

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Contemplado com R$ 4.073.023,00 oriundos de uma única emenda na categoria de transferências especiais, mais conhecidas como “emendas Pix”, de autoria do ex-deputado federal Loester Trutis (PL), o município de Vicentina, localizado no sul de Mato Grosso do Sul e com 6.109 habitantes, é um dos 1.805 do Brasil com até 10 mil habitantes que receberam, até agora, um total de R$ 1,4 bilhão nesta modalidade de emenda, conforme levantamento inédito da Transparência Brasil.

Segundo esse estudo, apesar de receber parte significativa dos recursos, esses municípios pequenos têm, geralmente, mecanismos de controle interno e externo sobre o gasto público mais frágeis.

Como o Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu que a responsabilidade da fiscalização do uso das “emendas Pix” é justamente desses órgãos, tem-se um cenário aberto à ineficiência do gasto público e ao desvio de recursos.

O Correio do Estado procurou o prefeito de Vicentina, Marcos Benedetti Hermenegildo (PSDB), o Marquinhos do Dedé, para saber como foram aplicados os R$ 4,07 milhões liberados ao município pelo governo federal entre os dias 5 e 7 de julho deste ano.

Porém, até o fechamento desta matéria, não obteve sucesso, entretanto, o espaço continua aberto para que o gestor municipal possa se pronunciar. 

Como não conseguiu obter informações com o Executivo municipal, a reportagem entrou em contato com o presidente da Câmara Municipal de Vicentina, José Silva Machado (PSDB), o Duda, que obteve na prefeitura o relato de que o recurso federal teria sido destinado para três áreas: saúde, educação e assistência social.

“Na área da assistência social, me informaram que foram investidos no atendimento dos idosos, enquanto na saúde foi para a aquisição de veículos e, na educação, não me informaram. Só me passaram que foram para essas três áreas”, garantiu.

Na prática, os R$ 4,07 milhões liberados ao município pelo governo federal “desapareceram”, pois, como não foram apresentados documentos demonstrando em que áreas foram gastos esses recursos, é possível afirmar que o dinheiro “sumiu”. 

O Correio do Estado ainda procurou o ex-deputado federal Loester Trutis para verificar como foi a tratativa com o prefeito para a destinação do montante milionário no município Vicentina, entretanto, também não obteve sucesso, e o espaço também continua aberto para que o ex-parlamentar possa se pronunciar.

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SEM TRANSPARÊNCIA

A “emenda Pix” é uma modalidade das emendas individuais (RP 6) que permite o envio direto dos recursos às prefeituras e estados.

Durante a elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA), parlamentares reservam as emendas e não são obrigados a especificar o destino ou no que os recursos serão usados.

Conforme apontado pela Transparência Brasil em relatório anterior, de 2020 a 2023, apenas 15% dos R$ 13 bilhões em “emendas Pix” foram apresentadas à LOA com destino definido.

O restante trazia apenas informações genéricas para o local que o recurso seria enviado, como “municípios do estado” ou “nacional”. 

A única plataforma indicada pelo governo federal para beneficiários declararem o recebimento de transferências especiais é o Portal Transferegov, substituto do +Brasil.

No entanto, a prestação de contas sobre o uso do recurso é opcional, de acordo com as portarias de execução orçamentária vigentes.

Ao redirecionar parte dos recursos antes destinados às emendas de relator que compunham o orçamento secreto para as “emendas Pix”, o Congresso e o governo federal mantêm um alto grau de ausência de transparência sobre o Orçamento da União. 

Essencialmente, permanece o aspecto que foi considerado inconstitucional pelo STF em dezembro de 2022. Embora os autores das “emendas Pix” sejam conhecidos, elas envolvem uma opacidade dupla: sobre o destinatário final e sobre como esse destinatário vai usar o recurso.

Nas consultas públicas dos principais painéis de execução orçamentária federal, o Siop e o Siga (Senado), não é possível rastrear o destino exato de 85% das “emendas Pix” aprovadas entre 2020 e 2023.

Isso ocorre porque, ao formalizarem suas emendas individuais (RP 6) no Projeto de Lei Orçamentária (Ploa), os parlamentares podem optar por definir ou não o destino no campo “localizador” ou “subtítulo”, que é o “menor nível da categoria de programação orçamentária, que delimita a localização geográfica da ação orçamentária”, segundo o Ministério da Gestão e Inovação.

Ou seja, o autor da emenda pode determinar expressamente qual será a cidade beneficiada, indicando de forma genérica que o recurso vai para um determinado estado ou para uma região.

Em casos extremos, pode até indicar o localizador “nacional”, que na prática pode ser direcionado para qualquer estado ou município brasileiro.

Ao não determinar o destino final da emenda incorporada à LOA, caberá ao deputado ou senador indicar posteriormente o destinatário.

Segundo o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, os parlamentares “autores das emendas individuais indicam e atualizam os beneficiários de suas emendas e a ordem de prioridade no módulo Emendas Individuais do Siop, e não por expedientes oficiais”. 

Na prática, o direcionamento não se dá mediante ofícios, e sim diretamente no sistema informatizado, cujo acesso é restrito apenas a “parlamentares, seus assessores devidamente cadastrados e servidores públicos federais integrantes do Spof [Sistema de Planejamento e Orçamento Federal]”. O público não tem acesso a essas informações de forma atualizada.

RECOMENDAÇÕES

No estudo, a Transparência Brasil faz recomendações, já que foi constatado que o instrumento das transferências especiais é permissivo à, na melhor das hipóteses, ineficiência do gasto público e, na pior delas, à malversação do uso de recursos públicos.

Entre elas está a de que as peças orçamentárias restrinjam a quantidade ou o montante de emendas genéricas (sem destinação específica) na modalidade transferências especiais, estabelecendo um porcentual máximo de emendas cujo localizador não é o destinatário final (município ou estado), permitindo assim o rastreio na LOA e em sua execução.

Outra sugestão é que o governo federal atualize a Portaria Interministerial ME/Segov nº 6.411/21 e a Portaria Interministerial MPO/MGI/SRI-PR nº 1/2023 para estabelecer que os entes subnacionais beneficiários de transferências especiais têm como competência, além da indicação de seus dados bancários, a prestação de contas da aplicação do recurso na plataforma Transferegov informando, em prazo específico, pelo menos a finalidade de utilização dos recursos e os contratos relativos a tal utilização.

Também é recomendado que haja celeridade na celebração de acordo de cooperação técnica entre os tribunais de contas estaduais e dos municípios, a Controladoria-Geral da União (CGU) e o TCU, nos moldes do proposto pelo TCU no Acórdão 517/2023, de modo a promover a adequada fiscalização do uso das “emendas Pix”. 

Para finalizar, a Transparência Brasil sugere que o Congresso Nacional aprimore o art. 82 do Projeto de Lei n°4/2023-CN, que trata da LDO de 2024, para obrigar maior transparência às prefeituras e aos governos estaduais na prestação de contas, recebimento de recursos e planos de trabalho relacionados às transferências especiais. 

A Casa de Leis ainda pode criar exigência legal para a permanente prestação de contas de beneficiários das transferências especiais.

Política

STF forma maioria de votos contra marco temporal de terras indígenas

Os seis votos foram dos ministros Gilmar Mendes, relator, Flavio Dino, Cristiano Zanin, Luiz Fux, Alexandre de Moraes e Dias Toffoli

17/12/2025 18h15

Indígenas bloquearam ontem parte da MS-156, em Dourados, em protesto contra o julgamento

Indígenas bloquearam ontem parte da MS-156, em Dourados, em protesto contra o julgamento Dourados News/Clara Medeiros

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O Supremo Tribunal Federal (STF) formou nesta quarta-feira (17) maioria de votos pela inconstitucionalidade do marco temporal para demarcação de terras indígenas. 

Até o momento, a Corte tem placar de 6 votos a favor e nenhum contra a restrição às demarcações. A maioria foi formada pelos votos dos ministros Gilmar Mendes, relator, Flavio Dino, Cristiano Zanin, Luiz Fux, Alexandre de Moraes e Dias Toffoli. Ainda faltam quatro votos.

A votação virtual começou na segunda-feira (15) e fica aberta até quinta-feira (18), às 23h59.

Luta contra o marco temporal

Em 2023, o STF considerou a tese do marco temporal inconstitucional. Além disso, o marco também foi barrado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que vetou parte da Lei nº 14.701/2023, aprovada pelo Congresso Nacional. Contudo, os parlamentares derrubaram o veto presidencial e promulgaram a medida.

Dessa forma, voltou a prevalecer o entendimento de que os indígenas somente têm direito às terras que estavam em sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal, ou que estavam em disputa judicial na época.

Após a votação do veto presidencial, o PL, o PP e o Republicanos protocolaram no STF ações para manter a validade do projeto de lei que reconheceu a tese do marco temporal.

Por outro lado, entidades que representam indígenas e partidos governistas também recorreram ao Supremo para contestar novamente a constitucionalidade da tese.

É neste cenário de divergência que o Supremo voltou a analisar a matéria.

Em paralelo ao julgamento no Supremo Tribunal Federal, o Senado aprovou, na semana passada, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 48/2023, que insere a tese do marco temporal na Constituição Federal, em novo capítulo da briga entre Legislativo e Judiciário.

Mato Grosso do Sul

A decisão interessa, principalmente, o Estado de Mato Grosso do Sul, que possui a terceira maior população de indígenas do país. De acordo com último Censo, divulgado pelo IBGE em 2022, Mato Grosso do Sul saiu de 77.025 originários em 2010 para 116.346 mil. A população de MS fica atrás apenas do Amazonas (490,8 mil) e da Bahia (229,1 mil).

Os cinco maiores municípios de MS em população indígena são: Campo Grande (18.439), Dourados (12.054), Amambai (9.988), Aquidauana (9.428) e Miranda (8.866).

Do total de indígenas em MS, 68.534 mil pessoas moram em terras indígenas, e outros 47.812 residem fora.

A Terra Indígena Dourados tem a 6ª maior população residente indígena do País, com um total de 13.473 mil. 

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FAMÍLIA RAZUK

Um dia após ser condenado a perda do mandato, deputado Neno vota à distância na Assembleia

Com isso, não comparecendo à assembleia, Razuk não correu o risco de ser notificado da condenação ou da perda do mandato

17/12/2025 15h00

Neno Razuk não compareceu à sessão plenária da ALEMS desta quarta-feira

Neno Razuk não compareceu à sessão plenária da ALEMS desta quarta-feira Marcelo Victor/Correio do Estado

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O deputado estadual Roberto Razuk Filho, o Neno Razuk (PL) foi condenado ontem (16) pela 4ª Vara Criminal de Campo Grande a 15 anos, 7 meses e 15 dias de reclusão, em regime fechado, por ser indicado como chefe de uma organização criminosa voltada ao jogo do bicho. 

No entanto, a condenação não impedia o deputado de comparecer à Assembleia Legislativa nesta quarta-feira (17) para a última plenária do ano. Mesmo assim, o parlamentar não compareceu à Casa e participou da votação das cinco propostas aprovadas na ALEMS. 

Mesmo com a sentença, Razuk terá o direito de recorrer à decisão em liberdade. Ao Correio do Estado, o advogado André Borges, da defesa do parlamentar, afirmou que vai recorrer da sentença e que o "processo está longe de encerrar". 

Com o não comparecimento na Assembleia, o deputado não correu risco de ser notificado da condenação e nem prestar esclarecimentos à imprensa. 

Neno Razuk não compareceu à sessão plenária da ALEMS desta quarta-feira O voto do deputado apareceu durante as deliberações das propostas na última sessão plenária da ALEMS de 2025 nesta quarta-feira (17) / Fonte: Reprodução

Sentença

A investigação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) apontou que Neno Razuk seria o líder de uma organização criminosa que estaria praticando, de forma intensa, as práticas em Campo Grande após as prisões de Jamil Name e Jamil Name Filho durante a Operação Omertà, deflagradas em 2019 pelo MPMS contra as milícias armadas. 

Segundo as investigações, após as prisões, a família Name teria vendido seus pontos "na marra" e com uso de violência para um grupo de São Paulo, em uma tentativa de roubo a um malote do jogo do bicho que chamou a atenção das autoridades para investigar a situação. 

No documento que decretou 20 prisões preventivas de alvos da quarta fase da Operação Successione e 27 mandados de busca e apreensão, no mês passado, a família Razuk é "conhecida há décadas pela exploração ilegal do jogo do bicho e com expertise nas negociatas relacionadas ao ilícito". 

Além do crime da jogatina ilegal, também foram citados os de "assalto à mão armada e lavagem de dinheiro", especialmente na região de Dourados. 

Nas investigações da Gaeco, o clã da família Razuk tinha o plano de expandir a organização criminosa para o estado de Goiás. 

Segundo a averiguação dos fatos, o grupo realizava estudos com o apoio de organizações do estado goiano, como investidores e figuras influentes, para derrubar a liderança local da jogatina, que era comandado por Carlinhos Cachoeira, um bicheiro local.  

Com um financiamento de R$ 30 milhões de um investidor ainda não identificado, a missão era levar a uma "guerra pelo controle do jogo do bicho que atingiria ambos os Estados", como consta na investigação. 

As penas aplicadas pelo Judiciário somam mais de 100 anos de reclusão e multas que ultrapassam R$ 900.000,00 (novecentos mil reais), além da perda de mandato do deputado estadual Neno Razuk.

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