Política

ESTATÍSTICA

Entenda por que as pesquisas são cada vez mais questionadas

Especialistas apontam as razões pelas diferenças nos porcentuais; em MS, eleições de Zeca do PT, nos anos 1990, e de Soraya Thronicke, em 2018

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A pesquisa eleitoral é um dos termômetros que indicam a intenção de voto da população, e os resultados quase sempre diferem um do outro. Com isso, é certo afirmar que os levantamentos erram? Não, afinal, o cenário eleitoral pode mudar do dia para a noite. 

E os levantamentos são feitos sempre em dias antes da data da eleição. No entanto, há eleitores que acompanham os números dos institutos ou para animar ainda mais suas intenções de voto, ou para criticá-los.

Sobram exemplos de números de pesquisas eleitorais que não deram certo em Mato Grosso do Sul. Veja duas que envolveram um mesmo candidato: em 1998, na disputa pelo governo do Estado, e em 2018, duas décadas depois, na briga por duas vagas ao Senado.  

José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, concorria lá atrás ao governo. Era o azarão. Já há quatro anos, era tido como certo o dono de um dos mandatos de senador.

Em 1998, disputaram a sucessão do governador Wilson Barbosa Martins, do então PMDB, os candidatos Ricardo Bacha (PSDB), Pedro Pedrossian (PTB), Zeca do PT e Heitor de Oliveira (Prona).

As pesquisas indicavam Bacha como favorito e Pedrossian na cola dele. Zeca já era tido como perdedor, conforme as pesquisas. Veio o segundo o turno, Pedrossian caiu fora. Bacha e Zeca foram para o segundo turno, o primeiro da história política de MS.

Bacha ainda liderava, mas Zeca do PT, para surpresa dos eleitores, tornou-se governador.

Vinte anos depois, Zeca, ao contrário da disputa pelo governo, levou uma invertida pelo que demonstravam os levantamentos eleitorais.

Dias antes da eleição de 2018, na disputa pelas duas vagas ao Senado, a pesquisa do extinto Ibope (hoje Ipec) apontava Nelsinho Trad, à época no PTB, na dianteira com 33% e Zeca do PT na sequência, com 30%. Moka (MDB), que concorria à reeleição, obteve 19%, e Delcício do Amaral, então no PTC, obteve 14%. A então estreante na política Soraya Thronicke, pelo PSL, surgira lá embaixo, com apenas 4%.

Na abertura das urnas, o inesperado: Nelsinho confirmou o favoritismo e, sustentada pela onda Bolsonaro, Soraya ficou com a segunda vaga, deixando de fora Zeca do PT.

Mas por que as diferenças nos resultados dos institutos de pesquisas quando medem as intenções de voto? Hoje, por exemplo, em Mato Grosso do Sul, os levantamentos indicam praticamente um empate técnico entre ao menos três dos postulantes ao governo de MS.

Ontem, em Campo Grande, o general Braga Netto, vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL), que aparece atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos levantamentos, disse não acreditar em pesquisas.  

“Eu não acredito [em pesquisa], a pesquisa não é o que eu vejo nas ruas e não é o que vejo com os políticos”, disse.

O Correio do Estado ouviu a opinião de três estudiosos sobre o assunto para responder à questão. Veja o que eles dizem.

Michel Constantino, doutor em Economia e cientista de dados

“As explicações sobre as diferenças entre pesquisas eleitorais aumentaram de 2018 para cá, principalmente pelos resultados confrontados com a realidade. Os números apresentados pelas pesquisas mais ‘famosas’ ficaram muito aquém dos resultados.

Há diferentes métodos de pesquisa, abordagens e definição de amostra. Os diferentes métodos de pesquisa não podem dar resultados divergentes, pois assim não seria estatística.  

O que muda é a abordagem da pesquisa e a definição da amostra, ou seja, como e onde se faz a coleta do dado, no primeiro caso, algumas pesquisas são presenciais, outras são on-line ou por telefone (ou ainda misturando as técnicas de coleta).  

A forma de coletar te traz resultados diferentes, principalmente em relação aos horários da pesquisa, humor do pesquisado e propensão a responder.  

No segundo caso, ou seja, na amostra, há muitos erros amostrais e escolhas ou definições de regiões que podem manipular ou levar a erros maiores. 

É o exemplo de escolher municípios, bairros e comunidades onde você teve maioria de votos do candidato X na eleição de 2018. Você continua respeitando a quantidade amostral e o georreferenciamento, mas escolhe o grupo com maior interesse de resposta pelo candidato X.”

Daniel Miranda, doutor em Ciência Política e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

“As divergências ocorrem basicamente pelo seguinte: praticamente todos os institutos de pesquisas usam a mesma técnica, a mesma técnica geral de composição da sua amostra, que é amostra por conglomerados ou por cotas.  

Na amostra por cotas, basicamente você pega a população e as características da população, tais quais registradas no Censo, e tenta replicar isso na amostra batendo determinadas cotas numéricas.

Por exemplo, se a gente tem na população sul-mato-grossense 52% de mulheres e 48% de homens, então você vai ter uma cota de mulheres de cinquenta e dois por cento na sua pesquisa.  

Então, se for entrevistar, por exemplo, mil pessoas, cinquenta e dois por cento desses mil têm de ser mulheres, quarenta e oito por cento têm de ser de homens.  

E se você tiver uma distribuição nas classes A, B, C, D e E, obviamente nas classes E, D e C haverá um número maior de pessoas na população, então lá na sua amostra tem de haver também, é claro, um número maior de respondentes, de entrevistados das classes C, D e E, e assim por diante.

Onde está normalmente a variação de uma pesquisa para a outra? A questão toda está em você determinar a quantidade de pessoas a serem entrevistadas em cada uma dessas cotas. Quantos homens, quantas mulheres, pessoas pretas, pardas, brancas, pobres, ricos, etc.

Porque isso pode parecer algo simples, basta olhar o Censo, só que a gente tem dois problemas. Um deles é que o último Censo que nós temos é de 2010, então ele está desatualizado, obviamente. No momento atual, o IBGE está fazendo um novo Censo, que ainda não está completo.

Então, alguns institutos usam esse Censo de 2010, outros usam alguma atualização que o IBGE fez, e isso pode dar divergência também. E, por questões técnicas ou de escolha mesmo, pode haver pequenos ajustes.  

Por isso, vou te dar um exemplo. Vamos supor que eu tenha de definir lá que uma das minhas cotas é de jovens entre 24 e 29 anos. Vamos supor que eu teria de entrevistar 50 pessoas. 

Mas, por algum motivo, sempre há uma margem, às vezes, a pessoa acaba entrevistando 60, por exemplo, não é tão absurdo assim, às vezes não altera a porcentagem. Porcentagem não se altera tão significativamente você mais ou menos bateu a cota.”

Lauredi Sandim, diretor do Instituto de Pesquisas do Estado de Mato Grosso do Sul (Ipems)

“As diferenças de resultados de pesquisas ocorrem por diversos motivos. A metodologia pode ser um deles, a forma da coleta de amostras é outro.

O Ipems coleta amostra presencial. Face a face. Então, são entrevistas pessoais, em ponto de fluxos e cidades maiores. Nas maiores, fazemos a divisão da área urbana por regiões.

A gente mexe com pesquisas há mais de 30 anos, o Ipems foi fundado em 1991. Então, a gente vê realmente coisas que chegam a enrubescer qualquer cidadão. Porque sabemos que há bons e maus profissionais.

Pessoas que fazem o jogo dos contratantes, de grupos. Então, isso daí não é exclusividade aqui de Mato Grosso do Sul, não. Isso é no Brasil inteiro.

Infelizmente, é assim. Penso, inclusive, que a coisa deveria ser muito mais rigorosa, muito mais bem fiscalizada. Não apenas a elaboração do plano amostral com o desenho da mostra, como quantas entrevistas vão ser realizadas em cada localidade. E o perfil dos entrevistados não é apenas isso, não.

E eu teria de buscar outros meios sobre a veracidade daquela coleta. Porque há institutos mágicos, que conseguem fazer uma amostra grande em poucos dias, no mínimo de dias, o que realmente é muito difícil e impossível. Então fica esse registro.”

CRIME ORGANIZADO

Fronteira com MS, Paraguai fecha acordo com EUA para combater facções criminosas

A região é rota de tráfico de drogas para o Brasil, Argentina e Uruguai. O plano estratégico prevê o estabelecimento ou ampliação de tropas norte-americanas de importância estratégica

16/12/2025 16h15

Marco Rubio,  secretário de Estado

Marco Rubio, secretário de Estado Reprodução: rede social

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Paraguai e Estados Unidos selaram nesta segunda-feira (15), um acordo de cooperação militar que prevê a atuação de militares americanos no país sul-americano. Atualmente, na região, a Casa Branca tem acordos similares com Panamá, Equador, Bahamas e Trinidad e Tobago.

O Acordo Estatutário de Forças (Sofa, na sigla em inglês) regulamenta a atuação de militares e civis do Departamento de Defesa americano em países estrangeiros. O pacto foi assinado pelo secretário de Estado, Marco Rubio, e o chanceler paraguaio, Ruben Ramirez Lezcano.

O objetivo, segundo o governo americano, é facilitar a resposta conjunta a interesses de segurança regional em comum para os dois países, em uma referência velada a cartéis de droga que atuam na região.

“Ao estabelecer uma estrutura para as atividades do pessoal militar e civil dos EUA no Paraguai, este acordo abre novas portas para nossos esforços coletivos para promover a segurança e a estabilidade em nosso hemisfério”, disse Rubio em sua conta no X.

“Se observarmos o problema fundamental no hemisfério, o mais grave que enfrentamos é o dessas organizações terroristas transnacionais, que em muitos casos não são terroristas por ideologia, mas têm uma base financeira e econômica”, acrescentou.

Nova Doutrina Monroe

O acordo, apesar de não autorizar operações armadas ou criação de bases, abre caminho para a cooperação e treinamento militar entre os dois países, e vem a público dias depois de os EUA divulgarem sua nova Estratégia de Segurança Nacional, que prevê uma ampliação da presença militar na América Latina.

Na ocasião, o documento evocou a Doutrina Monroe, que ficou conhecida no século 19 sob o lema “América para os americanos”, e defendeu uma hegemonia dos EUA sobre a região frente às potências europeias.

O plano estratégico divulgado na semana passada prevê o estabelecimento ou ampliação de acesso de locais de importância estratégicas para o governo americano.

No centro do continente e cercado por importantes fontes de água doce e rotas de narcotráfico, o Paraguai se encaixa nesse perfil.

Hoje, os EUA têm ainda bases militares no Equador, na Colômbia e no Peru, operadas pelo Comando Sul.

Há anos, a presença de grupos armados ligados ao Hezbollah na tríplice fronteira entre o Paraguai, Brasil e Argentina preocupa o governo americano.

A região também é ponto de rota para o escoamento de drogas para o Brasil, Argentina e Uruguai.

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LEVANTAMENTO

Contas públicas em MS: cidades do interior exibem superávit milionário

Análise de dados dos balanços de 2024 e orçamentos de 2025 revela os municípios agrícolas estão com a gestão em dia

16/12/2025 15h34

O prefeito de Costa Rica, Cleverson Alves dos Santos (PP), atribui o resultado à disciplina fiscal

O prefeito de Costa Rica, Cleverson Alves dos Santos (PP), atribui o resultado à disciplina fiscal Divulgação

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O cenário das finanças públicas dos municípios do interior de Mato Grosso do Sul nos anos de 2024 e 2025 desenha um mapa positivo. Liderados pelo exemplo de eficiência de Costa Rica, essas cidades exibem caixas robustas e capacidade de investimento.
 
A reportagem analisou dados abertos, relatórios de gestão fiscal e leis orçamentárias dessas cidades e a conclusão é que o tamanho da arrecadação deixou de ser garantia de solvência: o segredo do sucesso está no controle rígido das despesas obrigatórias.
 
Na região norte do Estado, Costa Rica consolidou-se em 2025 como o principal case de sucesso administrativo de Mato Grosso do Sul. Com uma população de pouco menos de 30 mil habitantes, o município apresenta indicadores de solvência superiores aos da Capital.
 
Dados do movimento financeiro da tesouraria municipal, publicados em 9 de dezembro de 2025, confirmam que a cidade atingiu uma disponibilidade financeira total de R$ 44.061.054,25. O montante, que inclui todas as fontes e fundos municipais, blinda a cidade contra oscilações econômicas e garante a execução de obras sem depender exclusivamente de repasses estaduais ou federais.
 
O prefeito Cleverson Alves dos Santos (PP) atribui o resultado à disciplina fiscal. "Todas as nossas despesas obrigatórias serão quitadas", assegurou o gestor, confirmando não apenas o pagamento em dia, mas a concessão de um abono de natal e final de ano: R$ 1 mil para servidores gerais e valores entre R$ 1 mil e R$ 2 mil para servidores da Educação.
 
O diferencial competitivo de Costa Rica está na estrutura de seus gastos. O município iniciou o ano comprometendo apenas 31,87% com a folha. Essa "gordura" fiscal permitiu que o município aprovasse um orçamento recorde de R$ 262 milhões em 2025, garantindo investimentos de 27% da receita em Saúde, quase o dobro do mínimo constitucional exigido.
 
Além de garantir o pagamento dos servidores ativos até o dia 22 de dezembro, a prefeitura programou as férias de 90% do funcionalismo para janeiro, otimizando a máquina pública durante o recesso escolar e administrativo.
 
Embora Costa Rica lidere os indicadores proporcionais, outros municípios também conseguiram descolar-se da crise. Três Lagoas, impulsionada pela indústria da celulose, teve um orçamento bilionário de R$ 1,4 bilhão para 2025 e mantém índices elevados de investimento em infraestrutura.
 
O município aplicou no segundo quadrimestre de 2025 o dobro do mínimo exigido pela Constituição em Saúde, enquanto a lei obriga 15%, o município investiu 30,79% de suas receitas de impostos na área, somando mais de R$ 296 milhões empenhados. Na educação, o investimento também superou o piso, atingindo 26,93%.
 
Fenômeno similar ocorre em Maracaju. Impulsionada pela soja, a prefeitura destinou 25,67% de recursos próprios para a Saúde até agosto de 2025, um aporte de R$ 32,3 milhões que garante serviços exclusivos no interior sem depender integralmente de repasses estaduais. 
 
A solidez fiscal permitiu à Câmara de Maracaju aprovar uma suplementação de 35% no orçamento de 2025, dando "carta branca" para o Executivo remanejar recursos e acelerar obras.
 
Na fronteira, a realidade impõe cautela. Ponta Porã enfrenta uma frustração de receitas severa: a arrecadação até agosto de 2025 foi de R$ 417 milhões, menos da metade da previsão anual de R$ 900 milhões. 
 
A quebra de arrecadação do ITBI e a estagnação econômica forçaram o município a projetar um orçamento mais enxuto para 2026, cortando R$ 100 milhões da previsão inicial. Ainda assim, a gestão optou por blindar os repasses constitucionais da Educação (projetado em 27%) e da Saúde.
 
Em Corumbá, a aplicação em saúde do orçamento atingiu 18,13%, pouco acima do piso de 15%. A rede de saúde de Corumbá enfrenta custos logísticos adicionais devido ao isolamento geográfico e à necessidade de transporte de pacientes (UTI aérea/fluvial). 
 
Na educação, a aplicação registrada até agosto foi de 24,89%. Embora tecnicamente abaixo dos 25% naquele momento do ano, é padrão na administração pública que os empenhos se acelerem no último quadrimestre para atingir a meta legal. O orçamento projetado no PPA 2026-2029 prevê R$ 1,5 bilhão somados para Saúde e Educação.
 

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