Política

QUESTÃO JUDICIAL

Investigação de caso de prefeito que teria agredido mulher em jogo de truco é retomado 2 anos depois

Episódio ocorreu em Camapuã, em outubro 2021; por uma sucessão de erros, ocorrência tinha sido arquivada

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Dia 8 de outubro de 2021, dois anos e três meses atrás, o prefeito de Camapuã, município situado a 141 km de Campo Grande, Manoel Eugênio Nery, do PP, meteu-se numa encrenca policial por ter dado um soco em uma mulher hoje com 36 anos de idade, num torneio de truco promovido promovido como parte das festividades acerca do aniversário da cidade.  

A vítima, à época, foi levada ao hospital, desacordada, depois da agressão. Recuperada, ela diz ter tentando e não conseguido registrar o caso em Camapuã mas, cinco dias depois, denunciou o prefeito, em delegacia de Campo Grande.  

O prefeito, em Camapuã, também rebistrou um boletim de ocorrência acerca do episódio, no entanto, na condição de vítima, ou seja, ele teria sido agredido.

Embora o tempo e por supostas falhas na condução da denúncia, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) arquivou o caso.

“Portanto, inexistindo indícios suficientes que permitam valorar as declarações conflitantes apresentadas que, somado ao decurso de tempo do ocorrido (2 anos), obstaculizando sobremaneira a reconstrução da dinâmica dos fatos noticiados,o arquivamento é medida que se impõe. Frente o exposto, o Ministério Público Estadual requer o arquivamento do presente Termo Circunstanciado de Ocorrência, sem prejuízo do disposto no artigo 18 do CPP e na Súmula 524 do STF”, justificou o Ministério Público. 

Contudo, agora, o episódio conforme trecho do processo que corre no TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), 0900124-61.2022.8.12.0006, o caso foi retomado. 

ARGUMENTO DA DEFESA 

Advogado que defende a vítima Elizene Corrêa da Silva, Orlando Fruguli Moreira, afirmou que vai atuar contra o prefeito, pela agressão e ainda vai apelar por meio de uma ação indenizatória contra ele. 

De acordo com o defensor de Elizene “a confusão iniciada nas mesas de jogo escalou para um confronto físico, resultando em Elizene Correa da Silva sendo encaminhada para o hospital local em estado de inconsciência devido ao murro desferido pelo agressor, o prefeito municipal Manoel Eugênio Nery”. 

O conflito teria ocorrido entre Eliziene e uma assessora do prefeito, que era a ex do atual marido seu.  

As duas discutiram e Eliene atirou uma lata de cerveja na assessora. Ainda conforme versão de pessoas que viram o quebra-pau, a bebida atingiu o rosto do prefeito, que, até então, não tinha entrado na briga. 

Irritado, Manoel Eugênio teria partido para cima de Eliziene e desferido contra ela um soco que a atingiu o pescoço. 

O advogado Orlando Frugulli, que também moveu um recurso no Conselho Superior do Ministério Público, disse que o caso da agressão do prefeito foi arquivado por suposto erro, logo no início da investigação, com a atuação do MPMS. 

De acordo com o defensor, “o Ministério Público em Camapuã ‘errou’ ao encaminhar o caso ao fórum local após quase um ano do ocorrido, em vez de reportar diretamente ao Procurador Geral de Justiça, classificando erroneamente o episódio apenas como "vias de fatos".

O argumento do advogado tem uma sustentação legítima: o prefeito é amparado pela conhecida imunidade parlamentar, daí ele teria de ser acionado, primeiro, pelo procurador geral de Justiça, que definiria se ia, ou não o denunciar. 

Também conforme interpretação do advogado: 

“Apenas em 27 de março de 2023, passados quase um ano e meio do ocorrido, o juiz responsável destacou que, por possuir foro por prerrogativa, o processo deveria ter sido conduzido de forma diferente, sob a égide do Procurador Geral de Justiça. Em um desenvolvimento tardio e controverso do caso, o promotor de Justiça Douglas Silva Teixeira trouxe ao processo o TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência) em 4 de setembro de 2023. No entanto, o TCO, conforme registrado foi elaborado por Ricardo Pereira do Carmo, um servidor comissionado da Prefeitura de Camapuã e subordinado ao prefeito acusado”. 

Segue o defensor: “além disso, levanta-se a preocupação com a falta de anexação do laudo pericial ao TCO, essencial para atestar a materialidade do delito, e a ausência de diligência para ouvir testemunhas do evento público onde ocorreu a agressão. Com essas falhas processuais, surgem dúvidas significativas sobre a integridade da investigação”. 

Frugulli disse também que: “finalmente, o dossiê foi enviado ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Diante das incongruências e da falta de evidências concretas, exacerbadas pela demora na tramitação do processo, o Procurador Geral de Justiça opinou pelo arquivamento do caso, citando insuficientes indícios e dificuldades acentuadas pela distância temporal dos fatos para uma adequada reconstrução dos eventos. 

Concluiu o advogado: “este desfecho coloca em discussão a eficiência do sistema judiciário no tratamento de supostos delitos envolvendo autoridades com prerrogativa de função e a necessidade de agilidade e rigor na apuração de acusações graves que, mesmo após dois anos, deixaram mais perguntas do que respostas para a população de Camapuã”. 

Fruguli disse também que deverá propor uma ação indenizatória em desfavor do agressor, o prefeito, no caso, contra o município de Camapuã “por disponibilizar servidor comissionado ilegalmente para atuar na delegacia de Polícia como escrivão de polícia e ter causado prejuízos a vítima ao negligenciar diligências essenciais para elucidação dos fatos que resultaria na punição do agressor, assim como contra o Estado de MS por permitir que tal situação ocorra dentro de uma Delegacia de Polícia”. 

O QUE DIZ O TJMS 

Na última mexida do processo 0900124-61.2022.8.12.0006, o TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), assim se manifestou no dia 18 de novembro do ano passado, por meio do relator do caso, o desembargador Luiz Gonzaga Mendes Marques: 

“Trata-se de termo circunstanciado de ocorrência instaurado pelo representante do Ministério Público Estadual para apurar a prática, em tese, da contravenção penal de vias de fato, prevista no art. 21 do Decreto-lei nº. 3.688/41, por Manoel Eugênio Nery, Prefeito Municipal de Camapuã, o qual detém foro por prerrogativa de função. O Magistrado a quo, em atenção à manifestação do Parquet de fl. 01 determinou a remessa dos autos para processamento perante o Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul (fl. 10), os quais foram distribuídos a este relator por sorteio. Em tal situação, remeta-se o feito à Procuradoria-Geral de Justiça para requerer o que de direito”. 

OUTRO LADO

Até o fechamento deste material, o prefeito de Camapuã não tinha sido localizado pelo reportagem. Assim que ele se manifestar o texto será atualizado.

 

 

 

Política

Lula vê obstáculos para PEC da Segurança, mas tenta nova versão

Apesar da reformulação, a cúpula do governo avalia que a PEC não deve ser aprovada no Congresso

01/03/2025 21h00

Presidente Lula

Presidente Lula Divulgação

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O governo Lula deu um novo passo para tentar emplacar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública no Congresso: incorporou ao texto a previsão de que as guardas municipais atuem no policiamento ostensivo e comunitário, de modo a efetuar prisões em flagrante, por exemplo

"Nossa intenção é fortalecer o sistema de segurança pública como um todo, garantindo que as guardas tenham seu papel formalizado na Constituição sem comprometer a autonomia dos entes federados", disse o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, ao divulgar a versão renovada da PEC, na última quarta-feira.

Demanda antiga de prefeitos, o papel das corporações como polícia municipal foi reconhecido em decisão recente do Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte determinou que as guardas podem agir regularmente na segurança urbana, desde que não realizem atividades de investigação criminal. Sua atuação deve ser limitada a cada município e está sujeita à fiscalização do Ministério Público.

Apesar da reformulação, a cúpula do governo avalia que a PEC não deve ser aprovada no Congresso e já encara a apresentação do texto quase como um gesto ao eleitorado preocupado com a violência urbana. Está na lista de prioridades do Executivo em 2025, mas enfrenta forte resistência de governadores e outras lideranças políticas antes mesmo do envio ao Legislativo.

POPULARIDADE

O governo decidiu elaborar uma proposta para a segurança depois de constatar que problemas na área estavam causando danos à popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se de um dos temas favoritos das forças políticas de direita, opositoras ao petista, e um campo no qual a esquerda tem dificuldades históricas para disputar o eleitorado. Por isso, ao menos enviar ao Congresso a PEC da Segurança pode ser relevante para a disputa da opinião pública.

O texto partiu de Lewandowski. A ideia inicial era transformar a Polícia Rodoviária Federal em uma polícia ostensiva com alcance maior do que as rodovias administradas pelo governo federal e aumentar a responsabilidade da União sobre a segurança pública. Diversos governadores afirmaram que a proposta interferiria na administração de órgãos de segurança estaduais.

Foram meses de discussão com os governadores até o ministro apresentar a versão anterior da PEC, em 15 de janeiro. Lewandowski já manifestou a intenção de aprová-la ainda no primeiro semestre, mas ela nem sequer foi remetida ao Legislativo: está atualmente na Casa Civil. Rui Costa, titular da pasta, afirmou que pretende remeter a proposta ao Congresso após o carnaval.

"Todos nós sabemos que 2026 é um ano político, é um ano em que dificilmente se pode aprofundar discussões dessa natureza. O ideal seria, ao nosso ver, que isso fosse enviado no primeiro semestre. Porque aí podemos ter uma discussão mais aprofundada, considerando todas as paixões políticas que envolvem esse tema", afirmou o ministro em janeiro.

Lula tem ressaltado a responsabilidade do Congresso na aprovação da PEC e tentado afastar a ideia de que ela retira atribuições dos Estados. "A gente não quer ocupar o lugar do governador. A gente quer contribuir com o governo federal não apenas passando dinheiro", afirmou o presidente na última quinta-feira. "A gente quer contribuir com forças efetivas para a gente poder enfrentar o crime organizado."

No dia 20, referindo-se à resistência dos governadores à proposta, o petista disse que não fará mais decretos de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para atender aos Estados, pois são caros e pouco eficazes, citando como exemplo o caso do Rio de Janeiro. Segundo ele, a GLO do Rio "gastou mais de R$ 2 bilhões e não resolveu quase nada".

PRF

Um dos pivôs da polêmica com os governadores em torno da PEC, a Polícia Rodoviária Federal suspendeu os acordos de cooperação técnica com a Polícia Federal e os Ministérios Públicos estaduais para combater o crime organizado.

Segundo a corporação, a medida atende a uma portaria do Ministério da Justiça para evitar insegurança jurídica e questionamentos acerca das ações conjuntas. A iniciativa foi alvo de protestos do Ministério Público de São Paulo.

De acordo com o texto da portaria, a corporação não pode exercer competências exclusivas das polícias judiciárias, como investigar crimes. Para o diretor-geral da PRF, Antônio Fernando Oliveira, a aprovação da PEC da Segurança Pública seria a melhor forma de sanar questionamentos acerca das atribuições da corporação e fortalecer sua atuação. (Colaborou Raisa Toledo)

*Com informações de Estadão Conteúdo

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INTERNACIONAL

Lula diz que Zelensky foi humilhado por Trump: "cena grotesca"

Presidente participa da posse de Yamandú Orsi, no Uruguai

01/03/2025 18h00

Foto: RICARDO STUCKERT / PR

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, neste sábado (1º), que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, "foi humilhado" pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump.

Nesta sexta-feira (28), a reunião entre Trump e Zelensky, para discutir uma saída para a guerra contra a Rússia, terminou em bate-boca, diante da imprensa mundial.

Para Lula, foi uma "cena grotesca".

"Eu não sou diplomata, mas eu acho que a diplomacia, desde que o planeta Terra foi criado, desde que a diplomacia foi criada, não se via uma cena tão grotesca, tão desrespeitosa como aquela que aconteceu no Salão Oval da Casa Branca. Eu, sinceramente, acho que há uma parcela da sociedade que vive do desrespeito aos outros, e não é possível a gente falar em democracia se não há respeito ao outro ser humano", disse.

"Acho que o Zelensky foi humilhado, acho que, na cabeça do Trump, o Zelensky merecia isso", acrescentou Lula em conversa com a imprensa em Montevidéu, no Uruguai, onde participou da posse do novo presidente do país, Yamandú Orsi.

Na reunião, Trump repreendeu o outrora aliado dos EUA e disse que Zelensky estava sendo "desrespeitoso" com o país norte-americano. A fala dura de Trump veio após o ucraniano indicar que, no futuro, os EUA poderiam se arrepender de fazer um acordo com a Rússia para o fim da guerra.

Líderes europeus demonstram apoio a Zelensky após confronto com Trump, destacando uma grande divisão entre os aliados tradicionais dos Estados Unidos e da Europa sobre a guerra desde que Trump voltou ao cargo. 

Guerra

Antes da cerimônia de posse de Orsi, Lula se reuniu com o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, com quem tratou sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia.

"Acho que a União Europeia foi prejudicada com o discurso do Zelensky, e eu disse ao presidente da Alemanha que é bem possível que a Europa fique responsável pela reconstrução da Ucrânia, pela manutenção da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar entre países da América do Norte e da Europa] e é bem possível que a Europa seja responsabilizada pelo desastre que está acontecendo", avaliou o presidente brasileiro.

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