Política

DESAFIO

Lula enfrenta desgastes para se consolidar como líder da América Latina

Na primeira viagem oficial para fora do país Lula anunciou a retomada de uma das principais ferramentas que o ajudaram a ampliar sua influência

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Nas primeiras semanas de seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem dado demonstrações de que aceita enfrentar desgastes internos no Brasil para se consolidar como líder na América Latina e se fortalecer na geopolítica mundial.
Na primeira viagem oficial para fora do país, quando esteve na Argentina, Lula anunciou a retomada de uma das principais ferramentas que o ajudaram a ampliar sua influência em países vizinhos nos dois primeiros mandatos: o uso do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para financiar projetos no exterior.
O anúncio serviu como munição para ataques de críticos de Lula nas redes sociais. "Caridade com o chapéu alheio, com o seu, com o nosso chapéu. Querem transformar o BNDES no que ele era antes do governo [Jair] Bolsonaro, um ralo de dinheiro para espertalhões", escreveu no Twitter o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Outros parlamentares apresentaram requerimentos pedindo explicações sobre essas iniciativas. Há ainda ações para tentar desarquivar projetos no Congresso que visam impedir empréstimos para governos estrangeiros.
Um interlocutor de Lula afirma que esse tipo de crítica já era previsto. A equipe do petista acredita que os ruídos causados por esse tipo de declaração não são diferentes do enfrentado por Lula nas primeiras vezes em que esteve no Planalto e até mesmo durante a recente campanha eleitoral.
Após o anúncio de Lula, o próprio BNDES informou que não tem demanda ou previsão de financiar serviços de infraestrutura no exterior. O banco ressaltou que os atuais esforços são no sentido de alavancar especificamente a exportação de bens e produtos.
O banco disse em nota que qualquer mudança nessa política passaria necessariamente por um entendimento com o TCU (Tribunal de Contas da União) e que o presidente da corte, Bruno Dantas, "tem reforçado o papel de acompanhamento das políticas públicas".
A ida de Lula à Argentina e ao Uruguai expôs a estratégia do petista de priorizar o Mercosul e de acenar a aliados vizinhos, mesmo em casos impopulares, para conseguir se firmar como o protagonista.
Apesar de dizer que uma de suas prioridades é reforçar a democracia no Brasil, o chefe do Executivo fez sinalizações na última semana às ditaduras de Cuba e da Venezuela. O governo Lula também deu início oficialmente aos procedimentos para a reabertura da embaixada brasileira em Caracas, enviando uma missão diplomática.
Além disso, elogiou a economia argentina, governada por seu aliado Alberto Fernández, embora o país tenha acabado 2022 com a inflação próxima de 95%. Ele também anunciou o início de estudos para criação de uma moeda comum, medida que não foi citada nas eleições, devido ao medo do risco político que poderia ter.
Apesar dos afagos a Cuba e à Venezuela, aliados de Lula ponderam que o presidente fez críticas recentes a regimes que são próximos de seu partido. Em entrevista à TV Globo durante a campanha eleitoral, por exemplo, Lula fez críticas veladas aos partidos comunistas da China de Cuba ao tratar da polarização política.
"Não tem polarização no Partido Comunista Chinês, não tinha polarização no Partido Comunista de Cuba", afirmou na ocasião. "Agora quando você tem democracia, tem mais que um disputando, a polarização é saudável, ela é importante, é estimulante."
Há ainda uma expectativa grande entre os próprios países vizinhos sobre uma possível ascensão de Lula como líder da região. Um interlocutor ressalta que a foto oficial da 7ª edição da Cúpula da Celac (Comunidade dos Países Latino-Americanos e Caribenhos), com Lula no centro e em destaque, evidencia isso.
A estratégia é similar à adotada em seus oito primeiros anos de governo, quando foi um dos entusiastas da criação da Celac e estreitou laços com países vizinhos, inclusive com governos autoritários.
Aliados ainda afirmam que Lula pode tirar proveito de um cenário diferente de seus dois primeiros mandatos, com governos mais enfraquecidos e dependentes dos brasileiros. Quando assumiu pela primeira vez, Argentina, Venezuela e outros vizinhos enfrentavam dificuldades, mas nada comparadas com o momento atual.
Segundo aliados de Lula, a estratégia é importante para que ele ganhe força perante o mundo. A avaliação é que, pesando na balança, a consolidação da liderança do Brasil em relação aos países vizinhos compensa o desgaste de defender ditaduras e anunciar medidas que foram criticadas por seus adversários nos últimos anos.
Integrantes do Palácio do Planalto também dizem que a postura de Lula é a de quem respeita a soberania de outros países; e que cabe a ele manter relações com todos, e não interferir na política de cada nação.
Pessoas próximas ao presidente dizem que a conjuntura da região ajudou o mandatário a retomar a mesma estratégia adotada de 2003 a 2010. Aliados históricos do PT retornaram ao poder recentemente após a América do Sul eleger diversos presidentes mais à direita.
Na Argentina, após um período de supremacia do grupo de Nestor e Cristina Kirchner, o liberal Maurício Macri governou entre 2015 e 2019. Ele tentou a reeleição, mas o peronista Alberto Fernández venceu o pleito com Cristina como vice. Pouco depois da vitória eleitoral, o presidente e a vice passaram a entrar em atrito. Hoje, disputam quem tem a relação mais próxima com Lula.
No Chile, Gabriel Boric, um ex-militante do movimento estudantil com perfil de esquerda, elegeu-se presidente. A Venezuela até hoje é governada pelo ditador Nicolás Maduro, sucessor de Hugo Chávez. O país é um dos alvos de maior polêmica entre Lula e Bolsonaro.
Como presidente, Bolsonaro mandou diplomatas brasileiros deixarem o país vizinho e chegou a reconhecer como presidente o líder opositor Juan Guaidó, embora ele não controlasse o país. No final, Maduro conseguiu se manter na Presidência, o que acirrou ainda mais a relação entre Brasil e Venezuela.
Antes mesmo de tomar posse, Lula fez questão de retomar as relações diplomáticas com a nação vizinha. O governo de transição comandado pelo petista pediu a Bolsonaro a revogação de uma portaria que impedia a entrada de autoridades do alto escalão da Venezuela no país. A norma foi revogada, mas Maduro acabou não vindo ao Brasil.
Na viagem à Argentina, Lula disse que Bolsonaro fez uma "coisa abominável" ao reconhecer Guaidó como presidente e defendeu o restabelecimento das relações diplomáticas.
"O Brasil, sobretudo o Brasil, e os países que compõem a Celac, têm que tratar Venezuela e Cuba com muito carinho e, naquilo em que a gente puder ajudar a resolver os seus problemas, nós vamos ajudar", afirmou.

TROCA DE COMANDO

Secretária de Fazenda pode não voltar ao cargo após licença

O Correio do Estado apurou que o futuro da titular da Sefaz será a exoneração e o substituto deve sair da própria equipe

15/12/2025 08h00

A secretária municipal de Fazenda, Márcia Helena Hokama, está no cargo desde abril de 2022

A secretária municipal de Fazenda, Márcia Helena Hokama, está no cargo desde abril de 2022 Marcelo Victor

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À frente das finanças da Prefeitura de Campo Grande desde abril de 2022, a secretária municipal de Fazenda, Márcia Helena Hokama, não vai mais retornar ao cargo depois da prorrogação da licença médica por estresse e ansiedade iniciada em 20 de novembro deste ano e com previsão de encerrar no dia 8 de janeiro de 2026.

O Correio do Estado obteve a informação com exclusividade por meio de fontes do alto escalão da administração municipal de Campo Grande, que ainda explicaram que a prefeita Adriane Lopes (PP) teria sido comunicada da impossibilidade de a titular da Secretaria Municipal de Fazenda (Sefaz) reassumir as funções por conta de suas condições mentais.

Diante disso, a chefe do Executivo da Capital já teria determinado a procura por um substituto e, por enquanto, a tendência é de que o atual secretário-adjunto da Sefaz, Isaac José de Araújo, seja elevado a titular da Pasta por fazer parte da equipe técnica que foi montada por Márcia Hokama, considerada muito competente por Adriane Lopes.

A reportagem também foi informada de que a decisão da secretária de participar da corrida de rua de Bonito, realizada no dia 6, durante o afastamento por questões de saúde e o fato ter ganhado repercussão na mídia municipal teria pesado para que a continuidade dela no cargo após o fim da licença médica ficasse insustentável.

Márcia Hokama chegou a ser fotografada ao concluir um percurso de 10 km e conquistar o 23º lugar na categoria (competidores com idade entre 50 e 59 anos), e a imagem dela sendo publicada pelos principais órgãos de imprensa “pegou” muito mal até mesmo a imagem da prefeita, que é uma grande defensora do trabalho da secretária.

Porém, como a mulher de César não basta ser honesta, ela também precisa parecer honesta, a corrida foi a gota d’água para fim dos mais de três anos dela à frente das finanças municipais, período marcado por muito desgaste político e pressões decorrentes de crises no transporte coletivo urbano, na saúde e nas finanças, chegando a ser cobrança publicamente pela Câmara Municipal de Campo Grande.

O ponto alto desse desentendimento com os vereadores foi quando Márcia Hokama faltou à convocação para dar explicações sobre a crise, e, na época, ela já chegou a alegar problemas de saúde. Em novembro, a situação mental dela teria chegado no fundo do poço, obrigando o pedido de licença médica.

A partir da oficialização da concessão do afastamento, os boatos começaram dando conta de que ela não retornaria mais ao cargo, porém, a prefeita Adriane Lopes assegurava o retorno da titular da Sefaz após o fim da licença médica.

Entretanto, depois da divulgação da participação de Márcia Hokama da corrida de rua de Bonito a prorrogação da dispensa das funções foram decisivas para que a chefe do Executivo Municipal cedesse à pressão pela exoneração da secretária.

Procurada pelo Correio do Estado, a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, não quis comentar até o fechamento desta edição. O espaço continuar aberto para a manifestação da chefe do Executivo Municipal.

*SAIBA

A trajetória de Márcia Hokama começou em abril de 2022, quando foi nomeada pela prefeita Adriane Lopes como titular da Secretária Municipal de Finanças (Sefin), ficando responsável pelas finanças do município de Campo Grande e deixando o cargo de secretária-adjunta, o qual ocupava desde 2021.

Em janeiro deste ano, a prefeita reconduziu Márcia Hokama ao cargo, mas com novo nome Secretaria Municipal de Fazenda (Sefaz). Portanto, ela já está na função de liderança na Sefin/Sefaz desde 2022.

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POLÍTICA

Em pedido de renúncia, Zambelli diz que segue viva e que Brasil continuará ouvindo sua voz

Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão por mandar um hacker invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e está presa na Itália desde julho.

14/12/2025 22h00

Deputada federal Carla Zambelli

Deputada federal Carla Zambelli Agência Câmara

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A agora ex-deputada federal, Carla Zambelli (PL-SP), usou o pedido de renúncia de seu mandato para elogiar a proteção recebida pela Câmara e para dizer que "segue viva" mesmo após deixar os quadros da Casa. Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão por mandar um hacker invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e está presa na Itália desde julho.

"A história registra: mandatos podem ser interrompidos; a vontade popular, jamais. Eu sigo viva, a verdade permanece, e o Brasil continuará a ouvir minha voz", afirmou, na solicitação encaminhada ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos).

Zambelli também agradeceu as decisões da Câmara que mantiveram o mandato da deputada, antes de Supremo Tribunal Federal anulá-las e determinar a perda de mandato de Zambelli. "Esse ato da Câmara foi institucional e constitucional: um momento em que a Casa do Povo afirmou a soberania do voto, o devido processo legal e os limites do poder punitivo do Estado", escreveu.

Leia a íntegra do comunicado:

RENÚNCIA AO MANDATO PARLAMENTAR

AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR

PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPUTADO FEDERAL HUGO MOTTA

Excelentíssimo Senhor Presidente,

Senhoras e Senhores Deputados,

Povo brasileiro,

Eu, Carla Zambelli Salgado de Oliveira, Deputada Federal eleita para a 57ª Legislatura (2023-2027), representante do Estado de São Paulo, legitimada por 946.244 votos nas eleições gerais de 2022, faço esta manifestação por intermédio de meus advogados constituídos, Dr. Fabio Pagnozzi e Dr. Pedro Pagnozzi, diante da impossibilidade de comparecer pessoalmente a esta Casa, em razão de encontrar-me privada de liberdade em território estrangeiro. Falo, portanto, não apenas como parlamentar, mas como voz de quase um milhão de brasileiros que confiaram em mim sua representação.

O que se registra neste ato não é apenas a renúncia a um mandato, mas um marco institucional. A Câmara dos Deputados exerceu integralmente sua competência constitucional, observando o procedimento previsto no artigo 55 da Constituição Federal, especialmente seus ?? 2º e 3º, que atribuem exclusivamente ao Poder Legislativo a deliberação sobre a perda de mandato parlamentar, mediante decisão do Plenário, assegurados o contraditório e a ampla defesa.

No curso desse procedimento, foi elaborado relatório pelo Relator na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, Deputado Diego Garcia, demonstrando, de forma técnica e fundamentada, que não existem provas jurídicas aptas a sustentar a perda do meu mandato, tampouco elementos que embasem qualquer condenação. Esse relatório trouxe à luz uma verdade elementar do Estado de Direito: não se cassa um mandato sem provas.

Essa compreensão foi confirmada pelo Plenário da Câmara dos Deputados, que, ao não deliberar pela cassação, afirmou que não havia fundamento jurídico legítimo para suprimir um mandato conferido por quase um milhão de brasileiros. Esse ato foi institucional e constitucional: um momento em que a Casa do Povo afirmou a soberania do voto, o devido processo legal e os limites do poder punitivo do Estado.

A História constitucional ensina que os regimes livres somente subsistem quando cada Poder reconhece seus limites. Montesquieu advertia que "todo aquele que detém poder tende a abusar dele, indo até onde encontra limites". O registro aqui produzido reafirma que o Parlamento não é instância acessória, mas Poder constitucional autônomo, cuja competência não pode ser esvaziada sem grave risco ao Estado Democrático de Direito. Este episódio permanecerá como referência institucional para situações semelhantes, nas quais se discuta a preservação do mandato popular frente à expansão indevida do poder punitivo estatal.

Posteriormente, deliberação do Supremo Tribunal Federal determinou a perda do mandato, afastando o resultado do procedimento conduzido por este Parlamento.

É diante desse quadro, e não por medo, fraqueza ou desistência, que comunico, de forma pública e solene, minha renúncia ao mandato parlamentar, para que fique registrado que um mandato legitimado por quase um milhão de votos foi interrompido apesar do reconhecimento formal, por esta Casa, da inexistência de provas para sua cassação.

Este gesto não é rendição. É registro histórico. É a afirmação de que mandatos passam; princípios permanecem. A democracia não se resume às urnas; ela vive no respeito às instituições e na coragem de registrar a verdade.

Dirijo-me, por fim, ao povo brasileiro. Aos meus eleitores, afirmo: a verdade foi dita, a história foi escrita e a consciência permanece livre. Ideias não se cassam. Convicções não se prendem. A vontade popular não se apaga.

A história registra: mandatos podem ser interrompidos; a vontade popular, jamais. Eu sigo viva, a verdade permanece, e o Brasil continuará a ouvir minha voz.

Que Deus abençoe o povo brasileiro, ilumine esta Nação e a conduza, sempre, pelo caminho do direito, da justiça e da liberdade.

Respeitosamente,

Carla Zambelli Salgado de Oliveira

Deputada Federal - Brasil

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