Política

Entrevista

Mais louco do Brasil: "Sonho ser governador, se em 2026 ou em 2030, só o tempo vai dizer"

Juliano Ferro, prefeito de Ivinhema, com mais de 1 milhão de seguidores nas redes, diz que está sendo "apunhalado pelas costas" no governo de MS, pede cabeça de desafeto e ameaça sair candidato já em 2026

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O terceiro prefeito mais popular nas redes sociais do Brasil é de Mato Grosso do Sul. Juliano Ferro, prefeito de Ivinhema, filiado ao PSDB de Reinaldo Azambuja, no auge da meia-idade, com 42 anos, não esconde que pretende galgar cargos com mais status e projeção na política. O objetivo dele é ser governador.

“Eu tenho um sonho de ser governador. Mas, se será em 2026, se será em 2030, só o tempo vai dizer”, afirmou, deixando um mistério que deve durar até o período pré-eleitoral. 

Em entrevista exclusiva ao Correio do Estado, Juliano Ferro, que proclama ser “o prefeito mais louco do Brasil”, explica por que se tornou tão popular e por que hoje disputa eleições e os votos dos eleitores. “Eu entrei para a política porque tinha um mau gestor em Ivinhema”.

Juliano Ferro também demonstra ousadia, o que o leva a fazer jus ao apelido que deu a si mesmo. Mandou recado direto à gestão de seu correligionário Eduardo Riedel (PSDB), governador do Estado, e pediu a cabeça de seu desafeto, que também já foi tucano, Eder Uilson França Lima, o Tuta, seu antecessor na prefeitura, que atualmente tem cargo de comissão na Secretaria da Casa Civil, com um salário de R$ 24,7 mil.

“Se o governador nosso permanecer com um cara que está me atacando pelas costas, que está armando para cima de mim, então, não precisa de mim”, disparou. 

 
Juliano, gostaríamos que contasse sua história para nós, sobretudo a anterior ao seu ingresso na política.

Eu sou nascido e criado em Ivinhema, sou filho da terra. Mas eu morei um tempo no Pará, quase cinco anos, na cidade de Belém. Quando eu saí de Ivinhema, eu já tinha uma loja de carros e também mexia com caminhão. Eu também tinha umas cinco lojas de carro, mexia com caminhão e também tinha montado uma empresa de reparo de veículos. Eu comprava carros para 80 garagistas lá em Belém do Pará, de onde eu repassava os carros para os estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraná. E foi aí que eu morei lá. De lá de Belém eu voltei para Ivinhema, e foi quando entrei na política.


E como você entrou para a política?

Eu entrei para a política porque tinha um mau gestor em Ivinhema. Na época, o prefeito era o Eder Uilson, mais conhecido como Tuta. Ele estava no primeiro mandato dele e buscava a reeleição, e ao lado da minha casa tinha uma estrada em má conservação. Eu não conseguia entrar na minha casa por causa dessa estrada. Pois eu passei dois anos pedindo para ele arrumar a estrada, e ele não arrumou. Foi então que eu fiz um vídeo falando, e esse vídeo teve muito engajamento, as pessoas foram vendo, e então eu comecei a mostrar a realidade da cidade. Quando faltava 60 dias para aquela eleição, eu estava para voltar para Belém do Pará e o pessoal me procurou e falou: “Saia candidato”. Pois eu saí candidato e entrei na política, tudo isso, graças a um gestor ruim. 

 

E hoje você tem uma grande aprovação na cidade?

Olha, eu fui reeleito com praticamente 82% dos votos. Isso mostra que o povo está conosco, e por quê? Porque hoje a população de Ivinhema não é mais boba. Você não pode mais chegar lá [ocupar um cargo público] e ir contando história bonita. Como prefeito de Ivinhema, a gente trabalha para a população e ela reconhece quem soma para o município. É igual para deputado estadual, federal, o governo... Hoje o povo sabe quem está ajudando no crescimento da cidade, quem está ajudando no desenvolvimento. Não é mais qualquer deputado que já tirou voto de lá e que agora volta sem enviar recursos para a cidade e o povo vai votar nele. Esse nosso trabalho serviu também para a Câmara Municipal e serviu para mim. Hoje o povo de Ivinhema só vota em quem está entregando. 

 

Você disse que uma estrada em má conservação lhe colocou na política. Como estão as estradas do município hoje em dia?

Eu sou o prefeito que mais consertou e cascalhou estrada rural na história do município de Ivinhema. Eu sou o prefeito que mais está fazendo asfalto na história da cidade. Eu vou deixar meu segundo mandato com Ivinhema e o distrito de Amandina praticamente 100% pavimentados. Quando cheguei à prefeitura de Ivinhema, a cidade tinha só 62% das ruas pavimentadas, já no meu primeiro mandato eu deixei praticamente com 90%. 

No ano passado, a Controladoria-Geral da União (CGU) divulgou um relatório que aponta sobrepreço na compra de merenda escolar na cidade. O que houve de fato?

Em primeiro lugar, sou quem faz a licitação, não sou quem vende. Temos uma equipe ali, entende? No dia em que fizemos o pregão eletrônico, o menor preço que havia era aquele e a empresa que ofereceu aquele preço foi a ganhadora. Há coisas que mostram a realidade do momento. Eu, por exemplo, já comprei um copo para minha casa por R$ 3 a unidade [ele exemplifica segurando um copo de vidro], mas pode ocorrer de eu solicitar um copo para a prefeitura e o menor preço ser R$ 10 – e eu tenho que ficar com ele a este preço porque o cara ganhou a licitação. Isso não ocorre só em Ivinhema, mas no poder público de todo o Brasil, como também pode ocorrer de a prefeitura pagar R$ 2 em um copo que custa R$ 3 para o consumidor. 

Agora, nós licitamos não sei quantos itens na prefeitura, é muita coisa. O prefeito, ele não sabe dizer quanto está pagando em um quilo de carne. Dizer que eu sei qual o valor de tudo que é comprado seria mentira. Nenhum prefeito sabe. Mas a gente faz a licitação, homologada, tudo certinho. E, também, se estiver errada não tem problema nenhum. 

Mas, ainda sobre este assunto, o resultado é que hoje eu sirvo uma merenda de qualidade, é a melhor merenda da história de Ivinhema que está sendo servida, porque a gente mudou a educação do município. 

Se você for a uma escola nossa, verá que todas as escolas estão sendo reformadas ou construídas. Eu gastei R$ 8 milhões para construir a maior escola do município. Se você entra na escola com seu filho, eu dou calça, camiseta, short, saia, o uniforme completo. Eu dou todo o material escolar para ele, e tem ar condicionado em todas as salas. E mais: além de melhorar a qualidade de toda a rede escolar, eu ainda aumentei o salário do professor lá em Ivinhema em 52%. 

Agora, você acha que eu vou pegar uma licitação e mexer em valor de carne?

Você é hoje o maior influencer de Mato Grosso do Sul. Como você chegou a mais de 1 milhão de seguidores em uma de suas redes sociais?

Olha, hoje em minhas redes eu tenho mais de 20 milhões de acessos [impressões] a cada 30 dias. A minha rede é a maior hoje em Mato Grosso do Sul, a maior rede entre políticos. Eu sou o terceiro prefeito mais seguido do Brasil, só perco para o João Campos [PSB], de Recife [PE], e para o Rodrigo Manga [Republicanos], de Sorocaba [SP]. 

E como você atingiu esses altos números?

 

Em primeiro lugar, pelo meu trabalho, eu creio. Porque se eu fosse um prefeito ruim, as pessoas não estavam me seguindo, não é mesmo? Então, o meu trabalho, as minhas entregas, as obras acontecendo, isso tudo é o meu diferencial. Mas eu também sou um político diferente. Penso que a população está enojada da mesma classe política, daquela política protocolar.

E eu, Juliano, gosto de diversificar, fazer algumas brincadeiras, muitos já conhecem “o mais louco do Brasil”, “o barraco assombrado”. Então, se você entra na minha rede social, você vê de tudo. E eu sou uma pessoa extrovertida, uma pessoa feliz, uma pessoa que brinca bastante nas horas vagas, mas que tem um trabalho sério. E assim eu fui ganhando o carisma das pessoas.

Eu sou uma pessoa de fácil acesso, faço muitas amizades, e consegui transportar isso para a rede social. Por isso, o número de seguidores foi aumentando, um processo que foi acontecendo naturalmente. Hoje, digo que as pessoas que me assistem pela rede social se sentem meus amigos, porque eu encontro muitas vezes – aqui no Estado e fora do Estado também – pessoas que chegam e vêm tirar foto.

Esse é o carisma que eu consigo passar por meio do celular. É a confiança. Você vê um monte de polêmica que me colocaram, e mesmo assim é o período que eu mais estou crescendo na internet. Já me lançaram até como pré-candidato a governador, não é?

 
A política é muito dinâmica...

É. É que nem sempre eu falei. Eu falei naquela entrevista [para a jornalista Mariana Rocha] que eu tenho um sonho de ser governador. Mas se é em 2026, se é em 2030, só o tempo vai dizer. Política se faz construindo boas alianças. Eu tenho o meu líder maior, que é o ex-governador Reinaldo Azambuja [PSDB], além do seu Zé Teixeira [PSDB] e do Nelsinho Trad [PSD]. Eu não movo uma pedra sem o aval deles.

Qual sua opinião sobre se há uma brecha a você para algum cargo eletivo – deputado estadual/federal, senador ou governador – já nas eleições de 2026?

É o povo sul-mato-grossense que fala para aonde vai, não? É assim, onde a gente vê que tem espaço e momento, a gente vai para cima. [Eu tenho] capacidade administrativa e boa gestão pública. Peguei um município quebrado, afundado, sucateado, era uma cidade totalmente bagunçada, e no período de quatro anos e quatro meses eu fiz, e ela virou uma potência em MS.

É uma das cidades que mais crescem em volume de empresas abertas. Vou te dar um número: foram 35% de CNPJs a mais em quatro anos, um aumento de arrecadação de 150%. Então, administrar a cidade eu já mostrei. Quem sabe também um dia podemos estar administrando o Estado, não é?

Você também tem muito engajamento em ações sociais. Isso também explica o seu sucesso nas redes?

Eu, graças a Deus, quando entrei na política, já tinha uma condição de vida boa. Eu comecei a trabalhar muito cedo, saí de casa com 15 anos. Eu já era um cara bem de vida, mas nunca deixei minhas origens. Eu vim da quebrada, da favela. Morei e vim do sítio. Minha avó morava lá no Guimarães, que é um bairro considerado mais fraquinho na cidade. Eu fui criado nesse bairro, e até hoje meus amigos moram lá.

Eu nunca mudei minha origem. Antes de eu ser político, mesmo tendo ganhado dinheiro, eu sempre fiz questão de permanecer com as minhas origens, com as minhas raízes. Hoje sou político e continuo com meus amigos, que são os mesmos de antes. Tem o pessoal do sítio que eu conheço muito.

Na prefeitura, você recebe da mesma maneira um político e uma pessoa mais simples?

Eu recebo ela [essa pessoa] na minha casa. Ela almoça, janta comigo. Se tiver calor, a gente até toma um banho de piscina lá. A gente não tem que fazer diferença. Eu vou te falar uma coisa: eu gosto às vezes de receber mais uma pessoa simples, humilde, que é de bom coração, do que às vezes uma pessoa que é empresário forte, mas que tem um coração mal. O que manda não é o poder aquisitivo, é o coração.

 

Suas redes sociais hoje são um ativo eleitoral. Há quem diga que sejam até um canhão. Mesmo assim, você vai continuar na prefeitura até 2028?

Eu, na verdade, tenho a intenção de terminar o meu mandato. Mas hoje a gente pensa uma coisa, amanhã pensa outra, entendeu? Eu preciso ser reconhecido pelo meu grupo político.
Eu já falei e vou voltar a falar. Eu sofri ataques de dentro do grupo, fogo amigo, punhalada nas costas, e eu vou deixar bem frisado. Se nenhuma providência for tomada, eu vou tomar outros caminhos. O que eu quero? Eu sou Eduardo Riedel, eu sou Reinaldo Azambuja, só que eu não posso deixar ser apunhalado.

Na verdade, todo mundo sabe que meu adversário é o Tuta, ex-prefeito de Ivinhema, e hoje ele está na Casa Civil, e o governo vai ter que escolher: ou vai ficar com um ex-prefeito ou vai ficar com um prefeito estadual. Porque se o governador nosso permanecer com um cara que está me atacando pelas costas, que está armando para cima de mim, então, não precisa de mim.

Eu sou um tipo de pessoa que morre e mata pelos meus companheiros, pelo meu grupo político, pelo meu governador e pelas minhas lideranças. Sou pau para toda obra e sou fiel. Eu sou submisso aos meus líderes, não tenho problema nenhum em baixar a guarda. Eu sei o valor que eu tenho, eu sei a potência que eu sou no Estado, eu sei do meu carisma com a população e eu sei aonde posso chegar.

Eu só quero ser prestigiado, ser atendido, levar o resultado da minha administração para o meu povo e ser honrado, e não apunhalado. E se tudo der certo, a gente vai terminar o mandato e vem aí 2030. Agora, se nada acontecer, fica assim, no tudo pode acontecer.

Você também é cantor? 

Meu pai foi o primeiro artista a gravar CD lá em Ivinhema. 
E eu tenho música gravada com a dupla Vitor & Matheus, eu tenho música gravada com o Loubet. Tenho também uma apresentação que faço com acompanhamento de um DJ, mas eu sou mais showman.

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TROCA DE COMANDO

Secretária de Fazenda pode não voltar ao cargo após licença

O Correio do Estado apurou que o futuro da titular da Sefaz será a exoneração e o substituto deve sair da própria equipe

15/12/2025 08h00

A secretária municipal de Fazenda, Márcia Helena Hokama, está no cargo desde abril de 2022

A secretária municipal de Fazenda, Márcia Helena Hokama, está no cargo desde abril de 2022 Marcelo Victor

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À frente das finanças da Prefeitura de Campo Grande desde abril de 2022, a secretária municipal de Fazenda, Márcia Helena Hokama, não vai mais retornar ao cargo depois da prorrogação da licença médica por estresse e ansiedade iniciada em 20 de novembro deste ano e com previsão de encerrar no dia 8 de janeiro de 2026.

O Correio do Estado obteve a informação com exclusividade por meio de fontes do alto escalão da administração municipal de Campo Grande, que ainda explicaram que a prefeita Adriane Lopes (PP) teria sido comunicada da impossibilidade de a titular da Secretaria Municipal de Fazenda (Sefaz) reassumir as funções por conta de suas condições mentais.

Diante disso, a chefe do Executivo da Capital já teria determinado a procura por um substituto e, por enquanto, a tendência é de que o atual secretário-adjunto da Sefaz, Isaac José de Araújo, seja elevado a titular da Pasta por fazer parte da equipe técnica que foi montada por Márcia Hokama, considerada muito competente por Adriane Lopes.

A reportagem também foi informada de que a decisão da secretária de participar da corrida de rua de Bonito, realizada no dia 6, durante o afastamento por questões de saúde e o fato ter ganhado repercussão na mídia municipal teria pesado para que a continuidade dela no cargo após o fim da licença médica ficasse insustentável.

Márcia Hokama chegou a ser fotografada ao concluir um percurso de 10 km e conquistar o 23º lugar na categoria (competidores com idade entre 50 e 59 anos), e a imagem dela sendo publicada pelos principais órgãos de imprensa “pegou” muito mal até mesmo a imagem da prefeita, que é uma grande defensora do trabalho da secretária.

Porém, como a mulher de César não basta ser honesta, ela também precisa parecer honesta, a corrida foi a gota d’água para fim dos mais de três anos dela à frente das finanças municipais, período marcado por muito desgaste político e pressões decorrentes de crises no transporte coletivo urbano, na saúde e nas finanças, chegando a ser cobrança publicamente pela Câmara Municipal de Campo Grande.

O ponto alto desse desentendimento com os vereadores foi quando Márcia Hokama faltou à convocação para dar explicações sobre a crise, e, na época, ela já chegou a alegar problemas de saúde. Em novembro, a situação mental dela teria chegado no fundo do poço, obrigando o pedido de licença médica.

A partir da oficialização da concessão do afastamento, os boatos começaram dando conta de que ela não retornaria mais ao cargo, porém, a prefeita Adriane Lopes assegurava o retorno da titular da Sefaz após o fim da licença médica.

Entretanto, depois da divulgação da participação de Márcia Hokama da corrida de rua de Bonito a prorrogação da dispensa das funções foram decisivas para que a chefe do Executivo Municipal cedesse à pressão pela exoneração da secretária.

Procurada pelo Correio do Estado, a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, não quis comentar até o fechamento desta edição. O espaço continuar aberto para a manifestação da chefe do Executivo Municipal.

*SAIBA

A trajetória de Márcia Hokama começou em abril de 2022, quando foi nomeada pela prefeita Adriane Lopes como titular da Secretária Municipal de Finanças (Sefin), ficando responsável pelas finanças do município de Campo Grande e deixando o cargo de secretária-adjunta, o qual ocupava desde 2021.

Em janeiro deste ano, a prefeita reconduziu Márcia Hokama ao cargo, mas com novo nome Secretaria Municipal de Fazenda (Sefaz). Portanto, ela já está na função de liderança na Sefin/Sefaz desde 2022.

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POLÍTICA

Em pedido de renúncia, Zambelli diz que segue viva e que Brasil continuará ouvindo sua voz

Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão por mandar um hacker invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e está presa na Itália desde julho.

14/12/2025 22h00

Deputada federal Carla Zambelli

Deputada federal Carla Zambelli Agência Câmara

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A agora ex-deputada federal, Carla Zambelli (PL-SP), usou o pedido de renúncia de seu mandato para elogiar a proteção recebida pela Câmara e para dizer que "segue viva" mesmo após deixar os quadros da Casa. Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão por mandar um hacker invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e está presa na Itália desde julho.

"A história registra: mandatos podem ser interrompidos; a vontade popular, jamais. Eu sigo viva, a verdade permanece, e o Brasil continuará a ouvir minha voz", afirmou, na solicitação encaminhada ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos).

Zambelli também agradeceu as decisões da Câmara que mantiveram o mandato da deputada, antes de Supremo Tribunal Federal anulá-las e determinar a perda de mandato de Zambelli. "Esse ato da Câmara foi institucional e constitucional: um momento em que a Casa do Povo afirmou a soberania do voto, o devido processo legal e os limites do poder punitivo do Estado", escreveu.

Leia a íntegra do comunicado:

RENÚNCIA AO MANDATO PARLAMENTAR

AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR

PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPUTADO FEDERAL HUGO MOTTA

Excelentíssimo Senhor Presidente,

Senhoras e Senhores Deputados,

Povo brasileiro,

Eu, Carla Zambelli Salgado de Oliveira, Deputada Federal eleita para a 57ª Legislatura (2023-2027), representante do Estado de São Paulo, legitimada por 946.244 votos nas eleições gerais de 2022, faço esta manifestação por intermédio de meus advogados constituídos, Dr. Fabio Pagnozzi e Dr. Pedro Pagnozzi, diante da impossibilidade de comparecer pessoalmente a esta Casa, em razão de encontrar-me privada de liberdade em território estrangeiro. Falo, portanto, não apenas como parlamentar, mas como voz de quase um milhão de brasileiros que confiaram em mim sua representação.

O que se registra neste ato não é apenas a renúncia a um mandato, mas um marco institucional. A Câmara dos Deputados exerceu integralmente sua competência constitucional, observando o procedimento previsto no artigo 55 da Constituição Federal, especialmente seus ?? 2º e 3º, que atribuem exclusivamente ao Poder Legislativo a deliberação sobre a perda de mandato parlamentar, mediante decisão do Plenário, assegurados o contraditório e a ampla defesa.

No curso desse procedimento, foi elaborado relatório pelo Relator na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, Deputado Diego Garcia, demonstrando, de forma técnica e fundamentada, que não existem provas jurídicas aptas a sustentar a perda do meu mandato, tampouco elementos que embasem qualquer condenação. Esse relatório trouxe à luz uma verdade elementar do Estado de Direito: não se cassa um mandato sem provas.

Essa compreensão foi confirmada pelo Plenário da Câmara dos Deputados, que, ao não deliberar pela cassação, afirmou que não havia fundamento jurídico legítimo para suprimir um mandato conferido por quase um milhão de brasileiros. Esse ato foi institucional e constitucional: um momento em que a Casa do Povo afirmou a soberania do voto, o devido processo legal e os limites do poder punitivo do Estado.

A História constitucional ensina que os regimes livres somente subsistem quando cada Poder reconhece seus limites. Montesquieu advertia que "todo aquele que detém poder tende a abusar dele, indo até onde encontra limites". O registro aqui produzido reafirma que o Parlamento não é instância acessória, mas Poder constitucional autônomo, cuja competência não pode ser esvaziada sem grave risco ao Estado Democrático de Direito. Este episódio permanecerá como referência institucional para situações semelhantes, nas quais se discuta a preservação do mandato popular frente à expansão indevida do poder punitivo estatal.

Posteriormente, deliberação do Supremo Tribunal Federal determinou a perda do mandato, afastando o resultado do procedimento conduzido por este Parlamento.

É diante desse quadro, e não por medo, fraqueza ou desistência, que comunico, de forma pública e solene, minha renúncia ao mandato parlamentar, para que fique registrado que um mandato legitimado por quase um milhão de votos foi interrompido apesar do reconhecimento formal, por esta Casa, da inexistência de provas para sua cassação.

Este gesto não é rendição. É registro histórico. É a afirmação de que mandatos passam; princípios permanecem. A democracia não se resume às urnas; ela vive no respeito às instituições e na coragem de registrar a verdade.

Dirijo-me, por fim, ao povo brasileiro. Aos meus eleitores, afirmo: a verdade foi dita, a história foi escrita e a consciência permanece livre. Ideias não se cassam. Convicções não se prendem. A vontade popular não se apaga.

A história registra: mandatos podem ser interrompidos; a vontade popular, jamais. Eu sigo viva, a verdade permanece, e o Brasil continuará a ouvir minha voz.

Que Deus abençoe o povo brasileiro, ilumine esta Nação e a conduza, sempre, pelo caminho do direito, da justiça e da liberdade.

Respeitosamente,

Carla Zambelli Salgado de Oliveira

Deputada Federal - Brasil

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