Pouco mais de um mês depois de ter apresentado o relatório na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets do Senado, a relatora da comissão, senadora Soraya Thronicke (Podemos), tem um motivo para comemorar. É que a Polícia Federal (PF) “ressuscitou” parte de seu relatório e pediu para abrir inquérito para apurar a relação entre um dos indiciados por Soraya, o empresário Fernando Oliveira Lima, o Fernandim OIG, e o senador Ciro Nogueira (PP).
Fernandim, conforme noticiou a revista Piauí, é um dos introdutores do “jogo do tigrinho” no Brasil e amigo do senador Ciro Nogueira, que também participava das sessões da CPI relatada por Soraya Thronicke.
O empresário, dono de uma das empresas ligadas ao “jogo do tigrinho”, também foi destaque em outra reportagem no mês passado, quando foi revelado que Ciro Nogueira e Fernandim viajaram juntos no jatinho de alcance intercontinental do empresário das bets para Mônaco, a fim de assistir ao Grande Prêmio de Fórmula 1.
Além de ter indiciado Fernandim em seu relatório – rejeitado por 4 votos a 3 votos na comissão – na época da viagem, Soraya havia pedido a exclusão de Ciro Nogueira como um dos membros da CPI, depois que a viagem dele com o investigado na comissão foi revelada.
Além da viagem para o continente europeu, a reportagem da Piauí ainda afirma que relatórios de inteligência financeira acessados pela CPI das Bets (aos quais a senadora sul-mato-grossense teve acesso) mostram transferências de Fernandim OIG para um ex-assessor de Ciro Nogueira, no valor de R$ 625 mil. Na mesma época, o ex-assessor depositou R$ 35 mil na conta do senador.
Nogueira afirmou à revista que o montante dizia respeito ao reembolso de uma reserva de hotel na Itália, enquanto os R$ 625 mil seriam relativos ao pagamento de um relógio de luxo negociado entre Fernandim OIG e o ex-assessor.
A INVESTIGAÇÃO
O pedido feito ao STF, informa a Piauí, é um desdobramento de uma iniciativa da senadora Soraya Thronicke, que reuniu dados da CPI e os enviou à Procuradoria-Geral da República (PGR) e à PF. O inquérito tramita sob sigilo.
No dia 11 de junho, os senadores rejeitaram o relatório final da CPI das Bets, apresentado por Thronicke. O documento pedia o indiciamento de uma série de influenciadores e empresários, entre eles o de Fernandim OIG. Segundo o texto, ele e outros parceiros ligados à empresa utilizaram contratações para publicidade e serviços digitais como fachada para encobrir a origem de recursos provenientes de jogos de azar não regulados.
Os quatro votos que derrotaram o relatório final foram dados pelos senadores Angelo Coronel (PSD), Eduardo Gomes (PL), Efraim Filho (União Brasil) e Professora Dorinha Seabra (União Brasil). Além de Soraya, votaram a favor do texto os senadores Eduardo Girão (Novo) e Alessandro Vieira (MDB).
Em novembro do ano passado, Fernandim OIG foi ouvido pela CPI.
Na ocasião, afirmou que o “jogo do tigrinho” está “malfalado” por causa das empresas clandestinas, que usam algoritmos maliciosos e ficam com a maior parte do dinheiro das apostas. O empresário piauiense se propôs a entregar um estudo sobre elas à comissão e negou ser o dono do “jogo do tigrinho” no Brasil. O governo estima que há 5,2 mil sites de bets ilegais no País.
SAIBA
O relatório de Soraya Thronicke, rejeitado pelo placar de 4 a 3 na CPI das Bets, indiciava empresários donos de empresas de apostas e influenciadores, proibia jogos como o “jogo do tigrinho”, previa a prisão de quem promovesse apostas ilegais, entre outras medidas.


