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Quem é o advogado do Rumble que conversou com Bolsonaro sobre ações contra Moraes

Segundo as mensagens interceptadas pela PF, Martin de Luca enviou a Bolsonaro uma cópia de uma peça do processo movido contra o magistrado

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A investigação da Polícia Federal que indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por coação no curso do processo identificou diálogos entre o ex-presidente e o advogado americano Emiliano Martin de Luca, que representa as empresas Rumble e Trump Media em uma queixa civil na Justiça Federal da Flórida contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF)

Segundo as mensagens interceptadas pela PF, Martin de Luca enviou a Bolsonaro uma cópia de uma peça do processo movido contra o magistrado. Além disso, o ex-presidente pediu ajuda ao advogado sobre como se posicionar após a imposição de tarifa de 50% a produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Martin de Luca é bacharel em Belas Artes, Ciências Políticas e Estudos do Leste Europeu pela Universidade Rutgers, de Nova Jersey. Formou-se em Direito em 2010 na Universidade Fordham, de Nova York. O defensor é sócio do escritório Boies Schiller Flexner, especializado em litígios internacionais e em clientes de alto padrão.

Nos Estados Unidos, o curso de Direito é uma pós-graduação e exige do estudante um bacharelado anterior. Embora seja chamado de "juris doctor", o curso não é equivalente ao doutorado brasileiro.

De Luca representa as empresas Rumble e Trump Media contra Alexandre de Moraes, acusado de violação às leis americanas sobre liberdade de expressão. Os autores pedem que a Justiça dos Estados Unidos reconheça como inexequíveis as ordens do ministro para a remoção de conteúdo e de contas na plataforma de vídeos Rumble.

A Rumble funciona de modo parecido ao YouTube e surgiu com a proposta de ser "imune à cultura do cancelamento". A rede passou a abrigar produtores de conteúdo restritos em outras plataformas, como os comentaristas Paulo Figueiredo, Rodrigo Constantino e Bruno Aiub, conhecido como Monark. O site descumpriu determinações da Justiça brasileira e não indicou um representante legal no País. Por essas razões, foi proibido de atuar em território nacional.

A Polícia Federal identificou diálogos entre Martin de Luca e Jair Bolsonaro. Em 13 de julho, Bolsonaro enviou a De Luca uma publicação no X (antigo Twitter) em que se posicionou sobre o anúncio das tarifas adicionais a produtos brasileiros. Depois, o defensor e o ex-presidente trocaram mensagens sobre publicações jornalísticas.

Durante a conversa, De Luca disse a Bolsonaro que recebeu mensagens de veículos de mídia dos Estados Unidos interessados em um posicionamento do ex-presidente sobre a crise do tarifaço

Em 14 de julho, o ex-presidente pediu orientações ao advogado sobre comunicações futuras. "Me orienta uma nota pequena da tua parte, que eu possa fazer aqui, botar nas minhas mídias, pra chegar a vocês de volta aí. Obrigado aí. Valeu, Martin", disse Bolsonaro. Em resposta, Martin prometeu ajudá-lo. Bolsonaro replicou dizendo que o defensor poderia lhe ligar "quando desejar".

Ainda em 14 de julho, De Luca enviou a Bolsonaro uma peça do processo movido contra Alexandre de Moraes na Justiça dos Estados Unidos. Trata-se do aditamento realizado pela Trump Media naquele mesmo dia. Na petição, a empresa ligada ao presidente americano e detentora da rede social Truth Social apresentou novos argumentos à Justiça americana.

Para a Polícia Federal, o encaminhamento da petição a Bolsonaro naquele mesmo dia evidencia um desvio de finalidade do processo contra Moraes na Justiça americana. Segundo o inquérito, há evidências de desvio da "real finalidade das pretensões deduzidas pela empresa (Rumble) em face de litigância contra ministro do Supremo Tribunal Federal".

O Estadão já havia mostrado que as empresas Rumble e Trump Media peticionaram contra Moraes em datas coincidentes à ação penal por tentativa de golpe, relatada pelo magistrado. Além de 14 de julho, houve petições coincidentes a outros dois marcos da ação penal da trama golpista. Martin de Luca negou o espelhamento de datas. "Não houve nenhuma coincidência - o calendário foi planejado inteiramente por Alexandre de Moraes. A Rumble não escolheu o momento nem o motivo pelo qual recebeu ordens judiciais ilegais em fevereiro", disse De Luca.

Em 15 de julho, Bolsonaro e De Luca conversaram em uma chamada de voz de cerca de nove minutos. A conversa foi intercalada por mensagens com reportagens sobre a possível sanção a Alexandre de Moraes por meio da Lei Magnitsky. O ministro veio a ser sancionado com a norma no dia 30 daquele mês.

O ex-presidente seguiu em contato com o advogado estrangeiro no dia 16. Na sexta-feira, 18, Bolsonaro foi alvo de operação da Polícia Federal e foi submetido a cinco medidas cautelares. O descumprimento reiterado das medidas levou Moraes a decretar sua prisão domiciliar em 4 de agosto.

Para a Polícia Federal, os diálogos mostram que Bolsonaro comportou-se "de forma subordinada às pretensões de grupo estrangeiro, com a finalidade de obter o apoio a pretensões pessoais, no sentido de implementar ações criminosas de coação a membros da Suprema Corte".

"A adesão subjetiva por interesses comuns entre os investigados se materializa nas ações de ataques ao Poder Judiciário brasileiro, evidenciado pelo desvio de finalidade da pretensão formulada em ação judicial no exterior, bem como no prévio ajuste de conteúdos a serem publicados em redes sociais contra membros do STF", observam os investigadores.

Em nota, o defensor afirmou que as conversas interceptadas são "correspondências profissionais rotineiras" e não comprovam uma "subordinação estrangeira" de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos. "Como advogado americano, presto regularmente orientação jurídica e de comunicação. Esse é o meu trabalho. Oferecer sugestões sobre a redação de uma breve nota pública ou encaminhar um documento judicial público é absolutamente comum. Ainda assim, esses atos rotineiros agora são distorcidos e apresentados como teorias conspiratórias", afirmou o advogado. "Continuarei realizando meu trabalho de forma transparente e profissional, sem medo."

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TROCA DE COMANDO

Secretária de Fazenda pode não voltar ao cargo após licença

O Correio do Estado apurou que o futuro da titular da Sefaz será a exoneração e o substituto deve sair da própria equipe

15/12/2025 08h00

A secretária municipal de Fazenda, Márcia Helena Hokama, está no cargo desde abril de 2022

A secretária municipal de Fazenda, Márcia Helena Hokama, está no cargo desde abril de 2022 Marcelo Victor

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À frente das finanças da Prefeitura de Campo Grande desde abril de 2022, a secretária municipal de Fazenda, Márcia Helena Hokama, não vai mais retornar ao cargo depois da prorrogação da licença médica por estresse e ansiedade iniciada em 20 de novembro deste ano e com previsão de encerrar no dia 8 de janeiro de 2026.

O Correio do Estado obteve a informação com exclusividade por meio de fontes do alto escalão da administração municipal de Campo Grande, que ainda explicaram que a prefeita Adriane Lopes (PP) teria sido comunicada da impossibilidade de a titular da Secretaria Municipal de Fazenda (Sefaz) reassumir as funções por conta de suas condições mentais.

Diante disso, a chefe do Executivo da Capital já teria determinado a procura por um substituto e, por enquanto, a tendência é de que o atual secretário-adjunto da Sefaz, Isaac José de Araújo, seja elevado a titular da Pasta por fazer parte da equipe técnica que foi montada por Márcia Hokama, considerada muito competente por Adriane Lopes.

A reportagem também foi informada de que a decisão da secretária de participar da corrida de rua de Bonito, realizada no dia 6, durante o afastamento por questões de saúde e o fato ter ganhado repercussão na mídia municipal teria pesado para que a continuidade dela no cargo após o fim da licença médica ficasse insustentável.

Márcia Hokama chegou a ser fotografada ao concluir um percurso de 10 km e conquistar o 23º lugar na categoria (competidores com idade entre 50 e 59 anos), e a imagem dela sendo publicada pelos principais órgãos de imprensa “pegou” muito mal até mesmo a imagem da prefeita, que é uma grande defensora do trabalho da secretária.

Porém, como a mulher de César não basta ser honesta, ela também precisa parecer honesta, a corrida foi a gota d’água para fim dos mais de três anos dela à frente das finanças municipais, período marcado por muito desgaste político e pressões decorrentes de crises no transporte coletivo urbano, na saúde e nas finanças, chegando a ser cobrança publicamente pela Câmara Municipal de Campo Grande.

O ponto alto desse desentendimento com os vereadores foi quando Márcia Hokama faltou à convocação para dar explicações sobre a crise, e, na época, ela já chegou a alegar problemas de saúde. Em novembro, a situação mental dela teria chegado no fundo do poço, obrigando o pedido de licença médica.

A partir da oficialização da concessão do afastamento, os boatos começaram dando conta de que ela não retornaria mais ao cargo, porém, a prefeita Adriane Lopes assegurava o retorno da titular da Sefaz após o fim da licença médica.

Entretanto, depois da divulgação da participação de Márcia Hokama da corrida de rua de Bonito a prorrogação da dispensa das funções foram decisivas para que a chefe do Executivo Municipal cedesse à pressão pela exoneração da secretária.

Procurada pelo Correio do Estado, a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, não quis comentar até o fechamento desta edição. O espaço continuar aberto para a manifestação da chefe do Executivo Municipal.

*SAIBA

A trajetória de Márcia Hokama começou em abril de 2022, quando foi nomeada pela prefeita Adriane Lopes como titular da Secretária Municipal de Finanças (Sefin), ficando responsável pelas finanças do município de Campo Grande e deixando o cargo de secretária-adjunta, o qual ocupava desde 2021.

Em janeiro deste ano, a prefeita reconduziu Márcia Hokama ao cargo, mas com novo nome Secretaria Municipal de Fazenda (Sefaz). Portanto, ela já está na função de liderança na Sefin/Sefaz desde 2022.

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POLÍTICA

Em pedido de renúncia, Zambelli diz que segue viva e que Brasil continuará ouvindo sua voz

Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão por mandar um hacker invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e está presa na Itália desde julho.

14/12/2025 22h00

Deputada federal Carla Zambelli

Deputada federal Carla Zambelli Agência Câmara

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A agora ex-deputada federal, Carla Zambelli (PL-SP), usou o pedido de renúncia de seu mandato para elogiar a proteção recebida pela Câmara e para dizer que "segue viva" mesmo após deixar os quadros da Casa. Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão por mandar um hacker invadir o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e está presa na Itália desde julho.

"A história registra: mandatos podem ser interrompidos; a vontade popular, jamais. Eu sigo viva, a verdade permanece, e o Brasil continuará a ouvir minha voz", afirmou, na solicitação encaminhada ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos).

Zambelli também agradeceu as decisões da Câmara que mantiveram o mandato da deputada, antes de Supremo Tribunal Federal anulá-las e determinar a perda de mandato de Zambelli. "Esse ato da Câmara foi institucional e constitucional: um momento em que a Casa do Povo afirmou a soberania do voto, o devido processo legal e os limites do poder punitivo do Estado", escreveu.

Leia a íntegra do comunicado:

RENÚNCIA AO MANDATO PARLAMENTAR

AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR

PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPUTADO FEDERAL HUGO MOTTA

Excelentíssimo Senhor Presidente,

Senhoras e Senhores Deputados,

Povo brasileiro,

Eu, Carla Zambelli Salgado de Oliveira, Deputada Federal eleita para a 57ª Legislatura (2023-2027), representante do Estado de São Paulo, legitimada por 946.244 votos nas eleições gerais de 2022, faço esta manifestação por intermédio de meus advogados constituídos, Dr. Fabio Pagnozzi e Dr. Pedro Pagnozzi, diante da impossibilidade de comparecer pessoalmente a esta Casa, em razão de encontrar-me privada de liberdade em território estrangeiro. Falo, portanto, não apenas como parlamentar, mas como voz de quase um milhão de brasileiros que confiaram em mim sua representação.

O que se registra neste ato não é apenas a renúncia a um mandato, mas um marco institucional. A Câmara dos Deputados exerceu integralmente sua competência constitucional, observando o procedimento previsto no artigo 55 da Constituição Federal, especialmente seus ?? 2º e 3º, que atribuem exclusivamente ao Poder Legislativo a deliberação sobre a perda de mandato parlamentar, mediante decisão do Plenário, assegurados o contraditório e a ampla defesa.

No curso desse procedimento, foi elaborado relatório pelo Relator na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, Deputado Diego Garcia, demonstrando, de forma técnica e fundamentada, que não existem provas jurídicas aptas a sustentar a perda do meu mandato, tampouco elementos que embasem qualquer condenação. Esse relatório trouxe à luz uma verdade elementar do Estado de Direito: não se cassa um mandato sem provas.

Essa compreensão foi confirmada pelo Plenário da Câmara dos Deputados, que, ao não deliberar pela cassação, afirmou que não havia fundamento jurídico legítimo para suprimir um mandato conferido por quase um milhão de brasileiros. Esse ato foi institucional e constitucional: um momento em que a Casa do Povo afirmou a soberania do voto, o devido processo legal e os limites do poder punitivo do Estado.

A História constitucional ensina que os regimes livres somente subsistem quando cada Poder reconhece seus limites. Montesquieu advertia que "todo aquele que detém poder tende a abusar dele, indo até onde encontra limites". O registro aqui produzido reafirma que o Parlamento não é instância acessória, mas Poder constitucional autônomo, cuja competência não pode ser esvaziada sem grave risco ao Estado Democrático de Direito. Este episódio permanecerá como referência institucional para situações semelhantes, nas quais se discuta a preservação do mandato popular frente à expansão indevida do poder punitivo estatal.

Posteriormente, deliberação do Supremo Tribunal Federal determinou a perda do mandato, afastando o resultado do procedimento conduzido por este Parlamento.

É diante desse quadro, e não por medo, fraqueza ou desistência, que comunico, de forma pública e solene, minha renúncia ao mandato parlamentar, para que fique registrado que um mandato legitimado por quase um milhão de votos foi interrompido apesar do reconhecimento formal, por esta Casa, da inexistência de provas para sua cassação.

Este gesto não é rendição. É registro histórico. É a afirmação de que mandatos passam; princípios permanecem. A democracia não se resume às urnas; ela vive no respeito às instituições e na coragem de registrar a verdade.

Dirijo-me, por fim, ao povo brasileiro. Aos meus eleitores, afirmo: a verdade foi dita, a história foi escrita e a consciência permanece livre. Ideias não se cassam. Convicções não se prendem. A vontade popular não se apaga.

A história registra: mandatos podem ser interrompidos; a vontade popular, jamais. Eu sigo viva, a verdade permanece, e o Brasil continuará a ouvir minha voz.

Que Deus abençoe o povo brasileiro, ilumine esta Nação e a conduza, sempre, pelo caminho do direito, da justiça e da liberdade.

Respeitosamente,

Carla Zambelli Salgado de Oliveira

Deputada Federal - Brasil

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