Preso pela Polícia Federal em 2024, Coronel seria parte de grupo que incitou golpe dentro das Forças Armadas pós-eleição de Lula em 2022
O Coronel do Exército, Bernardo Romão Corrêa Netto, que comandou pelotão da força armada no município de Bela Vista, está na lista de denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suposta tentativa de golpe de Estado.
Além do militar, a PGR denunciou outras 33 pessoas, entre elas, o ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. A lista foi divulgada nessa terça-feira (19).
Em indiciamento da Polícia Federal no ano passado, Romão Netto foi acusado pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa.
Operação Tempus Veritatis
Investigado pela Polícia Federal, o coronel Bernardo Romão Netto foi preso durante a Operação Tempus Veritatis, em fevereiro de 2024.
A ofensiva deteve, na época, vários oficiais militares e auxiliares do ex-presidente Jair Bolsonaro suspeitos de envolvimento em tentativa de invalidar o resultado das eleições de 2022.
O Coronel, que estava em Washington (EUA) para participar de um curso de defesa, foi alvo de uma ordem de prisão expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, no âmbito da Operação Tempus Veritatis.
Em Mato Grosso do Sul, Netto comandou o 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado (10º R C Mec) em Bela Vista e permaneceu no cargo até 12 de janeiro de 2022, quando passou o comando.
Indiciamento pela PF
Integrante da cavalaria do Exército e dos "Black Kids", um pelotão de elite da força armada, Romão também esteve presente na reunião ocorrida em 28 de outubro, em Brasília, logo após o segundo turno das eleições, onde foram discutidos planos para um possível golpe.
As investigações da PF abordaram dois eixos principais: a tentativa de golpe de Estado e a abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Além disso, identificaram a disseminação de notícias falsas sobre supostas fraudes nas eleições presidenciais, com o objetivo de legitimar uma eventual intervenção militar.
Os investigadores também encontraram indícios de envolvimento de Romão na chamada "milícia digital", conhecida popularmente como "gabinete do ódio", grupo responsável pela propagação de desinformação e discursos antidemocráticos.
'Braço direito' de Mauro Cid
O coronel, é apontado como braço direito do ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Romão Netto aparece como suspeito nas investigações como figura que articulava e incitava os militares a aderir ao golpe.
A reunião ocorreu por intermédio de Corrêa Neto, e contou com a presença de assistentes dos generais que supostamente seriam favoráveis ao golpe, assim como oficiais.
Conforme trocas de mensagens trocadas, localizadas no celular de Mauro Cid, foram selecionados apelas militares que fazem parte das forças especiais (Kids Pretos).
No documento da polícia federal ele compunha o núcleo que tinha como objetivo que os militares aderissem ao golpe de estado.
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Além disso, Romão Neto apareceu dentro do âmbito do 'gabinete do ódio' estimulando que integrantes das Forças Armadas disseminassem notícias falsas, por meio das redes sociais, questionando lisura do processo eleitoral do país. Em conversas com Cid, a investigação aponta que a sugestão de medidas que atentam contra a democracia.
"Nesse sentido, observa-se a atuação do investigado BERNARDO ROMÃO CORREA NETO nas medidas direcionadas à disseminação de notícias falsas por integrantes das Forças Armadas em associação com outros membros do grupo criminoso para desacreditar o processo eleitoral".
Mensagens sobre a reunião para discutir o golpe:
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Após a reunião com as Forças Especiais (FE) uma carta foi elaborada para ser encaminhada ao comandante do exército Freire Gomes com intuito de pressioná-lo a aderir ao golpe, intitulada como "Carta ao Comandante do Exército de Oficias Superiores da Ativa do Exército Brasileiro".
No "apagar" das luzes do governo do presidente Bolsonaro, precisamente no dia 30 de dezembro de 2022, foi enviado para fazer um curso até julho de 2025, o que levantou suspeita por parte da investigação de que teria sido uma tentativa de escapar de eventuais investigações.
"Ressaltem-se, ainda, as considerações da autoridade no sentido de que BERNARDO ROMÃO CORREA NETO: foi designado para exercer missão no Estados Unidos - com ônus total para o Comando do Exército - na cidade de Washington, D.C. até junho de 2025. A permanência do investigado em solo estrangeiro por pelo menos mais um ano e meio, somada as circunstâncias da designação da missão, que somente foi publicada no fim do governo anterior (30.12.2022), demonstram fortes indícios de que o investigado agiu para se furtar ao alcance de investigações e consequentemente da aplicação da lei penal, fatos estes que justificam a decretação da prisão preventiva".
Portela fica de fora da lista dos denunciados pela PGR
De volta à denúncia da PGR dessa terça-feira (18), tenente da reserva Aparecido Andrade Portela, presidente do Partido Liberal (PL) em Mato Grosso do Sul e primeiro suplente da senadora Tereza Cristina (PP), foi um dos nomes que ficaram de fora da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por tentativa de golpe de Estado em 2022.
Ele era um dos 40 indiciados pela Polícia Federal (PF) em dezembro de 2024, sendo apontado como um dos interlocutores entre o governo de Jair Bolsonaro (PL) e os financiadores de manifestações antidemocráticas.
No entanto, assim como outros nove nomes da lista, Portela não foi denunciado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, na última terça-feira (18).
Portela é citado no rodapé de uma das páginas da denúncia, como alvo de "diligências complementares". Confira:
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A denúncia da PGR tem 34 nomes, sendo que quatro deles não estavam na lista da PF. Gonet incluiu um coronel e três outros nomes que já haviam sido indiciados anteriormente, como Silvinei Vasques, ex-chefe da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e outros dois policiais federais.
Portela e os atos golpistas
A Polícia Federal identificou uma troca de mensagens entre o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e Portela, onde usou o termo "churrasco" para se referir ao golpe de Estado.
O relatório também destacava a proximidade de Portela e Bolsonaro desde a década de 70, quando serviram juntos na cidade de Nioaque (MS)
"De acordo com os registros de entrada e saída de pessoas no Palácio do Alvorada, o investigado tenente Portela realizou ao menos 13 visitas no mês de dezembro de 2022 ao então presidente Jair Bolsonaro", diz relatório da PF.
Ficaram de fora
Confira quais foram os indiciados pela PF que ficaram de fora da denúncia, além de Portela:
Valdemar Costa Neto
Presidente nacional do PL, Valdemar chegou a ser preso em flagrante por posse ilegal de arma de fogo no âmbito da apuração da tentativa de golpe. Desde então, não pode manter contato com Bolsonaro. A investigação coloca o presidente do PL no que chama de "Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral".
Segundo a PF, coube a Valdemar "financiar, divulgar perante a imprensa e endossar a ação judicial que corroborava a atuação da rede de 'especialistas' que subsidiaram 'estudos técnicos' que comprovariam supostas fraudes nas eleições presidenciais de 2022".
Alexandre Castilho Bitencourt da Silva
Coronel do Exército, foi apontado pela PF como suspeito de articular carta que pressionava a cúpula das Forças Armadas a dar um golpe contra Lula.
Anderson Lima de Moura
Coronel do Exército, foi apontado pela PF como suspeito de articular carta que pressionava a cúpula das Forças Armadas a dar um golpe contra Lula.
Carlos Giovani Delevati Pasini
Coronel da reserva do Exército, foi apontado pela PF como suspeito de articular carta que pressionava a cúpula das Forças Armadas a dar um golpe contra Lula.
Laercio Vergilio
Coronel da reserva, segundo a PF, atuou para incitar o golpe. Em depoimento, disse que a prisão de Alexandre de Moraes seria necessária para a "volta da normalidade institucional".
Fernando Cerimedo
Influenciador argentino que passou a fazer a fazer lives e publicações logo após a vitória de Lula no segundo turno das eleições que tiveram grande alcance. Ele alegava que as eleições brasileiras teriam sido fraudadas.
José Eduardo de Oliveira e Silva
O padre foi citado pela PF como integrante do núcleo jurídico do esquema golpista. Segundo a investigação, ele tem vínculo com pessoas e empresas envolvidas na produção de notícias falsas.
Tércio Arnaud Tomaz
Ex-assessor de Bolsonaro, Tércio chegou a ser apontado como o líder do chamado "gabinete do ódio", responsável por espalhar fake news e outras informações a favor do governo Bolsonaro. Em operação realizada em fevereiro, a PF apreendeu o telefone celular de Tércio na casa de Bolsonaro em Angra dos Reis (RJ).
Amauri Feres Saad
O advogado teria participado das discussões sobre a minuta golpista, segundo a PF. Ele foi apontado por Mauro Cid como uma das pessoas que apresentou um documento pedido por Bolsonaro com uma série de considerandos -um compilado de momentos em que, na visão do ex-presidente, a Justiça teria interferido ilegalmente em seu governo.
Deputados de MS reagem à denúncia da PGR contra Bolsonaro: 'vai ser preso'
Parlamentares de Mato Grosso do Sul reagiram nesta quarta-feira (19) à denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Além de Bolsonaro, a decisão do procurador-geral da República Paulo Gonet, incluiu outras 33 pessoas, por suposta tentativa de golpe de Estado.
Após a repercussão do caso, apoiadores e opositores utilizaram as redes sociais para se manifestar contra e a favor do ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL).
Com informações de Folha Press
*Colaboraram Alanis Netto e Alicia Miyashiro
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