Cidades

Entrevista

Para procurador, indígenas que vivem em MS são cidadãos apenas no papel

No Dia do Índio o procurador fala sobre os vários problemas e poucas conquistas

CRISTINA MEDEIROS

19/04/2015 - 18h08
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Hoje, Dia do Índio, é uma boa oportunidade para saber, por exemplo, que em Mato Grosso do Sul vivem 80 mil pessoas distribuídas em sete povos indígenas. A informação é apenas uma das várias vindas de uma autoridade no assunto, o procurador da República Marco Antônio Delfino de Almeida, do Ministério Público Federal de MS e que atua em Dourados. Nesta entrevista ele fala, entre outras coisas, sobre a situação destas etnias no Estado, demarcação e posse de terras, mortes e ações em conjunto com o Governo estadual.

CORREIO PERGUNTA

Neste Dia do Índio começo perguntando ao senhor quantas etnias existem em Mato Grosso do Sul, quantos índios em cada uma delas e se alguma está próxima da extinção.

MARCO ANTÔNIO DELFINO DE ALMEIDA - Aproximadamente 80 mil pessoas distribuídas, de forma mais relevante, em sete povos indígenas : Guató, Guarani-Kaiowá, Guarani-Ñandeva, Kadiwéu, Kinikinawa, Ofaié e Terena. Os núcleos populacionais mais expressivos pertencem aos Guarani-Ñandeva, Guarani-Kaiowá e Terena com aproximadamente 70 mil integrantes. Este número equivale a aproximadamente 3% (três por cento) da população total do Estado de Mato Grosso do Sul e cerca de 10%(dez por cento) da população total indígena do Brasil. Registre-se que a proporção dos povos indígenas na população do Estado é cerca de sete vezes maior que a média nacional, o que coloca MS em pé de igualdade com o Canadá e o Chile. Por outro lado, em termos estatísticos e populacionais, o Brasil apresenta o menor núcleo populacional da América do Sul. Em termos populacionais, o Brasil tem menos representantes de povos indígenas do que os Estados Unidos e o Canadá. Logo, podemos inferir que a extinção genocida de populações indígenas é a regra, não a exceção.

Como o senhor definiria a atual situação destas comunidades em Mato Grosso do Sul? Elas recebem a atenção necessária para viver dignamente?

Os povos indígenas continuam cidadãos de papel - utilizando a expressão de Gilberto Dimenstein -, a passagem de tutelados para cidadãos, trazida pela Constituição de 1988, não aconteceu de forma efetiva. Diariamente, representantes dos povos indígenas têm que lutar para ver reconhecidos os seus direitos a serviços amplamente disponíveis aos demais cidadãos como, por exemplo, água e acesso à escola.

Falar sobre comunidade indígena é falar, entre outras coisas, em demarcação e posse de terras. O senhor diria que há desgaste do atual modelo de demarcação de terras indígenas? Seria preciso mudanças significativas no texto constitucional para assegurar reforma destes procedimentos?

A denegação de direitos à posse das terras tradicionalmente ocupadas é mais um capítulo da condição de cidadãos de segunda classe, majoritariamente atribuída aos povos indígenas. Se podemos, de um ponto de vista meramente retórico, apontar a existência de direitos absolutos, com precedência sobre todos os demais, forçosamente teríamos que eleger o direito à demarcação de terras indígenas como um de seus mais relevantes exemplos. A propriedade, por seu turno, apresenta uma expressa limitação constitucional que é a observância da sua função social. Logo, o discurso corrente de prevalência da propriedade sobre as terras tradicionalmente ocupadas não se sustenta. O que é necessário e, infelizmente, raro nas administrações públicas brasileiras, é o cumprimento estrito da Constituição com a consequente assunção de todos os custos políticos e financeiros envolvidos. Os equívocos que ocorreram no processo de titulação têm solução no próprio âmbito da constituição pela aplicação do art. 37, par. 6 e consequente indenização pelo erro estatal na emissão dos títulos. Esta indenização não se conflita e, especialmente, não pode condicionar o processo de demarcação de terras indígenas, umbilicalmente ligadas à plena efetivação do princípio da dignidade da pessoa humana.

Na sua visão, de que forma as decisões do Supremo Tribunal Federal, que usou o marco temporal de 1988 para anular duas demarcações de Terras Indígenas no Mato Grosso e Maranhão, afetarão as demarcações no Mato Grosso do Sul?

Confio na alteração do posicionamento do Supremo Tribunal Federal sobre o tema. Não creio que o STF venha a referendar, no plano jurídico, a conferência do título de cidadãos de segunda classe aos Indígenas. Há jurisprudência do próprio tribunal que atribui a imprescritibilidade das violações de direitos humanos para questões patrimoniais (no caso concreto, o cidadão pleiteiou indenização do Estado Brasileiro por atos de tortura). Ora, se pleitos indenizatórios vinculados a violações de direitos humanos são imprescritíveis, o mesmo fundamento dever ser aplicado, com muito mais justiça, ao processo reparatório das violações sofridas pelas populações indígenas. Os deslocamentos forçados de seus territórios são considerados como crime contra a humanidade e não podem sofrer qualquer espécie de limitação temporal no estabelecimento das reparações correspondentes. Pensar de forma diversa é pensar, como George Orwell em sua “Revolução dos Bichos”, que todos são iguais,mas uns são mais iguais que os outros.

Como o MPF está atuando na questão fundiária das terras indígenas?

Permanecemos atuando nas demandas judiciais e pretendemos intensificar a atuação extrajudicial, especialmente em relação às diversas ameaças experimentadas pelas populações indígenas em decorrência da omissão de mais de quarenta anos na demarcação de terras indígenas (o primeiro estabelecimento de prazo para finalização das demarcações de terras Indígenas ocorreu no Estatuto do índio de 1973). Ameaças que ocorrem diariamente em função de tentativas de alteração de seus territórios tradicionais ou pela implantação de novos empreendimentos.

O senhor atua em Dourados, região que registrou grande número de suicídios e problemas de alcoolismo nas comunidades indígenas. Este quadro continua o mesmo? O que mudou?

É impossível a dissociação dos suicídios e do alcoolismo do quadro histórico de violência sofrida pelas populações indígenas que vivem em reservas. O quadro é muito semelhante ao existente nos campos de refugiados existentes na África e no Oriente Médio. A semelhança não é fortuita. A rigor as reservas indígenas são campos de deslocados internos (conceituação jurídica para refugiados dentro do próprio país de origem). Estas pessoas foram removidas de forma forçada de suas áreas tradicionais de ocupação com intuito claro de utilização como mão de obra barata. A base da economia do estado se calcou nesta mão de obra, inicialmente com o trabalho escravo nos Ervais, posteriormente o trabalho igualmente escravo de “formações de fazendas” e, por último, o trabalho escravo/degradante na colheita da cana, especialmente até a década passada. A correção das mazelas decorrentes dos deslocamentos forçados necessita de uma atuação interdisciplinar com envolvimento das áreas da educação, da saúde, da assistência social, do diálogo com as lideranças indígenas e líderes religiosos com o consequente aporte de recursos para que possamos ter resultados que sejam expressivos.

Já houve conversas entre o MPF e a nova gestão estadual no que se refere à realidade indígena de Mato Grosso do Sul? Caso afirmativo, quais são as prioridades?

As conversas com o novo governo estão acontecendo e esperamos que ocorram avanços, especialmente nas áreas da saúde, educação, licenciamento de empreendimentos e Segurança Pública.

Uma das grandes repercussões indígenas no Estado de MS – e no Brasil - é a questão da posse das terras da Fazenda Buriti, que resultou na morte do índio Osiel Gabriel. Em outras situações há registro de mortes de indígenas, em casos mal resolvidos. Como o MPF se posiciona diante destas questões?

Infelizmente, o assassinato de lideranças indígenas é uma rotina no Estado de Mato Grosso do Sul. O MPF busca a responsabilização dos autores e obteve avanços expressivos neste sentido como a prisão e denúncia dos responsáveis pela morte da liderança Nisio Gomes, denúncia dos responsáveis pela morte dos professores indígenas de Y’Poi e pela e pela denúncia e punição de uma parte dos responsáveis pela morte do Cacique Marcos Veron.

Jovens e Adultos

IFMS abre inscrições com bolsas de até R$ 750 para cursos técnicos

Vagas são para oito municípios do estado, algumas de forma imediata

29/03/2025 18h00

Divulgação/IFMS

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O Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) está com inscrições abertas para a seleção de estudantes que desejam atuar como bolsistas em cursos técnicos integrados ao ensino médio, na modalidade Educação de Jovens e Adultos (Proeja). As bolsas piodem chegar até R$ 750, e são destinadas a estudantes matriculados nos campi de Aquidauana, Campo Grande, Corumbá, Coxim, Dourados, Jardim, Naviraí e Três Lagoas, com vagas imediatas para algumas dessas unidades.

Os bolsistas selecionados serão responsáveis por apoiar as atividades acadêmicas e administrativas, colaborando na organização dos serviços acadêmicos, no suporte aos estudantes e na resolução de dúvidas sobre o funcionamento dos cursos. A bolsa tem o valor de R$ 18 por hora, com carga horária de até 10 horas semanais, o que pode resultar em até R$ 720 por mês.

As vagas estão distribuídas entre preenchimento imediato e cadastro reserva. Nos campi de Aquidauana, Corumbá, Coxim, Dourados, Jardim e Naviraí, as vagas são imediatas. Para os outros campi, as vagas são para cadastro reserva, com convocação dos selecionados conforme a demanda do IFMS.

Requisitos

Para se candidatar, o estudante deve:

  • Estar matriculado em um curso técnico Proeja do IFMS;
  • Ter concluído o primeiro semestre do curso;
  • Apresentar frequência regular, sem reprovações por falta;
  • Disponibilidade para 10 horas semanais de dedicação;
  • Ter conhecimentos básicos em informática (editor de texto, planilhas, e-mail e ambiente virtual de aprendizagem);
  • Não receber outra bolsa ou auxílio incompatível com a Bolsa-Formação EJA-EPT.

Incrições

As inscrições são gratuitas e devem ser feitas até o dia 4 de abril, por meio da Página do Candidato da Central de Seleção. A classificação dos candidatos será feita com base no Índice de Coeficiente de Rendimento (ICR), em ordem decrescente.

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Campo Grande

Em meio à crise, prefeitura e Santa Casa prorrogam contrato de R$ 1 milhão

Conforme apurado pelo Correio do Estado, nova assinatura terá vigência de dois meses e será firmada em abril

29/03/2025 17h30

Pronto-socorro da Santa Casa, em Campo Grande

Pronto-socorro da Santa Casa, em Campo Grande Foto: Gerson Oliveira

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Santa Casa e a Prefeitura de Campo Grande irão prorrogar por mais dois meses um aditivo contratual de R$ 1 milhão. Conforme apurado pelo Correio do Estado, o valor é referente a um contrato temporário entre as partes, e deve ser oficializado em até 30 dias, uma vez que o aditivo vigente vence já na próxima segunda-feira (31). 

Cabe destacar que depois de alegar superlotação e suspender a admissão de novos pacientes no começo da semana, a "pressão" evidenciada pela Santa Casa surtiu efeitos e garantiu um aumento de repasses para a Instituição por parte do Governo do Estado, que por meio da Secretaria de Estado de Saúde (SES), firmou um repasse de R$25 milhões junto ao Fundo Municipal do setor, valor que será pago em três parcelas de R$ 8,3 milhões já a partir do próximo dia 20 de abril. 

O valor referente a novo contrato já havia sido ventilado ao longo dos últimos dias. Atualmente, os repasses da Prefeitura de Campo Grande ao hospital são por meio da Secretaria Municipal de Saúde Pública (Sesau), R$ 5 milhões.  

Saiba

Segundo o MPMS, a Santa Casa ficará encarregada de definir e apresentar, em até dez dias, um cronograma dos pagamentos prioritários, ou seja, o que diz respeito a prestadores de serviço; materiais médicos; medicamentos; insumos; órteses; próteses, etc, bem como: 

  • Apresentar até 30 de abril de 2025 um plano de reestruturação hospitalar, elaborado pela Fundação Dom Cabral;
  • Encaminhar relatórios da Consultoria Dom Cabral e balanços financeiros referentes aos exercícios de 2023 e 2024, até 30 de abril de 2025, via digital à 32ª e à 76ª Promotorias de Justiça de Campo Grande.

Santa Casa 

Em 24 de março, a Santa Casa indicou os níveis críticos de sua superlotação e apontou que não admitiria novos pacientes, em comunicado emitido à imprensa, na figura de seu diretor técnico, Dr. William Lemos. 

"E continua a pressão pelo número de pacientes que têm chegado. Não estamos conseguindo dar a vazão necessária para pacientes ortopédicos e clínicos, diante de um volume crescente que pressiona gravemente a assistência no nosso hospital que infelizmente pede socorro", disse o diretor na ocasião.

Ainda no começo de março, o Correio do Estado abordou o déficit mensal de R$ 13,2 milhões, conforme alegado pela Santa Casa, em dados apresentados ao Ministério Público Estadual.

Conforme o balanço de 2024, a Santa Casa alega faturamento de R$ 383,5 milhões e teve custos que somaram R$ 542,4 milhões, com o déficit sendo praticamente o mesmo valor recebido pelo hospital por parte da Prefeitura e Governo do Estado. 

Esse cenário da falta de recursos, por exemplo, já resultava em uma suspensão de cirurgias ortopédicas que se estendia desde setembro, com aproximadamente 360 procedimentos suspensos no período.

*Colaborou Leo Ribeiro

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