Ibama busca por peixes invasores que feriram banhistas em balneário particular no município; fiscalização é feita pela preocupação da presença desse animais
Preocupado com casos recentes de acidentes causados por mordida de peixes, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) realiza busca por espécies exóticas em um dos balneários de Bonito. Se confirmadas as suspeitas de peixes de fora da bacia pantaneira, o receio do órgão é de que isso possa desequilibrar o meio ambiente, destruindo a vegetação aquática da região.
Segundo a equipe ambiental do Ibama, composta também pelo professor convidado José Sabino, doutor em Ecologia e especialista em peixes, as suspeitas são de que as espécies tambaqui e tambacu – essa última que é derivada do cruzamento dos peixes pacu e tambaqui – causaram os acidentes registrados no Balneário Praia da Figueira.
Em entrevista para o Correio do Estado, a analista ambiental do Ibama Fabiane Souza informou que é preocupante o impacto ambiental com uma possível dispersão dessas espécies na biodiversidade de Bonito.
“Existe uma grande possibilidade de impacto não só com os acidentes com humanos, mas também com a biodiversidade, porque essas espécies vão competir por comida com outros animais locais. A lagoa é um sistema fechado, mas caso ocorra uma enchente ou um acidente de extravasar, esses peixes podem cair nos rios da região”, disse Fabiane.
“Os peixes exóticos interferem na cadeia alimentar de peixes nativos e em nascentes, como o Rio Sucuri, e poderiam destruir essa vegetação aquática em busca de alimento”, acrescentou.
Sobre os acidentes, Fabiane explicou que os dentes das espécies tambacu e tambaqui, por meio de suas mordidas, podem causar feridas. Em alguns casos, esses machucados necessitam de pontos para serem fechados.
“Esses animais têm uma dentição que é própria para quebrar coco, sementes, então é uma dentição muito forte e que pode ocorrer os acidentes com pessoas, por meio da oferta de alimentos ou da ceva, que é proibida por lei estadual”, frisou.
Das 20 ocorrências no balneário, registradas de janeiro a março, 11 envolviam ataques de peixes, sendo cinco amputações de falanges dos dedos das mãos.
O tambaqui é uma espécie da Bacia Amazônica na qual só é permitida a sua criação para aquicultura em sistema fechado. Mesmo sendo uma espécie exótica na Bacia do Rio Paraguai, sua presença no Rio Paraguai ocorre desde 1998. Já o híbrido com o pacu, o tambacu, não é permitido nem sequer para criação em aquicultura na Bacia do Rio Paraguai, conforme informou o Ibama.
BUSCAS
Após os frequentes registros de acidentes com mordida de peixes no Balneário Praia da Figueira, em Bonito, equipes do Ibama estão no lago desde esta terça-feira, a fim de realizar buscas das espécies supostamente causadoras dos acidentes.
Os objetivos principais do Ibama no balneário é identificar as espécies que habitam na lagoa e como chegaram lá, averiguando a necessidade de retirada de peixes e as condições associadas que podem caracterizar bioinvasão de espécies.
Caso sejam encontradas espécies exóticas de peixes no local, o Ibama deve aplicar uma multa aos responsáveis pelo balneário.
Por conta dos acidentes, o ponto turístico chegou a ser fechado no dia 26/3, após uma decisão assinada pelo diretor-presidente do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), André Borges, que suspendeu a licença de operação. Porém, três dias depois, o órgão estadual decidiu autorizar a reabertura parcial do empreendimento.
As atividades turísticas voltaram a ser realizadas por conta da instalação de uma grade de contenção para impedir o acesso dos peixes de médio e grande porte à área destinada ao banho.
TURISMO
O caso causou repercussão e trouxe preocupação às autoridades de turismo do Estado e de Bonito. De acordo com Bruno Wendling, diretor-presidente da Fundação de Turismo do Mato Grosso do Sul (Fundtur), esse é um caso isolado de um atrativo que não estava cumprindo as normas ambientais.
“Estamos sim [preocupados]. Esse atrativo não tem cumprido com as normas ambientais nem de segurança. Bonito é um destino seguro, responsável e que oferece atrativos naturais, com controle de carga e segurança nas atividades de natureza. Estamos atentos, [inclusive para] que o atrativo se adéque”, declarou Wendling.
Em nota, a prefeitura de Bonito, por meio da sua Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Econômico, informou que encaminhou um ofício ao Imasul relatando a situação.
“O Imasul tomou as providências necessárias com o atrativo, que já realizou as adequações cabíveis para garantir a segurança dos visitantes. Ressaltamos que estamos sempre atentos a situações pontuais que possam surgir, com o objetivo de aprimorar continuamente a qualidade da experiência dos turistas em nosso município”, comunicou.
“Bonito tem implementado o sistema de gestão de segurança (SGS) visando adotar práticas consagradas de segurança em ecoturismo e turismo de aventura no Brasil, proporcionando uma experiência ainda mais segura e positiva aos visitantes que escolhem Bonito como destino”, completou a nota.
Saiba
O Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS), no fim de fevereiro, instaurou um inquérito civil para investigar o Balneário Praia da Figueira por desvio de água do Rio Formoso
para abastecimento de açude do local.
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