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Solidão é doença e vivemos epidemia

Solidão é doença e vivemos epidemia

folha

25/05/2011 - 22h00
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Solidão virou epidemia. Há mais casas habitadas por uma única pessoa e estamos confiando menos uns nos outros, dizem as pesquisas.

Ainda assim, está cada vez mais difícil ficar sozinho. Basta um clique, e centenas de amigos invadem nossos computadores nas redes sociais.

Estar imerso na internet ou ser rodeado de parentes não muda o quadro "epidêmico", diz o psicólogo americano John T. Cacioppo, que é diretor do Centro de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade de Chicago (EUA).

Ele é autor de "Solidão ""A Natureza Humana e a Necessidade de Vínculo Social" (Ed. Record), livro que reúne quase 20 anos de suas pesquisas sobre o tema.

O mote é o seguinte: a espécie humana evoluiu graças às relações entre os indivíduos e ao apoio mútuo ao longo do tempo. A solidão vai na direção contrária à da evolução.

"Ela é como a dor ou a fome. É sinal de que algo não vai bem e que precisamos reforçar os vínculos sociais", afirmou Cacioppo à Folha, por telefone.

Os estudos que o autor conduziu, com estudantes da Universidade do Estado de Ohio (EUA) e um grupo de adultos mais velhos, apontaram que os solitários têm uma qualidade de sono pior do que os demais e estão mais propensos a doenças cardiovasculares e infecciosas.

A explicação também tem um quê darwinista: "A solidão crônica coloca a pessoa em estado de alerta constante, porque ela tem que se defender sozinha", diz.

Como resultado, o solitário passa mais tempo com altas concentrações de cortisol, hormônio ligado ao estresse.

O psicoterapeuta Roberto Golgkorn, que também escreveu um livro sobre o tema, "Solidão Nunca Mais" (Ed. Bertrand Brasil), concorda com o colega. Para ele, uma sociedade sem troca de afetos não consegue evoluir.

"Deve haver um fio que costure a identidade de todos, como em um formigueiro, que mais parece um organismo, enquanto as formigas são as células", diz.

Só na multidão

A atriz Maristela Vanini, 39, diz que sabe o que é ser solitária na companhia dos outros. Desde os cinco anos, quando ouvia discos do Carpenters em seu quarto, ela afirma se sentir só.

Ela mora com os pais, que a apoiam. "Mas me sinto incompreendida. Em casa não se fala sobre sentimentos."

Seus pais não viram a primeira vez em que ela subiu em um palco como profissional, dez anos atrás.

"Eu cheguei toda animada para contar aquela emoção, mas estavam todos dormindo. Solidão não é opção", diz.

Para o psiquiatra Geraldo Massaro, nem toda solidão é negativa. "A pessoa pode sair enriquecida da solidão, mesmo com sofrimento. Ela pode refletir sobre a própria vida, amadurecer."

Para o vendedor de livros Leonardo Minduri, 35, a solidão é "nobre".

"Estou na sociedade por obrigação. Se eu tivesse outra opção, estaria na montanha, isolado", conta ele, que se diz um eremita urbano.

Há cerca de dois anos, Minduri juntou dinheiro, colocou barraca e fogareiro na mochila e caiu na estrada.

Alternando entre ônibus e carona, ele partiu de Belo Horizonte, onde mora, e foi até Punta Arenas, no Chile.

Com Minduri, só embarcaram livros: Rimbaud, Nietzsche, Schopenhauer e Fernando Pessoa. "Prefiro a companhia deles do que a das pessoas", afirma.

Depois de seis meses vagando, Minduri começou a trocar mensagens com uma moça que conheceu pela internet. Hoje, eles namoram. Mas ela vive a 150 km de distância dele.

Canto sagrado

Orlando Colacioppo, 45, mora há duas décadas sozinho no centro de São Paulo.

Ele diz não sentir falta de ter alguém com quem desabafar em casa. "Para discutir os problemas, existem os amigos e os botecos."

O caso dele tem respaldo estatístico. Nos últimos 20 anos, segundo o IBGE, o número de casas habitadas por uma única pessoa passou de 7% para 12% no Brasil.

"Quanto mais convivência, mais atrito. Eu quero é curtir meu isolamento, no meu canto sagrado", afirma Orlando.

O designer já dividiu o apartamento com uma namorada por dois anos, mas diz que repetir a experiência seria difícil. "Se eu cair de amores, espero que ela tenha uma casa só dela."

Redes sociais

Compensar solidão física com centenas de amigos no Facebook não resolve, segundo o psicólogo Cacioppo.

"É como tentar matar a fome com aperitivo", compara. "A interação ali é eletrônica, a pessoa não é parte da vivência do amigo."

Para Sherry Turkle, psicóloga e professora do Massachusetts Institute of Technology (EUA), muitos optam pelos relacionamentos na rede por medo de contato íntimo.

"Estar conectado dá a ilusão de termos companhia sem as demandas de uma amizade", disse ela à Folha.

Segundo Turkle, autora do livro "Alone Together", lançado no início do ano, nos EUA, a tecnologia mudou a nossa experiência de solidão.

"Para fazer uma reflexão, precisamos 'postar' nosso pensamento. Assim, não cultivamos a capacidade de ficar sozinhos, de refletir por nós mesmos."

Jelson Oliveira, professor de filosofia da PUC do Paraná, concorda.

"Não sabemos mais ficar sozinhos e buscamos nos ocupar a toda hora, como se ficar sozinho fosse perda de tempo. Ocupamos o silêncio com o barulho".

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Bem-estar B+: Psicologia das cores e flores: como elas podem influenciar nosso bem-estar?

Ter arranjos florais em casa ou no escritório contribui para criar um ambiente mais acolhedor e agradável, reduzindo o estresse e aumentando a sensação de felicidade.

12/04/2025 15h00

Bem-estar B+: Psicologia das cores e flores: como elas podem influenciar nosso bem-estar?

Bem-estar B+: Psicologia das cores e flores: como elas podem influenciar nosso bem-estar? Foto: Divulgação

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As flores sempre ocuparam um papel significativo na cultura humana, sendo usadas para expressar emoções, celebrar momentos importantes e até melhorar o estado de ânimo das pessoas. Além de sua beleza, pesquisas indicam que elas influenciam diretamente nosso humor e bem-estar, estimulando emoções positivas e proporcionando conforto psicológico.

A psicologia das cores, por sua vez, também tem impacto significativo em nossas percepções e reações emocionais. A combinação entre as duas abordagens cria um efeito poderoso na forma como nos sentimos e nos relacionamos com o ambiente e com as pessoas ao nosso redor.

De acordo com pesquisa conduzida pela Rutgers University, nos Estados Unidos, receber um buquê ou vaso provoca uma resposta emocional positiva e duradoura, aumentando o contentamento e fortalecendo laços sociais.

O levantamento revelou que todas as participantes que receberam arranjos florais expressaram sorrisos verdadeiros e prolongados, indicando um impacto genuinamente positivo. Outro estudo, realizado pela Sociedade Americana de Ciências Hortícolas, aponta que locais floridos reduzem níveis de estresse e promovem sentimentos de alegria e satisfação.

Clóvis Souza, CEO da Giuliana Flores, o maior e-commerce de flores do país fala sobre o assunto... 

Influência das cores nos arranjos florais

Vermelho - paixão e energia: cor intensa e estimulante, associada ao amor, à paixão e à força. Rosas, tulipas e cravos são frequentemente escolhidas para demonstrar sentimentos profundos e ardentes. Além disso, essa cor pode aumentar a energia e estimular a autoconfiança.

Azul - calma e serenidade: conhecido por suas propriedades relaxantes, ajuda a reduzir o estresse e a ansiedade. Hortênsias e violetas são ideais para criar um espaço tranquilo e acolhedor, tornando-se excelente escolha para quartos e locais de meditação.

Amarelo - alegria e otimismo: estimula a mente, sendo a cor indicada para ambientes de trabalho e estudo. Girassóis, margaridas e lírios transmitem felicidade, entusiasmo e criatividade e são ótimas opções para demonstrar amizade e gratidão.

Rosa - romance e ternura: cor ligada ao amor romântico, à doçura e à delicadeza. Peônias, cravos e rosas evocam sentimentos de carinho e afeto, sendo a escolha ideal para presentear alguém especial.

Branco - paz e harmonia: Copos-de-leite, orquídeas e lírios brancos são frequentemente usados em cerimônias e eventos que evocam renovação e novos começos. A simples presença deles contribui para aumentar a sensação de calma e harmonia.

Bem-estar B+: Psicologia das cores e flores: como elas podem influenciar nosso bem-estar?Bem-estar B+: Psicologia das cores e flores: como elas podem influenciar nosso bem-estar? - Divulgação

Como utilizar flores para melhorar o bem-estar no dia a dia?

Ter arranjos florais em casa ou no escritório contribui para criar um ambiente mais acolhedor e agradável, reduzindo o estresse e aumentando a sensação de felicidade. Oferecer um vaso ou buquê floral a alguém querido também fortalece os laços afetivos, transmitindo carinho e apreço.

Outra possibilidade é explorar o uso terapêutico delas, seja por meio da jardinagem, que proporciona relaxamento e conexão com a natureza, seja por meio da aromaterapia com óleos essenciais, auxiliando no alívio da ansiedade e na promoção do equilíbrio emocional.

"As flores são muito mais do que meros adornos naturais. Seu impacto vai além da estética, influenciando emoções, fortalecendo relacionamentos e promovendo o bem-estar. A combinação entre a psicologia das cores e a linguagem delas permite criar arranjos que não apenas embelezam os espaços, mas também tocam o coração e a mente. Seja para expressar amor, criar um ambiente acolhedor ou simplesmente alegrar o dia de alguém, elas são um recurso poderoso que nos conecta com as emoções e com aqueles ao nosso redor. Apostar na escolha certa dos tons e espécies pode transformar o cotidiano, tornando-o mais leve, harmonioso e significativo", finaliza.

 

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Cinema B+: Maria Bonita: A Rainha do Cangaço e o Papel Feminino na Resistência Sertaneja

Série estreia no Star+ e traz Ísis Valderde no papel da lendária cangaceira

12/04/2025 13h00

Cinema B+: Maria Bonita: A Rainha do Cangaço e o Papel Feminino na Resistência Sertaneja

Cinema B+: Maria Bonita: A Rainha do Cangaço e o Papel Feminino na Resistência Sertaneja Foto: Divulgação

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A série Maria e o Cangaço, que chegou na Disney Plus (na Star Plus), me fez repensar numa mulher que é uma lenda na cultura brasileira: Maria Bonita.

De ‘bonita’, hoje, talvez não seja unanimidade, mas uma mulher tão forte como ela ser lendária em meio do sertão nordestino é muita coisa. Podemos dizer que Maria Bonita é um dos nomes mais emblemáticos da história brasileira.

Conhecida como a “Rainha do Cangaço”, ela rompeu com os padrões sociais da década de 1930 para se tornar uma das figuras centrais do bando de Lampião, ou Virgulino Ferreira da Silva, o mais famoso líder do movimento de banditismo e resistência que atuou no sertão nordestino entre o final do século 19 e meados do século 20.

Lampião e Maria Bonita comandaram um bando de cangaceiros que desafiou as forças policiais e os coronéis da região, utilizando táticas de guerrilha para saquear fazendas, enfrentar tropas do governo e se refugiar na caatinga. Dependendo da ótica, foram heróis populares que lutavam contra as injustiças sociais ou foram criminosos temidos.

A história de Maria, independentemente da de Lampião é fascinante e sua presença no cangaço transformou a dinâmica dos grupos armados que desafiavam o poder estabelecido, trazendo um novo papel para as mulheres na luta contra as adversidades do sertão.

Estrelada por Ísis Valverde, a série foi dirigida por Sérgio Machado (geral), Thalita Rubio e Adrian Teijido (que também é o diretor de fotografia de Ainda Estou Aqui), e usou como base o livro Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço, de Adriana Negreiros, que reconta sua história focando em sua jornada como mulher e mãe.

Origens e Contexto Social

Maria Gomes de Oliveira nasceu em 8 de março de 1911, no povoado de Malhada da Caiçara, no município de Glória, Bahia. Filha de pequenos agricultores, cresceu em um ambiente marcado pela pobreza, seca e violência no sertão nordestino.

Assim como muitas mulheres de sua época, teve um casamento arranjado ainda na adolescência com José Miguel da Silva, um sapateiro. No entanto, o casamento infeliz e a vontade de viver uma vida diferente a levaram a buscar um destino fora das convenções.

O Encontro com Lampião e a Entrada no Cangaço

Em 1929 ou 1930, Maria Bonita conheceu Virgulino Ferreira da Silva, o famigerado Lampião, líder do mais temido grupo de cangaceiros da época.

Encantada por sua figura carismática e por seu estilo de vida aventureiro, Maria decidiu abandonar seu casamento e se juntar ao bando. Essa decisão foi revolucionária, pois até então o cangaço era predominantemente masculino.

A entrada de Maria Bonita no cangaço não foi apenas um fato simbólico; ela abriu espaço para que outras mulheres também fizessem parte dos bandos.

Com isso, o cotidiano dos cangaceiros sofreu transformações: houve uma tentativa de maior organização, regras mais estritas foram estabelecidas para impedir abusos contra as mulheres e a presença feminina trouxe uma nova dinâmica de convívio dentro dos bandos.

A Vida no Cangaço

A vida de Maria Bonita ao lado de Lampião foi intensa e repleta de desafios. Ela enfrentou a fome, a sede, as perseguições das volantes (forças policiais que combatiam os cangaceiros) e os constantes confrontos armados. Ao mesmo tempo, relatos indicam que Maria era uma mulher de personalidade forte, conhecida por sua alegria e determinação. Gostava de cantar e dançar, e fazia questão de se vestir bem, utilizando tecidos sofisticados e joias adquiridas pelo bando.

Maria também teve um papel fundamental nos cuidados com os feridos, auxiliando Lampião e os outros cangaceiros no tratamento de ferimentos e doenças.

Ela e Lampião tiveram uma filha, Expedita Ferreira Nunes, nascida em meio às adversidades do sertão. Contudo, para protegê-la, o casal decidiu entregar a criança a amigos de confiança, garantindo que ela crescesse longe dos perigos do cangaço.

Cinema B+: Maria Bonita: A Rainha do Cangaço e o Papel Feminino na Resistência SertanejaCinema B+: Maria Bonita: A Rainha do Cangaço e o Papel Feminino na Resistência Sertaneja - Divulgação

A Morte na Grota do Angico

O destino de Maria Bonita foi selado na madrugada de 28 de julho de 1938, quando o bando de Lampião foi surpreendido por uma emboscada na Grota do Angico, em Sergipe. As volantes, que vinham caçando o grupo há anos, conseguiram uma informação crucial sobre sua localização e atacaram com grande força.

Durante o ataque, Lampião e Maria Bonita foram alvejados. Testemunhas relatam que Maria teria sido capturada ainda viva, mas brutalmente executada. Suas cabeças, assim como as de outros cangaceiros mortos na emboscada, foram decepadas e levadas para exposição pública, servindo como um aviso contra aqueles que ousassem seguir o caminho do cangaço.

As cabeças ficaram expostas por décadas no Museu Nina Rodrigues, em Salvador, até que, em 1969, foram finalmente sepultadas. A violência com que os corpos dos cangaceiros foram tratados evidencia a forma brutal com que o Estado lidou com essa forma de resistência sertaneja.

Legado e Impacto Cultural

Apesar de sua trágica morte, Maria Bonita tornou-se um ícone da cultura popular brasileira. Sua história é contada em livros, filmes, novelas e músicas, perpetuando seu nome como um símbolo de coragem e rebeldia.

Sua presença no cangaço abriu espaço para uma discussão mais ampla sobre o papel das mulheres em movimentos de resistência, desafiando as concepções tradicionais de feminilidade na sociedade sertaneja.

É interessante retomar a história de Maria depois de tantos anos longe das telas. Em 1982, a série da TV Globo, Lampião e Maria Bonita marcou história por ser a primeira minissérie produzida pela emissora e retratou os últimos meses de vida do casal de cangaceiros, com elogiadas atuações de Nelson Xavier como Lampião e Tânia Alves como Maria Bonita.

Se pensarmos em feminismo, a Rainha do Sertão é uma mulher do seu tempo, ou seja, não se encaixava no padrão de autonomia e liberdade que são esperadas hoje, mas, ainda assim, quebrou paradigmas e se tornou não apenas uma figura histórica, mas também um arquétipo da mulher que desafia estruturas de poder e busca seu próprio caminho em um mundo hostil.

Seu legado inspira estudos acadêmicos, debates sobre a cultura nordestina e a produção artística, reafirmando seu papel como uma das personagens mais fascinantes da história do Brasil. Era hora de voltar a vê-la.

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