O Conselho Monetário Nacional (CMN) aliviou a cobrança de tarifas dos cartões de crédito mas não mexeu no principal: o juro, estabelecido livremente pelas empresas. As taxas são as mais altas dos últimos dez anos. Em outubro, a média foi de 10,69% ao mês, menor só do que a de junho de 2000 (10,7%), segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Até o cheque especial, que sempre levou a culpa pelo descontrole das contas, foi mais camarada, cobrando 7,44%.
A professora aposentada Nelice Pereira Sales, de Campo Grande, recebeu, ontem, a fatura e levou um susto. "Pensei que fosse pagar R$ 700, veio R$ 1,5 mil", reclamou, ainda surpresa. É uma bola de neve. No mês passado, ela não pagou o total e agora vai ter de pagar R$ 70 de juros e encargos. Na carteira, só há um cartão, que é emprestado aos filhos, "mas com moderação". O outro está na gaveta, longe das maquininhas.
No mês que vem, Nelice, que tem deixado as contas desandarem, vai se assustar de novo com a fatura, mas não sozinha. Segundo pesquisa do comércio de Campo Grande, o número de famílias que não têm como pagar as dívidas cresceu de 7% para 12%, em novembro. São 30,6 mil. A maior parte (60,9%) está pendurada no cartão.
Para colocar um freio nisso, o CMN obrigou bancos a subir de 10% para 20%, até 2012, por etapas, o valor mínimo de pagamento da conta. "Isso é hiperpositivo, mas as pessoas não podem esquecer que quando pagam o mínimo ainda deixam 80% da conta, mais juros, para trás", alerta o economista da Federação do Comércio (Fecomércio-MS), Thales de Souza.
Todo mundo sabe que o ideal é não deixar nada para trás, mas nem sempre as contas fecham no final do mês. A bancária Kelen Alves Godoy, que admite um certo descontrole por roupas, cancelou o cartão e debita tudo no do marido. As contas são divididas, e a tentação ganhou um freio. "Com o cartão na mão, queria roupa toda hora", lembra.
A aposentada Irma Miranda não desistiu de tentar decifrar as letras miúdas das faturas e cancelou os seus. Hoje paga tudo à vista e não desgruda dos conselhos dos economistas para colocar as finanças em ordem. "Ultimamente ando prestando muita atenção neles", diz.