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Supremo inicia julgamento histórico, que antecipa movimentação eleitoral

Serão julgados sob a acusação de cinco crimes o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus, entre ex-autoridades civis e oficiais das Forças Armadas

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O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia nesta terça-feira, 2, o julgamento do "núcleo crucial" da tentativa de golpe de Estado após a eleição presidencial de 2022, segundo denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Serão julgados sob a acusação de cinco crimes o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus, entre ex-autoridades civis e oficiais de alta patente das Forças Armadas.

A proximidade da análise da ação penal pela Primeira Turma da Corte e a recente decretação da prisão domiciliar de Bolsonaro precipitaram a disputa pelo Planalto no ano que vem, projetando o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como potencial adversário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Fato este que expôs uma briga na direita bolsonarista com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Lula, por sua vez, apontou Tarcísio como seu oponente em 2026 durante reunião ministerial.

Entre os atores econômicos, teme-se que a condenação de Bolsonaro estimule o governo de Donald Trump a aplicar novas sanções contra o Brasil. O presidente americano usou a ação penal como argumento para impor um tarifaço de 50% aos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, além de medidas de retaliação a Alexandre de Moraes e outros ministros da Corte

O presidente da Primeira Turma, Cristiano Zanin, marcou cinco datas para o julgamento, distribuídas em duas semanas. A análise pode ser suspensa por pedido de vista, o que adiaria o desfecho para dezembro. Também podem ser convocadas novas sessões, se não houver tempo hábil para a conclusão. As sessões vão ocorrer nesta e na próxima semana.

Além de Bolsonaro, também são réus os generais Walter Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira, o almirante Almir Garnier, o ex-ministro Anderson Torres, o deputado federal Alexandre Ramagem e o tenente-coronel Mauro Cid.

À exceção de Ramagem, todos respondem por organização criminosa, tentativa de abolição violenta do estado de direito, golpe de Estado, dano qualificado com uso de violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado. As penas, somadas, podem ultrapassar 40 anos de prisão.

'Simbólico'

O julgamento foi destaque no jornal The Washington Post, um dos principais dos Estados Unidos. Segundo o jornal americano, a análise das acusações contra o ex-presidente, auxiliares próximos e militares de alta patente marca uma inflexão na história política do Brasil. É a primeira vez que uma tentativa de rompimento da ordem institucional vai a julgamento.

"Durante décadas, estudei mais de uma dúzia de golpes e tentativas de golpe, e todos eles resultaram em impunidade ou anistia", disse ao Washington Post o historiador Carlos Fico, um dos principais pesquisadores sobre a questão militar do País. "Desta vez será diferente."

Na mesma linha, a historiadora Lilia Schwarcz afirmou ao jornal americano que o julgamento de Bolsonaro e aliados é "simbólico" por romper um "pacto de silêncio" em relação aos militares. Mesmo após a redemocratização, os crimes que envolvem o período da ditadura nunca foram julgados, em razão da Lei de Anistia, aprovada em 1979.

Bolsonaro foi apontado pela PGR como o líder de uma organização criminosa "baseada em projeto autoritário de poder" e "com forte influência de setores militares". De acordo com a acusação formal, o objetivo do ex-presidente era "não deixar o poder, ou a ele retornar, pela força, ameaçada ou exercida, contrariando o resultado apurado da vontade popular nas urnas".

A defesa de Bolsonaro argumentou que não há provas diretas que o liguem ao plano Punhal Verde e Amarelo - que, conforme a denúncia, previa o assassinato de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e de Moraes, relator da ação penal. Os advogados do ex-presidente também não veem elo de Bolsonaro com o 8 de Janeiro. Afirmam que a transição entre os governos foi harmoniosa e que o então presidente agiu para impedir o caos social ao apelar aos caminhoneiros para que desbloqueassem as rodovias após a eleição de Lula. A defesa contesta ainda a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

O julgamento terá início em meio a críticas sobre a atuação da Corte e à condução do processo por Moraes. As controvérsias envolvem a extensão dos poderes do Supremo e o protagonismo assumido por Moraes em casos que se referem a ataques à democracia. O ministro virou alvo do governo dos Estados Unidos e foi atingido pela Lei Magnitsky - dispositivo da legislação americana que permite que os EUA imponham sanções econômicas a acusados de corrupção ou graves violações de direitos humanos. Ele, porém, tem sido respaldado em suas decisões pela maioria dos integrantes da Primeira Turma.

2026

O julgamento iminente e as medidas restritivas contra Bolsonaro - determinadas por Moraes - expuseram uma disputa pelo espólio do ex-presidente. Tarcísio avançou casas para se apresentar como a alternativa na direita. O movimento incomodou Eduardo Bolsonaro, que está nos EUA para influenciar autoridades daquele país a aplicar sanções contra o Brasil com o objetivo de beneficiar o pai.

Em entrevista ao Diário do Grande ABC, publicada na última sexta-feira, 29, o governador de São Paulo disse que sua primeira medida, caso se torne presidente da República, será conceder um indulto a Bolsonaro se ele for condenado. "Na hora. Primeiro ato. Porque eu acho que tudo isso que está acontecendo é absolutamente desarrazoado", afirmou ele.

O governador mudou o plano inicial e decidiu ir a Brasília hoje, onde deve ter reuniões no Congresso. Pela manhã desta segunda, 1º, ele se encontrou com o presidente do Republicanos, Marcos Pereira. O Estadão apurou que eles conversaram durante a reunião com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) "Café da manhã com o nosso governador Tarcísio de Freitas. No cardápio do dia: anistia", escreveu Marcos Pereira nas redes sociais.

Aliados do ex-presidente tentam há meses convencer Motta a pautar a votação de um projeto de anistia, mas até o momento não obtiveram sucesso. No médio prazo, outra possibilidade é que o próximo presidente eleito conceda indulto a Bolsonaro em 2027. Para isso, um aliado de Bolsonaro teria de vencer a próxima eleição presidencial e arcar com o custo político da decisão. Além de Tarcísio, o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União-Brasil), já disseram que indultariam o aliado.

'Perfil'

Ontem, porém, Eduardo voltou à carga e afirmou que Tarcísio não é o candidato esperado pelos bolsonaristas. Para o filho do ex-presidente, "o perfil" do governador, "realmente, não é de combate" a esse "establishment".

"(Ele) tem pessoas, no seu primeiro escalão e secretarias, que são ligadas ao PSOL e ao PT", afirmou em entrevista ao canal Claudio Dantas, no YouTube. "É um bom gestor? É um bom gestor. Mas faz política de uma maneira diferente e eu acho que a nossa base espera outra coisa quando vota em nós."

Apesar dos gestos dos pretendentes, Bolsonaro ainda não indicou o seu herdeiro nas urnas porque não quer perder força política justamente no momento em que enfrenta o julgamento no STF. Por outro lado, partidos do Centrão querem que a indicação seja feita ainda neste ano para ter mais tempo de construir uma candidatura de oposição e também decidir sobre o desembarque do governo Lula.

Nos dois casos, tanto indulto quanto anistia, a decisão poderia ser contestada no STF, que teria de julgar se a ação do Congresso ou do presidente seria ou não inconstitucional.

 

PRESIDÊNCIA

Flávio convida União e PP a apoiá-lo; partidos ficaram de maturar ideia

Conforme o senador Rogério Marinho, "a candidatura do senador Flávio é uma candidatura para valer" e não se trata de um "balão de ensaio"

09/12/2025 06h49

Rogério Marinho (PL) é líder da oposição no Senado e acredita que Ciro Nogueira e Antônio Rueda vão apoiar o filho do ex-presidente

Rogério Marinho (PL) é líder da oposição no Senado e acredita que Ciro Nogueira e Antônio Rueda vão apoiar o filho do ex-presidente

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O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), afirmou na noite desta segunda-feira, 8, que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) pediu aos presidentes do PP, Ciro Nogueira, e do União Brasil, Antônio Rueda, para que apoiem sua candidatura à Presidência. Segundo Marinho, Ciro e Rueda ficaram de consultar suas bancadas.

"É evidente que há uma responsabilidade da presidência do PP como do presidente da União Brasil para que possam conversar com as suas respectivas bancadas, com governadores, com atores políticos que estão espalhados por todo o país para que, ao fim, possam nos trazer uma posição dos seus respectivos partidos", declarou Marinho a jornalistas, após uma reunião na casa de Flávio com Rueda, Ciro e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto

Segundo Marinho, a definição precisará passar por uma maturação: "Isso não vai acontecer nem hoje nem amanhã. A conversa que tivemos é que isso vai ser maturado, vai ser absorvido por todos, vamos ter um tempo para que haja essa definição".

O líder da oposição afirmou que "a candidatura do senador Flávio é uma candidatura para valer" e não se trata de um "balão de ensaio". "O PL tem uma candidatura, está claro [...] Na última sexta-feira, o Bolsonaro colocou para o Flávio que a candidatura era dele, até para unificar a direita, para que nós possamos preservar o seu legado", disse.

De acordo com o parlamentar, o PL reunirá nesta terça-feira integrantes dos diretórios estaduais para levar o nome de Flávio, a fim de trazer uma unidade na sigla.

COMANDO VERMELHO

'Não estou aqui para entregar colega, nem para proteger', diz Bacellar sobre TH Joias

Assembleia Legislativa do RJ decide hoje se mantém ou não a prisão do presidente da Casa, preso pela Polícia Federal na semana passada

08/12/2025 07h26

Rodrigo Bacellar foi acusação de ter vazado informações sobre operação que prenderia o deputado TH Joias, ligado CV

Rodrigo Bacellar foi acusação de ter vazado informações sobre operação que prenderia o deputado TH Joias, ligado CV

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Em depoimento à Polícia Federal (PF), o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar, negou ser amigo do ex-deputado estadual TH Joias, preso em setembro por tráfico de drogas, corrupção, lavagem de dinheiro e envolvimento com o Comando Vermelho.

Bacellar foi detido na última quarta-feira, 3, suspeito de avisar o então parlamentar sobre a operação para prendê-lo.

"Nunca tinha visto [TH Joias] na vida [antes de ele entrar na Alerj]. Construí uma relação natural, sou presidente do Parlamento, tenho que atender todos indistintamente. [Mas a relação era] só profissional e só naquele âmbito da Assembleia", disse Bacellar em depoimento à PF, revelado pelo Fantástico, da TV Globo, neste domingo, 7.

Bacellar admitiu ter falado com TH Joias na véspera da operação para prender o então deputado.

"[Ele] pede para falar comigo sozinho, no canto: 'Tá sabendo de alguma operação amanhã para mim?'. Eu disse: 'Não estou sabendo nada. Está uma fofocaiada na Casa já faz três dias de que vai ter algum problema nessa semana para deputado, onde a fumaça for'. Aí, ele fala: 'Não, beleza, eu não sei o que eu faço, se vou embora'. 'Aí é com você. Eu, se estivesse no seu lugar, só me preocuparia com a tua filha pequena. Agora você tem que saber o que você faz ou deixa de fazer'", contou o presidente da Alerj à PF.

Na véspera da prisão de TH Joias, os dois também trocaram mensagens. TH enviou a Bacellar um vídeo mostrando um freezer com carnes e disse: "Ô presida! Não tem como levar, não, irmão. Pô, como é que leva?! Tem como levar não, irmão. Esses filhos da p* vão roubar as carnes, hein". O presidente da Alerj respondeu: "Deixa, doido". Bacellar também recebeu do próprio TH imagens da Polícia Federal dentro de sua casa.

Questionado pela Polícia Federal se não pensou em avisar as autoridades sobre a chance de fuga de TH Joias, Bacellar respondeu: "Não procurei absolutamente ninguém. Não estou aqui para entregar colega, não estou aqui também para proteger colega que faz algo errado". "Confesso que até me assustei. Achei um ato de impertinência dele, me ligar de um telefone que eu não tinha." O presidente da Alerj alegou que não sabia para quem era a operação.

Bacellar ainda negou ter conhecimento das suspeitas contra TH Joias antes de sua prisão. "Já tinha ouvido algumas coisas no jornal, mas não conhecia. Pessoal fala que é ligado ao comando, sei lá o que. Olha, eu não quero saber o que você fez, o que você deixa de fazer. Da porta para dentro, se você tiver bom convívio com todo mundo, o que você faz na rua não me diz respeito."

Caso 'TH Joias'

Suspeito de negociar armas e acessórios para o Comando Vermelho, Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, foi preso em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, em setembro.

Segundo a investigação, TH utilizava o cargo de deputado estadual para favorecer o crime organizado. Ele é acusado de intermediar a compra e a venda de drogas, fuzis e equipamentos antidrones destinados ao Complexo do Alemão, além de indicar a esposa de Gabriel Dias de Oliveira, o Índio do Lixão - apontado como traficante e também preso - para um cargo parlamentar.

Durante as diligências da Operação Zargun, em setembro, a PF cumpriu 18 mandados de prisão preventiva e 22 de busca e apreensão, além do sequestro de bens no total de R$ 40 milhões, expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região. A investigação foi da Delegacia de Repressão a Entorpecentes, da PF, e do Ministério Público Federal.
 

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