A promessa de um parque revitalizado em 24 meses ficou só no papel. De longe, já é possível notar que o Parque Ecológico do Sóter está em processo de deterioração. Localizado no Bairro Mata do Jacinto, na região norte de Campo Grande, o espaço com 22 hectares de muito verde apresenta hoje riscos e insegurança para quem frequenta o local.
Os sinais de descaso pelo poder público estão escancarados em pelo menos duas das três entradas do parque. Na Rua Hermínia Grize, os portões encontram-se parcialmente retorcidos e caídos. A guarita, também abandonada, possui indícios de que pessoas em situação de rua se abrigam no local.
Na entrada do parque na Rua Rio Negro, o forte cheiro de urina é o único sinal de que ali deveria funcionar um banheiro, em que as pias e vasos sanitários estão inutilizáveis há muito tempo, com os restos da estrutura competindo por espaço com a pichação e sujeira.
Apesar da placa de “obras no local”, moradores relataram que há pelo menos um ano não veem ninguém trabalhando no local.
Funcionária de um açougue na região, Lúcia Pereira da Silva, 22 anos, afirmou que, além do abandono das obras, o Parque do Sóter apresenta muita insegurança para os frequentadores.
“Não há mais iluminação, as pistas de caminhadas estão todas danificadas. Há muitos moradores de rua que atacam as pessoas. É muito preocupante e não temos paz ali. Não posso caminhar sozinha porque não me sinto segura de andar no parque, infelizmente, o medo prevalece”, relatou.
Com a estrutura enferrujada e retorcida, os brinquedos no parque de areia estão praticamente inutilizáveis. “Não conseguimos trazer às crianças aqui, está tudo muito abandonado e perigoso”, completou Silva.
Acadêmica de medicina, Elaine Alves, 20 anos, costuma caminhar no local apenas por volta das 16h, quando ainda há luz solar. “Do lado de fora do parque, eu me sinto segura por conta do horário que eu venho, antes do entardecer, quando tem muitas pessoas fazendo atividade física. Mas, às vezes, eu olho aqui para dentro e com o mato alto fico com a sensação de medo”, disse.
PROJETO
Inaugurado há 17 anos, o Parque do Sóter teve a revitalização anunciada pela atual gestão da Prefeitura da Capital em agosto de 2019. A vencedora da licitação foi a empresa LT Construções e Comércio Ltda., pelo valor de R$ 600.682,13. Na época, o prazo para conclusão das melhorias era de 24 meses, período que venceu em novembro de 2021.
O projeto previa a reforma de toda a estrutura do parque, abrangendo quadras poliesportivas, instalações elétricas, banheiros com adaptação para acessibilidade, gradil metálico, manutenção completa com recomposição dos postes em eucalipto, do pergolado, substituição dos brinquedos do parquinho e restauração dos pórticos e guaritas.
No entanto, com 68% dos recursos já empregados, por volta de R$ 526,9 mil dos R$ 774,2 mil destinados aos trabalhos (valor atualizado), a realidade do local difere muito do que foi proposto pela prefeitura.
Nem mesmo as grades revitalizadas por detentos em regime semiaberto em 2020 escaparam do cenário de descaso e abandono. Um morador da região que preferiu não se identificar relatou ainda que a escuridão faz parte da rotina de quem passa pelo Parque do Sóter.
“O roubo de fios é extremamente recorrente, e quem fica no prejuízo são os moradores que precisam passar por aqui de noite, confiando só em Deus. A escuridão é preocupante também pelas questões de assalto e estupro”, afirmou.
PREVISÃO
Ao Correio do Estado, o secretário de Infraestrutura e Serviços Públicos, Rudi Fiorese, afirmou que as obras foram paralisadas no Parque Sóter por conta de problemas com a empresa LT Construções e Comércio Ltda.
“Estamos tentando retomar os trabalhos. Até outubro, tinha alguns movimentos ainda”, disse.
Questionado sobre a possibilidade de uma relicitação para finalização e entrega das obras no local, Fiorese reiterou que o contrato existente será aproveitado. Conforme o secretário, a expectativa é de que a obra esteja totalmente concluída em fevereiro.
Apesar de a estrutura estar comprometida em diferentes setores do parque, a administração municipal afirmou que a conclusão da obra depende apenas “de um cálculo estrutural para fixação de um dos pórticos de acesso ao parque para que o portão resista às intempéries climáticas”, afirmou a nota.




