Para diminuir o impacto da geração dos resíduos sólidos em Campo Grande, a adesão da população da Capital às práticas da coleta seletiva deve passar pela sensibilização e mudanças de comportamento por meio da promoção de iniciativas de educação ambiental.
O superintendente executivo da CG Solurb, Élcio Terra, que trabalha na área de gestão de resíduos sólidos há décadas, entende que em Campo Grande existe uma necessidade de implementar a educação ambiental e a conscientização da população sobre a maneira correta de separar o lixo na coleta seletiva, e que esse processo pode ser aplicado na escola, para as crianças.
“O que a gente percebeu ao longo desses anos é que a educação é uma estratégia de formação. Então, a gente executa a questão da educação ambiental muito nas escolas e muito naquela primeira infância, porque ali começa a formação do cidadão. A medida que se começa a ensinar sobre a educação ambiental para as crianças, elas já entendem como segregar resíduos, separando aquilo que é orgânico do que é reciclável. Isso forma uma personalidade que contribui nessa conscientização que se multiplica em casa”, explicou Terra.
A Solurb desenvolve programas de educação ambiental em escolas municipais na Capital, como o Reciclando Nossas Atitudes, que atua há mais de 11 anos, com a participação de 16.733 alunos envolvidos nas ações educativas neste ano.
De acordo com a Solurb, a empresa também distribui cartilhas educativas e disponibiliza a realização de palestras e treinamentos para o manejo correto dos resíduos sólidos.
Segundo informações do especialista, a geração de lixo domiciliar e comercial em Campo Grande gira em torno de um quilo por habitante por dia, o que é bastante considerável, tendo em vista que uma residência pode ter de três a cinco pessoas.
Para o superintendente executivo da Solurb, as estratégias de conscientização para os adultos deve visar essa sensibilização, mostrando quais são as causas, os efeitos e as consequências do descarte incorreto, informando, assim, sobre a separação e a segregação dos resíduos sólidos.
“É uma ação que você tem que massificar ela. Ou seja, você tem que retoricamente e periodicamente estar insistindo nesse tema, estar relembrando esse tema, até porque educar, às vezes, fica muito mais fácil do que conscientizar. Porque a conscientização é uma mudança de comportamento. Já a educação, não. Ela faz parte da personalidade daquele cidadão”, disse Terra.
Por meio da educadora ambiental da Solurb Mara Calvis, com o Solurbinho, que é a mascote da empresa, a empresa também promove uma estratégia de conscientização sobre a separação de resíduos para a coleta seletiva dentro de condomínios, local onde a circulação de lixo é intensa.
Uma das propostas informadas pelo especialista é promover políticas públicas de premiar boas ações voltadas para a questão ambiental de manejo e separação dos resíduos sólidos.
“O engajamento da população é fundamental. Se não houver o engajamento da população, a gente não vai conseguir chegar a lugar algum. Talvez se a gente pudesse premiar quem faz a coisa certa, criar critérios e premiações para isso, é uma forma de engajamento, de conseguir incentivar as pessoas que fazem as coisas certas, criando instrumentos para isso”, propôs.
LOGÍSTICA REVERSA
A ponta da coletiva seletiva em Campo Grande passa pelo trabalho dos catadores na usina de triagem de resíduos, que fica ao lado do aterro sanitário da Capital.
Essa usina é o pilar da logística reversa, que consiste em um ciclo de reutilização de embalagens que são produzidas pelas indústrias, saem para serem distribuídas no varejo e chegam no consumidor do produto. As embalagens descartadas pelo consumidor são coletadas e selecionadas pelas cooperativas de coletores, que vendem o material para empresas de reciclagem transformarem esse resíduo em matéria-prima para as indústrias reutilizarem na confecção de novas embalagens.
“Não podemos esquecer da questão da logística reversa, que a gente precisa de poder também do governo, de todo esse entrosamento entre as instituições governamentais, porque tudo aquilo que a gente não conseguir, o local adequado para destinar, a gente precisa apelar para a logística reversa, ou seja, quem fabrica, quem distribui, quem vende, na logística reversa. Então, a gente precisa exercitar isso, porque é uma poderosa ferramenta para ser usada”, informou Terra.
Com apenas cinco anos em vigor, decretos estaduais que adotam as diretrizes para a renovação sustentável dos produtos oriundos das indústrias de embalagens em Mato Grosso do Sul causou um crescimento de 66% do setor.
Os decretos n°15.340, de dezembro de 2019, e n° 16.089, de janeiro de 2023, foram publicados após 136 ações na Justiça por parte do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS), que cobrou as empresas e as indústrias que não estavam cumprindo as diretrizes da logística reversa, prevista nacionalmente.
Após isso, as empresas que têm produtos com embalagens no Estado reciclaram mais de 80 mil toneladas de lixo entre 2019 e 2021, segundo o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul).