Quem não se lembra da música que preanunciava a passagem do caminhão da coleta seletiva pelas ruas dos bairros? Por trás daqueles catadores, anunciava-se um compromisso com o meio ambiente e podíamos nos orgulhar de ter abraçado a causa da coleta seletiva com a implementação do serviço por parte da concessionária.
Contudo, hoje, a realidade da gestão de resíduos na capital sul-mato-grossense é marcada por um retrocesso na prestação de serviço pela concessionária responsável – a Solurb – ou, quem sabe, por uma falta de fiscalização e cobrança por parte do poder concedente, a Prefeitura Municipal de Campo Grande.
O resíduo, que é um subproduto inevitável da vida urbana moderna, clama por um manejo que vá além do simples e dispendioso descarte no aterro sanitário.
A coleta seletiva é a base para a reciclagem, um pilar fundamental da Política Nacional de Resíduos Sólidos e uma ferramenta vital para a preservação do meio ambiente, a economia, a inclusão social e a dignidade dos catadores e das cooperativas.
Lamentavelmente, relatos de moradores apontam que o programa porta a porta, que em seu auge cobriu áreas significativas da cidade, gera atualmente o sentimento de que simplesmente não existe mais na maioria dos bairros.
Enquanto a concessionária Solurb divulga que o serviço está ativo e cobre diversas regiões, a percepção é outra, a de que não existe, e o sentimento que resta para a população é a frustração. O esforço do cidadão em separar papel, plástico, vidro e metal em casa, no trabalho ou na empresa se esvai quando o caminhão da coleta não é mais visto pelas ruas, ficando a sensação de que os recicláveis vão juntos e misturados para o aterro sanitário.
Se Campo Grande já soube trilhar este caminho com responsabilidade, por que permitir que a falta de investimentos ou de cobrança cause um recuo tão drástico agora?
O “sumiço” do serviço não só penaliza o meio ambiente, também prejudica com a fadiga precoce do aterro e a poluição, como sabota as cooperativas de reciclagem e, principalmente, desmotiva o cidadão.
Este último, ao ver seu trabalho de separação sendo desperdiçado, perde a confiança e a vontade, tornando a reeducação um desafio ainda maior.
É imperativo que a prefeitura assuma seu papel de fiscalização e exija da concessionária o investimento, a logística, a frota e a educação ambiental necessários para a coleta seletiva voltar a ser eficiente em toda a cidade, ampliando imediatamente a área de cobertura. Não podemos permitir que o que era um avanço e um diferencial da Capital vire uma mera memória.
Campo Grande merece uma gestão de resíduos à altura de seu porte, respeitando sua história e, principalmente, garantindo um futuro mais limpo e sustentável para as próximas gerações. O retorno da coleta seletiva eficaz é uma questão de dignidade urbana e compromisso com o bem-estar coletivo, reforçando o ciclo virtuoso da economia verde.
Não há mais tempo para discussões: é hora de solução e de pensar no hoje, até porque o futuro a Deus pertence e podemos não ter mais tempo para essa discussão, que pode ser de alto nível com ambientalistas, poder concedente e concessionária.


