Interesses escusos (que agora começam a ser revelados) deram chancela a esse perigoso domínio.
O mercado da pecuária de Mato Grosso do Sul – que tem muita influência em nossa economia – está sob forte ameaça diante da instabilidade gerada pelos esquemas de corrupção delatados por executivos da JBS. A escala de abates já foi reduzida e o comprometimento pode ser ainda mais significativo, dependendo do impacto à gigante do setor.
Contando com cumplicidade de vários governos e com aportes financeiros significativos via Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o grupo expandiu a atuação no ramo frigorífico em todo o País. No Estado, as plantas são responsáveis por quase 70% dos abates realizados. Os riscos do monopólio e da prática de dumping já foram motivo de alertas feitos por pecuaristas e concorrentes. Mas interesses escusos (que agora começam a ser revelados) deram chancela a esse perigoso domínio.
Enfim, depois que os estragos começaram a aparecer, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, anunciou que o governo federal está estudando meios para estimular que grupos pequenos e médios ocupem espaço no mercado de carnes para reduzir essa concentração no setor. A ideia é mapear as indústrias fechadas para debater estímulos para possível reativação. Maggi, que também é produtor rural, inclusive, sempre criticou o governo e o BNDES por “terem proporcionado essa concentração”.
A pecuária enfrentava os efeitos da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que levantou suspeitas sobre a qualidade da carne brasileira em razão de problemas específicos encontrados em determinadas unidades, as quais respondem na Justiça pelas irregularidades cometidas. Agora, o novo baque pode ter efeitos ainda mais devastadores. Pecuaristas estão receosos, com razão, porque a JBS está pagando parcelado pela compra de gado, e aguardam os desdobramentos de todo esse cenário nebuloso. Essa crise também afeta investimentos.
O grupo J&F – holding que controla empresas como JBS e Eldorado Celulose – previa investimentos de R$ 11,5 bilhões em obras de ampliação de unidades como plantas frigoríficas de aves e suínos, na região de Dourados, e na construção da segunda linha de produção da Eldorado Brasil, em Três Lagoas. Para viabilizar as obras do sul do Estado, o governo assegurou incentivo significativo, com renúncia fiscal que chegará a R$ 1 bilhão. Os reflexos do descontrole econômico com as crises política e econômica também abalaram a confiança de outros investidores, que já diminuíram o ritmo de trabalho até a estabilização do mercado.
O governo do Estado, que acumula deficit de R$ 370 milhões, conforme balanço dos quatro primeiros meses do ano, deve enfrentar ainda mais dificuldades de arrecadação. Hoje, a maioria dos investimentos no Estado, de estradas e pontes, depende dos produtores rurais por meio do Fundersul. Há, ainda, o impacto no ICMS. A permissividade e cumplicidade contribuíram para esse novo prejuízo, em que a conta volta a custar cara para a população.