A saúde pública em Campo Grande voltou, mais uma vez, ao centro do debate, e não por boas razões. Trata-se de um tema sensível, permanente e que deveria ser tratado com o máximo de responsabilidade.
No entanto, os sinais que vêm sendo dados à população são de improviso, desorganização e falta de comando. Em um setor que lida diariamente com vidas, qualquer indício de descuido se transforma em motivo legítimo de preocupação.
Ano após ano, o roteiro se repete. Filas extensas nas Unidades Básicas de Saúde, dificuldade para marcação de consultas e exames, escassez de leitos hospitalares e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) operando acima da capacidade.
O cenário não é episódico nem pontual. Ele se prolonga no tempo, atravessa gestões e, em vez de apresentar avanços consistentes, acumula novos problemas.
Os números tornam a situação ainda mais difícil de compreender. A Saúde municipal consome mais de R$ 2 bilhões por ano em Campo Grande, valor expressivo para qualquer capital brasileira.
Ainda assim, há relatos recorrentes de falta de recursos básicos, unidades funcionando de forma precária e profissionais da saúde – médicos, enfermeiros e técnicos – enfrentando atrasos salariais ou condições de trabalho inadequadas. Diante desse quadro, a pergunta é inevitável: onde está o gargalo?
A ausência de respostas claras ajuda a explicar por que a possibilidade de uma intervenção na saúde pública municipal, cogitada pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul, passou a ser vista como plausível.
Não se trata de uma medida trivial, mas de um instrumento extremo diante da incapacidade de resolver problemas estruturais que se acumulam. Quando falhas se tornam crônicas, a atuação de órgãos de controle deixa de ser exceção e passa a ser consequência.
A atual estrutura de comando da Saúde em Campo Grande contribui para essa percepção. A inexistência de um secretário titular e a condução do setor por meio de um comitê gestor diluem responsabilidades.
Em um sistema tão complexo, a falta de liderança definida dificulta decisões, compromete a execução de políticas públicas e enfraquece a cobrança por resultados. Onde não há comando claro, também não há responsabilização efetiva.
A saúde pública exige planejamento, gestão técnica, transparência e, sobretudo, prioridade política. Não se trata apenas de números ou de planilhas orçamentárias, mas de atendimento digno à população que depende exclusivamente do sistema público. Cada atraso, cada falha e cada indecisão têm impacto direto na vida das pessoas.
Diante desse contexto, cresce a expectativa por uma postura mais firme e responsável dos gestores. A Saúde não comporta improvisos nem disputas administrativas. Com a vida da população não se brinca – e tampouco com os recursos públicos destinados a protegê-la. A gravidade do cenário exige decisões à altura do problema.


