O dispautério e desrespeito à vida não podem persistir. Imagens mostram que, agora, a superlotação não passa de embuste...
O absurdo e a irresponsabilidade cometidos pela diretoria da Associação Beneficente de Campo Grande, mantenedora da Santa Casa, não podem passar incólumes.
O fechamento do pronto-socorro levou o caos a pacientes que dependem de atendimento na rede pública de Mato Grosso do Sul. Isso porque a medida extrema provocou reação em cadeia, superlotando outros hospitais ou até deixando sem alternativas aqueles que precisavam de vaga com urgência.
A insensatez fica ainda mais evidente ao sabermos que a propagada superlotação já não era tão dramática quanto o que foi relatado e, mesmo assim, os portões continuavam trancados com cadeado, impedindo a chegada de pacientes. Imagens mostram corredores vazios e várias macas desocupadas.
Ainda, em total contrassenso, o atendimento na parte particular e nos convênios continuava inalterado. Como se aquele outro lado da Santa Casa, onde funciona o Prontomed, fosse um mundo completamente diferente do outro onde os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) eram recusados.
Na prática, nesse mesmo espaço resumiram-se as injustiças sociais e valores que, infelizmente, perdem-se cada vez mais em nossa sociedade. A capacidade financeira dita as regras e, com base no dinheiro disponível, escolhe-se até aqueles que “merecem” viver. É uma crueldade imensurável!
Não é a primeira vez que a Associação Beneficente restringe atendimentos. Frequentemente cirurgias eram suspensas e salários eram pagos com atraso, forçando paralisações pontuais de servidores para pressionar a liberação de recursos pelo poder público.
Na base da chantagem ou da ameaça tentava-se aumentar os repasses mensais pagos pela Prefeitura de Campo Grande e governo do Estado. A prestação de contas mostrando os gastos mensais nunca foi satisfatória.
Altos salários e valores pagos pelas terceirizadas prestadoras de serviços permanecem na caixa-preta, invioláveis.
Em 2005, o poder público precisou intervir para evitar o fechamento do maior hospital do Estado. Representantes da prefeitura, Estado e governo federal formaram junta administrativa e assumiram o controle da Santa Casa, diante do risco de colapso e calamidade no sistema.
O hospital já acumulava dívida milionária com bancos e fornecedores. A Associação Beneficente alegava prejuízo mensal com os atendimentos do SUS. Mesmo assim, acionou a Justiça e, durante anos, arrastou-se a “briga” até que retornou à administração.
Hoje, a história parece se repetir e o prefeito Marcos Trad vai acionar o Ministério Público Federal, cobrando providências. Vereadores vão abrir Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar irregularidades. Estranha e, obviamente, não convence a Associação insistir tanto para comandar o hospital se só houvesse prejuízo.
O dispautério e o desrespeito à vida não podem persistir. Imagens mostram que, agora, a superlotação não passa de embuste e nada justifica continuar recusando pacientes.
O impasse já virou caso de polícia, inclusive com funcionários levados à delegacia por impedirem bombeiros de entrar com pacientes. Atitudes criminosas precisam de punição e a população não pode continuar enfrentando essa rotina de incertezas na saúde.