O anúncio de que mais de 30 radares devem ser religados nas rodovias federais de Mato Grosso do Sul reacende uma discussão antiga e sempre polêmica. Os equipamentos, desligados nos últimos meses por conta de contenção de despesas do governo federal, voltarão a funcionar em diferentes trechos do Estado.]
A medida divide opiniões: há quem veja nesses instrumentos um recurso eficaz para salvar vidas e há quem os encare apenas como mecanismo de arrecadação.
É importante reconhecer que, em se tratando de trânsito, não existe solução simples. As estradas brasileiras ainda estão entre as mais letais do mundo, e parte dessa tragédia tem relação direta com o excesso de velocidade. Nesse cenário, os radares já se mostraram úteis.
Estudos comparativos entre períodos com e sem fiscalização eletrônica indicam queda significativa nos índices de acidentes quando os equipamentos estão ativos. Eles fazem o motorista respeitar o limite, reduzem manobras perigosas e, consequentemente, ajudam a preservar vidas.
Mas, como em tudo na vida, o equilíbrio precisa prevalecer. Radares não podem ser utilizados em excesso nem de forma distorcida. Quando bem localizados, cumprem sua função pedagógica e de controle. Quando mal posicionados, transformam-se em verdadeiras armadilhas.
E, infelizmente, não faltam exemplos no País de equipamentos escondidos em pontos de ultrapassagem, em trechos mal sinalizados ou em áreas sem qualquer justificativa plausível de risco. Nesses casos, a fiscalização perde credibilidade e reforça a sensação de que a prioridade não é a segurança, mas a arrecadação.
É por isso que o tema deve ser tratado com seriedade e transparência. A população precisa ter a certeza de que cada radar está ali por uma razão clara: evitar acidentes, preservar vidas e organizar o fluxo de veículos. Qualquer outro uso deve ser combatido e denunciado.
Radares não são armadilhas, mas ferramentas de política pública. Se utilizados de forma maliciosa, agridem a cidadania e transformam um instrumento legítimo em símbolo de desconfiança.
Outro ponto essencial é a destinação dos recursos arrecadados. É urgente que os governos estaduais e federal e as administrações municipais ampliem os mecanismos de transparência sobre o uso do dinheiro das multas. O cidadão tem direito de saber quanto foi arrecadado e, principalmente, em que foi investido.
Vale lembrar também que a função educativa da multa não pode ser esquecida. A punição por si só não basta. É preciso que o motorista compreenda o porquê da penalidade, perceba o risco de sua conduta e mude de comportamento.
Esse processo exige campanhas de conscientização, presença efetiva das autoridades e uma política integrada que vá além da mera emissão de boletos.
A reativação dos radares, portanto, deve ser vista como oportunidade de debate. Sim, eles são necessários e salvam vidas. Mas também é fundamental que sejam utilizados com critério, acompanhados de transparência e respaldados por políticas públicas claras.
O trânsito brasileiro já cobra um preço altíssimo em vidas perdidas. Não podemos permitir que a desorganização, o improviso ou o interesse arrecadatório desvirtuem um instrumento que deveria estar a serviço da sociedade.
Radares, quando bem aplicados, representam segurança, quando usados de forma abusiva, viram injustiça. Cabe às autoridades garantir que prevaleça sempre o primeiro caminho.


