Foram destaque recente, na imprensa de todo o mundo, as imagens divulgadas pelo jornal sensacionalista inglês The Sun, do político britânico John Sewell – integrante da Câmara dos Lordes do Reino Unido –, em que ele aparece consumindo cocaína com prostitutas. Em consequência disso, ele renunciou ao cargo no mês passado, na terça-feira (28), mas não ao título de Lorde, logo após a Scotland Yard iniciar a investigação para apurar a veracidade do episódio.
Após a renúncia, Sewell, escocês de 69 anos, casado e pai de quatro filhos, enviou carta ao parlamento, na qual comunicou sua decisão de renunciar para “limitar o dano” à reputação da Câmara dos Lordes, e pediu desculpas pela “dor e a vergonha” que seu comportamento causou. E acrescentou: “Meu comportamento não é compatível com a Câmara dos Lordes e minha permanência prejudicaria a confiança do público. Sirvo melhor à Câmara se a abandonar”, afirmou o político escocês, que também foi expulso do Partido Trabalhista.
O episódio acima – embora pontual e talvez inédito na história recente da Grã-Bretanha – mostra, de certa forma, a fragilidade de instituições políticas que são mantidas pelo poder público ao redor do mundo. Mas ele se torna ainda mais emblemático após a publicação de editorial do jornal inglês Financial Times, em matéria assinada por Talita Abrantes na revista Exame.com de quarta-feira (22) de julho, intitulada “Recessão e Corrupção: A Crescente Podridão no Brasil”.
O texto se refere à crise econômica e de corrupção que o Brasil atravessa no momento como sendo “um filme de terror sem fim”. E conclui: “A incompetência, a arrogância e a corrupção esmagaram a magia brasileira”. É assim, sem meias palavras, que o jornal britânico Financial Times faz uma dura análise sobre a condição atual do Brasil.
Mas o jornal pondera: “Nem tudo são más notícias no país”, diz. O texto argumenta que o zelo pela Petrobras mostra o quanto as instituições democráticas são fortes no Brasil. E completa: “Em um país onde os poderosos pensam que estão acima da lei, Marcelo Odebrecht, chefe da maior empresa de construção do Brasil, está preso”, afirma o texto.
No entanto, quem é o Reino Unido para dar lições de moral ao Brasil no que se refere ao item “corrupção de governo”? Pergunta-se Mauro Santayana, em longo artigo publicado mês passado, na terça (28), no Jornal do Brasil, intitulado “Os Nossos ‘Yes, Bwana’ e os Novos ‘Hai Bwana’ do Financial Times”. E questiona: “De que estava falando – ou rindo, como uma hiena – o Financial Times?”.
E ele mesmo responde: “Se a Inglaterra é tão corrupta, que deputados falsificam notas para receber ressarcimento e aplicam a verba de gabinete até para a assinatura de canais pornográficos? “E se o ex-presidente do Comitê de Inteligência do Parlamento Malcolm Rifkind e o político trabalhista Jack Straw, ex-secretário de Justiça, ex-líder da Câmara dos Comuns, caíram em arapuca criada por jornal e canal de TV, no início deste ano, e foram filmados sendo contratados para vender serviços de “consultoria” para pressionar embaixadores britânicos e líderes de pequenos países europeus e favorecer negócios de empresa chinesa (fictícia), por quantias que variavam de 5.000 a 8.000 libras por dia?”
Diante disso, o que dizer da atitude do lorde britânico John Sewell, pego no flagra, cheirando ao que parece cocaína e rodeado de prostitutas em ambiente ultrassuspeito. Olha no que dá falar mal dos outros, Financial Times!