A COP30, realizada em Belém, oferece a Mato Grosso do Sul a oportunidade de mostrar ao mundo que é possível conciliar crescimento econômico e preservação ambiental.
O Estado apresenta avanços concretos: meta de carbono neutro até 2030, FCO Verde com mais de R$ 360 milhões para projetos sustentáveis, programa de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e expansão do polo de celulose baseada em florestas plantadas – iniciativas que demonstram compromisso com o futuro das próximas gerações.
Mas a COP30 também nos oferece a oportunidade de ir além. Ela não se esgota nas florestas, metas de carbono ou relatórios de impacto.
A sustentabilidade mais desafiadora – e talvez a mais urgente – é a que começa dentro das organizações, no modo como cuidamos das pessoas que constroem o presente e o futuro.
Não há sustentabilidade intergeracional sem o alicerce da sustentabilidade humana. Não há como proteger o amanhã se o hoje está adoecendo por dentro.
O futuro verde que desejamos depende, antes, de pessoas emocionalmente saudáveis, engajadas e orgulhosas de servir. Logo, o futuro verde pede mais que janeiros brancos e setembros amarelos, pede coragem institucional e uma política contínua de cuidado com as pessoas.
Líderes e organizações no mundo já compreendem que emoções e sentimentos não são um detalhe da gestão, mas um ativo crítico de sustentabilidade, um investimento em engajamento, desempenho e cultura de integridade.
O que se vê no setor privado é uma nova forma de liderar. Como diz Shalom Saul Saar, “gerentes trabalham com KPIs, líderes, com KHIs – key happiness indicators”. A felicidade, antes tratada como tema periférico, passou a integrar a gestão estratégica.
A Heineken Brasil criou uma Diretoria de Felicidade e passou a medir quinzenalmente o bem-estar dos colaboradores, reduzindo o turnover e fortalecendo o engajamento.
Casos de empresas como Ikea, Costco, Toyota e o SAS Institute mostram que medir e gerir o bem-estar é viável e estratégico porque pessoas cuidadas entregam mais.
No setor público, o desafio é ainda maior. Os transtornos mentais estão entre as principais causas de afastamento no serviço público, com impactos diretos na produtividade, no clima organizacional e na execução das políticas públicas.
Servidores emocionalmente saudáveis adoecem menos, produzem mais e se engajam melhor, inclusive em programas de integridade, que dependem de confiança e clima positivo.
Mato Grosso do Sul tem a chance de unir suas duas vocações: a sustentabilidade ambiental, que o projeta no cenário global, e a sustentabilidade humana, que pode torná-lo referência nacional e internacional em boa governança.
Criar uma Diretoria de Felicidade e Bem-Estar Institucional não seria apenas um gesto simbólico. Seria inaugurar uma nova política pública de sustentabilidade humana, colocando a felicidade no centro da gestão, com indicadores de bem-estar e engajamento ao lado dos econômicos e ambientais.
Em tempos de COP30, Mato Grosso do Sul pode inaugurar uma nova fronteira da sustentabilidade – a humana. Seria um passo pioneiro no Brasil: transformar o bem-estar das pessoas em política de Estado, com método e indicadores claros. Porque cuidar das pessoas é o que torna qualquer governo verdadeiramente sustentável.


