O aumento da inadimplência no agronegócio brasileiro, e em especial em Mato Grosso do Sul, merece toda a atenção. Como o leitor poderá verificar em reportagem publicada nesta edição, os números não são pontuais nem irrelevantes.
Eles acendem um sinal de alerta para um setor que, ao mesmo tempo em que se mostra cada vez mais relevante para a economia nacional, também revela vulnerabilidades que não podem ser ignoradas.
O agronegócio transformou o interior do Brasil, gerando riqueza, empregos e oportunidades que há poucas décadas seriam inimagináveis. Hoje, é impossível pensar na balança comercial brasileira sem a força do campo.
No entanto, o crescimento desse setor precisa vir acompanhado de algo que, muitas vezes, ainda é negligenciado: o planejamento financeiro de longo prazo. Não basta colher recordes de produtividade e exportação.
É preciso também criar reservas, construir caixa e ter resiliência para enfrentar os inevitáveis momentos de quebra de safra, oscilações cambiais e variações de preços no mercado internacional.
Empurrar os problemas de gestão para os bancos, sobretudo os públicos, não é a solução. Pelo contrário, esse caminho gera distorções e acaba desequilibrando o restante da economia.
Vale lembrar que muitos produtores já contam com linhas de crédito subsidiadas, algo que representa um privilégio em comparação com outros setores. Quando, mesmo assim, a inadimplência cresce, fica evidente que há falhas na forma como parte desse capital é administrado.
O agro, que se orgulha de sua força financeira, precisa provar também que é capaz de caminhar com maior independência em relação ao governo. Apoio público é legítimo e necessário, considerando a dimensão estratégica do setor. Mas depender em excesso de socorro estatal não combina com a imagem de potência global que o agronegócio brasileiro conquistou.
Mais autonomia financeira significa também mais liberdade política. Em um momento em que governo federal e bancada ruralista frequentemente divergem, um agro que sabe sustentar-se por conta própria ganha poder de decisão e evita ser refém de negociações de ocasião. Essa independência fortalece tanto o setor quanto a economia do País.
No fim das contas, os mesmos princípios de educação financeira que qualquer cidadão deve aplicar ao seu CPF também precisam ser praticados pelos CNPJs do campo.
Gastar menos do que se ganha, formar reservas e planejar o futuro não são apenas lições domésticas, mas fundamentos para garantir a sustentabilidade de toda a cadeia produtiva. O alerta está dado. Cabe ao agronegócio transformar essa vulnerabilidade em mais um passo rumo à maturidade que dele se espera.


