A Operação Carbono Oculto, deflagrada por uma força-tarefa composta por órgãos estaduais e federais, é um marco no combate ao crime organizado no Brasil. A investigação, que desvendou a máfia dos combustíveis e sua conexão com um esquema de lavagem de dinheiro que chega até mesmo ao Primeiro Comando da Capital (PCC), merece o devido reconhecimento.
Em tempos de descrédito nas instituições, é fundamental exaltar quando o Estado age com firmeza e eficiência contra estruturas criminosas que corroem a economia e colocam em risco a concorrência leal.
O trabalho das autoridades, no entanto, não pode parar na euforia de uma grande operação. É preciso manter o empenho contínuo para impedir que o crime organizado prospere.
O poder econômico dessas organizações cresce quando o Estado se omite e, a cada nova brecha explorada, o prejuízo recai sobre a sociedade. A lição deixada é clara: a vigilância deve ser constante e as instituições precisam atuar de forma coordenada, firme e sem vacilos.
Vivemos em um período peculiar, marcado pelas redes sociais, nas quais a ostentação de riqueza se transformou em símbolo de status e de sucesso. Nesse ambiente, questionar a origem da fortuna de alguns personagens públicos e privados não é apenas dever moral, mas obrigação institucional.
Cabe às autoridades indagar, rastrear e provar se a riqueza exibida tem origem lícita ou se resulta de esquemas escusos de sonegação, fraude ou ligação direta com o crime organizado.
A questão vai além da moralidade: é também econômica. Não se pode permitir concorrência desleal em setores estratégicos, como o de combustíveis. Um posto que cumpre a lei e recolhe corretamente os impostos jamais pode disputar em igualdade de condições com concorrentes que sonegam tributos e ainda lavam dinheiro de atividades ilícitas.
A ausência de fiscalização amplia o desequilíbrio, corrói o mercado e transforma a atividade empresarial honesta em um fardo quase insustentável.
Outro ponto crucial exposto pela Operação Carbono Oculto é a necessidade de controle rigoroso sobre os fluxos financeiros. Correntes libertárias costumam argumentar contra o aumento da regulação sobre o sistema bancário e sobre as fintechs.
Mas a realidade mostra o contrário: sem supervisão firme do Banco Central, empresas de fachada se transformam em canais de blindagem patrimonial e lavagem de bilhões de reais. O dinheiro, por si só, pode parecer igual, mas sua origem nunca é indiferente.
O desafio é criar mecanismos eficazes para diferenciar o lícito do ilícito, preservando a competitividade do sistema financeiro, sem abrir espaço para a criminalidade.
Por fim, combater o crime organizado exige ir além da base operacional. É preciso atingir o “andar de cima”, onde se encontram os verdadeiros beneficiários do esquema, aqueles que não têm aparência de criminosos, mas que comandam fraudes milionárias de escritórios luxuosos.
O maior desafio das autoridades não é prender o operador que abastece um posto de gasolina, mas desarticular o empresário engravatado que, protegido por sua fachada de respeitabilidade, enriquece às custas da desgraça coletiva.
A Operação Carbono Oculto foi um passo essencial, mas também um alerta. O crime organizado tem tentáculos que vão muito além das fronteiras da criminalidade tradicional. Combatê-lo é proteger a concorrência, o Estado e a própria democracia.


