O anúncio de que o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul deixará de receber demanda espontânea a partir de segunda-feira marca uma mudança significativa no funcionamento da rede pública de saúde de Campo Grande.
Será o último hospital público ou vinculado a uma fundação que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na Capital a adotar esse modelo, encerrando de vez uma alternativa que, por anos, esteve disponível à população.
O acesso passará a ser exclusivamente por meio da regulação, o que significa que cada paciente precisará passar antes por um filtro de encaminhamento oficial.
No curto prazo, a medida representa o fechamento de uma das portas de entrada mais importantes para quem busca atendimento hospitalar.
Em meio à sobrecarga e à qualidade questionável dos serviços prestados nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e nos Centros Regionais de Saúde, ambos sob gestão da prefeitura, o Hospital Regional funcionava como uma válvula de escape para casos que não conseguiam resposta satisfatória nesses locais.
A população perde, portanto, um recurso imediato para situações urgentes, especialmente aquelas em que o tempo de espera pode agravar o quadro clínico.
Por outro lado, o novo formato promete ganhos importantes no médio prazo. Ao reservar as vagas hospitalares apenas para casos que realmente exigem internação, abre-se a possibilidade de reduzir a superlotação e otimizar recursos humanos e materiais.
Essa triagem mais rigorosa deve permitir que o hospital cumpra sua função primordial – atender pacientes em situações graves – e melhore a qualidade do serviço oferecido. Entretanto, essa transição não está isenta de riscos e desafios.
O principal deles é a já conhecida deficiência de critérios claros e uniformes para o encaminhamento de pacientes na rede do SUS.
Hoje, há um verdadeiro jogo de empurra entre as UPAs, Centros Regionais de Saúde e hospitais, no qual quem mais sofre é o cidadão.
Se a regulação não for acompanhada de protocolos precisos e de treinamento adequado, a mudança poderá resultar apenas em mais burocracia e no aumento da frustração popular.
O impacto imediato também recairá sobre a saúde municipal, que assumirá um papel ainda mais central. Será a gestão da prefeitura a responsável por regular a entrada dos pacientes nos hospitais. Isso exige eficiência, transparência e capacidade de resposta rápida.
Sem um reforço na gestão e nos investimentos na rede de atenção básica e de urgência, o gargalo apenas mudará de endereço, sem resolver o problema de fundo.
A realidade é que a oferta de serviços hospitalares no SUS, em Campo Grande e em Mato Grosso do Sul, supera a demanda potencial, mas peca na eficiência.
O que falta não é estrutura física ou número de leitos, é gestão qualificada, integração entre os diferentes níveis de atendimento e respeito ao princípio de prioridade, baseado na gravidade do caso.
Um sistema de regulação eficiente pode ser a chave para transformar esse potencial em resultados concretos para o paciente.
A decisão do Hospital Regional, portanto, deve ser encarada como uma oportunidade de reorganizar a rede de saúde pública.


