Artigos e Opinião

ARTIGOS

O paradoxo da IA: por que mais tecnologia pode estar criando colaboradores menos inteligentes?

Um padrão preocupante tem emergido no mercado corporativo: empresas que investem pesadamente em ferramentas de IA frequentemente relatam quedas inesperadas na qualidade do pensamento estratégico de suas equipes

Continue lendo...

Vivemos um paradoxo na era digital: quanto mais inteligência artificial implementamos, mais colaboradores “burros” criamos. Esta não é uma provocação gratuita – é uma realidade que observo no mercado. Será que estamos vivendo uma epidemia da preguiça cognitiva?

A verdadeira questão não é se a IA torna colaboradores menos eficientes, mas se estamos usando tecnologia para amplificar inteligência ou substituir pensamento crítico. E a resposta, infelizmente, tem sido a segunda opção na maioria das organizações que conheço.

Nesse sentido, noto que um padrão preocupante tem emergido no mercado corporativo: empresas que investem pesadamente em ferramentas de IA frequentemente relatam quedas inesperadas na qualidade do pensamento estratégico de suas equipes. O diagnóstico é sempre o mesmo: colaboradores desenvolveram o que chamo de “dependência digital passiva”.

Em vez de usar a IA como amplificador de suas capacidades analíticas, os profissionais simplesmente delegaram o pensamento crítico para os algoritmos. Resultado? Decisões superficiais, análises rasas e uma perigosa incapacidade de questionar os outputs da máquina.

Este fenômeno não é isolado. Um estudo recente do MIT Media Lab, liderado pela pesquisadora Nataliya Kosmyna, demonstrou que usuários de ChatGPT para escrita de ensaios apresentaram “conectividade cerebral mais fraca, menor retenção de memória e senso de propriedade reduzido sobre seu trabalho”, comparados a grupos que não utilizaram IA.

A pesquisa, que acompanhou participantes por quatro meses, revelou que “usuários de LLM consistentemente tiveram desempenho inferior em níveis neurais, linguísticos e comportamentais”.

Paralelamente, uma pesquisa publicada na revista Societies, por Michael Gerlach, da SBS Swiss Business School, analisou 666 participantes e encontrou “correlação negativa significativa entre uso frequente de ferramentas de IA e habilidades de pensamento crítico, mediada pelo aumento do offloading cognitivo”.

O estudo mostrou que participantes mais jovens exibiam maior dependência de ferramentas de IA e pontuações mais baixas em pensamento crítico. A tecnologia, quando mal implementada, não nos torna mais eficientes – nos torna mais dependentes.

Existe uma crença perigosa no mercado, um mito de que investir em inteligência artificial é uma fórmula mágica para resolver problemas organizacionais. Por isso, vejo executivos gastarem fortunas em sistemas sofisticados, enquanto negligenciam completamente a preparação humana para utilizá-los.

Porém, existe o caminho da gamificação, que, ao ser aplicada ao desenvolvimento de competências digitais, pode ser o antídoto para a passividade cognitiva. Em vez de simplesmente automatizar processos, é possível gamificar o pensamento crítico – criando sistemas que recompensam colaboradores por questionarem outputs de IA, por proporem hipóteses alternativas e por identificarem limitações dos algoritmos.

Esta abordagem transforma a relação fundamental entre humanos e máquinas: a IA continua fazendo o trabalho pesado de processamento, mas os humanos reassumem o controle do pensamento estratégico.

Para reforçar essa afirmação, trago dados da Future Market Insights, que projetam que o mercado global de gamificação crescerá de US$ 20,8 bilhões, este ano, para quase US$ 191 bilhões, até 2034. Mas poucos entendem por que esta explosão está acontecendo agora.

A gamificação não é apenas sobre pontos e badges – é sobre redesenhar a relação entre humanos e tecnologia. Quando aplicada corretamente, ela transforma colaboradores passivos em agentes ativos de sua própria evolução profissional.

Em um futuro próximo, existirão dois tipos de profissionais: aqueles que usam IA para amplificar sua inteligência e aqueles que permitem que a IA substitua seu pensamento.

Os primeiros se tornarão exponencialmente mais valiosos. Os segundos se tornarão progressivamente obsoletos. Por isso reforço que a escolha não é da tecnologia – é nossa. A pergunta não é se você usa IA como aliada, mas se você tem coragem de redesenhar seus processos para que ela amplifique, não substitua, a genialidade humana de sua equipe.

Por fim, o futuro do trabalho não será sobre humanos versus máquinas, mas sobre humanos potencializados por máquinas. A diferença é sutil na teoria, mas revolucionária na prática.

EDITORIAL

Judiciário não é palco nem mercado

Restringir a atuação como coach e impor limites a determinadas docências, especialmente aquelas transformadas em verdadeiros cursos caça-níqueis, é fundamental

13/12/2025 07h15

Continue Lendo...

A decisão do presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Edson Fachin, de proibir que magistrados atuem como coaches, seja nas redes sociais ou fora delas, não é apenas correta como necessária.

Trata-se de um freio institucional que chega em boa hora a um Judiciário que, nos últimos anos, tem convivido com excessos de exposição, vaidade e práticas que colocam em xeque a sobriedade exigida da magistratura.

Não é de hoje que esse limite vem sendo testado.

Há cerca de dois anos, causou perplexidade o caso de um ex-juiz federal que passou a vender cursos na internet ensinando “táticas” para ganhar recursos judiciais. O paradoxo salta aos olhos: quem julgava recursos passou a faturar dinheiro “por fora” ensinando advogados a vencê-los.

Ainda que se alegue liberdade profissional após deixar a toga, a prática é, no mínimo, eticamente questionável e contribui para corroer a confiança da sociedade na imparcialidade do sistema de Justiça.

A medida de Fachin reconhece um problema real: tem faltado comedimento à parte da magistratura brasileira.

Em tempos de redes sociais, palestras remuneradas e cursos de viés mercadológico, alguns juízes parecem ter esquecido uma máxima antiga, simples e ainda extremamente atual: o lugar em que o magistrado mais deve falar é nos autos.

A autoridade da toga não se constrói com likes, seguidores ou discursos performáticos, mas com decisões técnicas, fundamentadas e discretas.

Restringir a atuação como coach e impor limites à determinadas docências, especialmente aquelas transformadas em verdadeiros cursos caça-níqueis, é fundamental. Não se trata de censura nem de cerceamento da liberdade intelectual, mas de preservação da função jurisdicional.

O juiz não é um influenciador digital, tampouco um vendedor de fórmulas de sucesso processual. É agente do Estado, investido de poder para decidir conflitos com independência e imparcialidade.

Isso, porém, não significa defender um Judiciário hermético ou alheio à sociedade. Ao contrário: as cortes precisam, sim, se comunicar melhor nestes novos tempos, explicar decisões complexas, dialogar institucionalmente com a população e prestar contas de seu funcionamento. Comunicação institucional é necessária; autopromoção individual, não.

No fim das contas, o que está em jogo é o respeito à própria instituição. O Judiciário é, talvez, o Poder que mais precisa ser respeitado para que a democracia funcione. E esse respeito não é um privilégio – é uma obrigação que começa dentro de casa.

Seriedade, sobriedade e autocontenção não são virtudes acessórias para magistrados; são requisitos essenciais para quem exerce uma das funções mais sensíveis do Estado.

ARTIGOS

Novas regras do Banco Central sobre ativos virtuais: um marco de maturidade regulatória

Brasil consolida seu papel de protagonista na integração entre inovação financeira e solidez regulatória, aproximando-se dos padrões internacionais de governança e Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo

12/12/2025 07h45

Continue Lendo...

Em 10 de novembro, o Banco Central do Brasil deu um passo histórico ao publicar as Resoluções BCB nº 519, nº 520 e nº 521, que inauguram um novo ciclo de regulação do mercado de ativos virtuais no País.

Com essas normas, o Brasil consolida seu papel de protagonista na integração entre inovação financeira e solidez regulatória, aproximando-se dos padrões internacionais de governança e Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo (PLD/FT).

Mais do que um conjunto técnico de regras, essas resoluções representam um amadurecimento institucional do sistema financeiro brasileiro diante da realidade cripto. Até então, o setor operava em uma zona cinzenta regulatória, com supervisão limitada e grande diferenças de informações entre prestadores e usuários.

Agora, o País passa a estabelecer bases claras para a operação de Sociedades Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais (Psav), além de definir, pela primeira vez, o tratamento cambial para operações internacionais com criptoativos.

A Resolução BCB nº 519/2025 impõe um padrão de governança que coloca as Psav sob um nível de exigência comparável ao das instituições financeiras. Exige-se segregação patrimonial, controles internos robustos e políticas de PLD/FT equivalentes às do sistema bancário.

Essa medida mitiga riscos de uso indevido dos recursos dos clientes e reduz o espaço para fraudes e práticas abusivas. Pontos sensíveis em um setor historicamente marcado por volatilidade e escândalos.

Já a Resolução BCB nº 520/2025 institui o processo de autorização prévia para funcionamento das Psav, com vedações expressas à oferta de crédito e à captação de recursos de clientes qualificados.

O objetivo é proteger investidores e garantir que as operações com criptoativos não contaminem o sistema financeiro tradicional com riscos de liquidez e solvência. A exigência de sede no Brasil e critérios rigorosos de idoneidade e gestão de riscos também reforçam o compromisso com a responsabilidade corporativa e a transparência operacional.

Por sua vez, a Resolução BCB nº 521/2025 corrige uma lacuna importante ao enquadrar as operações internacionais com criptoativos, como operações de câmbio, sempre que houver conversão de moeda ou transferência internacional de valores.

Essa regra coloca as transações de cripto sob a mesma lente de compliance cambial que rege outras formas de movimentação financeira internacional, prevenindo brechas para evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Para bancos e instituições financeiras, o novo marco regulatório representa tanto uma oportunidade quanto uma responsabilidade. A integração dos serviços com ativos virtuais ao portfólio bancário passa a ser viável, desde que sejam obedecidos os novos parâmetros de segurança, segregação de recursos e reporte regulatório.

Ao mesmo tempo, essas instituições terão de repensar suas estruturas de governança e compliance para acomodar o ecossistema cripto dentro de uma lógica de controle prudencial.

Alguns pontos, entretanto, merecem atenção especial: a vedação de crédito com recursos próprios em operações cripto, a segregação total de fundos de clientes, o reforço dos controles de PLD/FT, e o tratamento cambial obrigatório em transações internacionais.

Tais exigências sinalizam que o Banco Central, de maneira mais que devida e assertiva, pretende equilibrar o incentivo à inovação com a blindagem contra riscos sistêmicos e ilícitos financeiros.

Contudo, o período de adaptação será curto. As regras entram em vigor a partir de 2 de fevereiro de 2026 e as obrigações adicionais de reporte internacional passam a valer a partir de 4 de maio de 2026.

Empresas que já atuam no mercado precisam, portanto, iniciar imediatamente seus processos de adequação, revisando estruturas societárias, sistêmicas, políticas de custódia e mecanismos de compliance.

Por fim, as novas resoluções não devem ser vistas como um freio à inovação, mas como um sinal evidente de maturidade regulatória do País.

Ao oferecer um ambiente seguro, transparente e supervisionado, o Banco Central cria as condições para que o Brasil se consolide como um polo confiável de desenvolvimento em blockchain e ativos digitais. É o início de uma nova era em que a confiança institucional passa a ser o ativo mais valioso do universo cripto.

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).