De dois em dois anos, os políticos brasileiros sobem em palanques e prometem o que todos já ouviram antes: uma revolução na saúde pública. Falam em hospitais modernos, atendimento humanizado, filas zeradas e gestão eficiente.
Passada a eleição, porém, o que se vê é o mesmo roteiro repetido à exaustão – promessas embaladas em campanhas de marketing, cumprindo o papel de seduzir o eleitorado cansado e, ainda assim, esperançoso.
Lamentavelmente, de dois em dois anos, boa parte dos eleitores volta a acreditar que dessa vez será diferente.
A verdade é que, em nome do poder, prometer soluções milagrosas virou parte do jogo. E quando a posse chega, o tom muda. A política é feita dentro de uma bolha: acordos, nomeações e recompensas a aliados passam a ocupar o centro da agenda.
Cargos são preenchidos não por competência, mas por proximidade e compromissos de campanha. Enquanto isso, o cidadão comum, aquele que ouviu as promessas de mudança, volta ao mesmo posto de sempre – o de espectador do descaso.
Em Campo Grande, a realidade tem sido cruelmente revelada. Pacientes aguardam mais de uma semana em uma UPA por uma vaga hospitalar. Hospitais públicos e conveniados estão lotados, médicos exaustos, familiares aflitos. E o argumento de sempre – o da falta de recursos – não convence mais.
A saúde consome um terço de todo o orçamento municipal, e mesmo assim o sistema segue colapsado. O que falta, portanto, não é dinheiro. Falta gestão. Falta compromisso. Falta, sobretudo, seriedade no trato com o que é público.
Nem mesmo decisões judiciais, que determinam transferências ou tratamentos urgentes, são cumpridas. E isso levanta uma pergunta que deveria incomodar mais: por que os cidadãos são obrigados a cumprir as decisões da Justiça, mas o poder público pode simplesmente ignorá-las? Existe, por acaso, segundo a Constituição, uma categoria de cidadãos de segunda classe?
A crise da saúde em Campo Grande não é apenas um problema de leitos, é um problema de prioridades. É resultado direto da indiferença com que se trata o sofrimento da população e da impunidade com que se conduz a má gestão.
A imprensa tem cobrado, denunciado, mostrado as falhas e as contradições do sistema. Mas é preciso mais. A força da mudança virá quando a sociedade também se incomodar – quando parte da população deixar de lado a distração das redes sociais e voltar o olhar para o que realmente importa: cobrar eficiência, exigir resultados e lembrar, nas urnas, de quem prometeu e não cumpriu.


