Artigos e Opinião

ARTIGO

Ruben Figueiró: "Do cigarro. Lembranças"

Ex-Senador da República

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Num dos domingos passados – talvez o do dia 25 de fevereiro – li, como sempre faço quando tenho a vista artigo da lavra do professor universitário Leandro Karnal, intitulado “O prazer de Gilda e o nosso”. A redação do professor é atraente pela leveza de suas expressões extraídas de uma formação imperscrutável. É dele : “O cigarro não é ilegal. Causa enormes males”. Desde a infância que ele abomina o cigarro e sua razão vem de exemplos em sua própria casa. Também eu sempre discriminei o cigarro, a partir do instante que impulsionado pelos arroubos da juventude tive dele uma repulsiva experiência.

O artigo do prof. Leandro Karnal me fez lembrar de dois fatos dos quais participei quando do exercício do honroso mandato de deputado federal (por três legislaturas) como um dos representantes de nosso estado. O relato aqui não vem em sua ordem cronológica. Estava eu em Washington como convidado do Departamento de Estado dos Estados Unidos, para participar de seminário sobre a legislação comparativa entre os EUA e o Brasil. Uma das palestras foi proferida pelo professor Valuchek, tcheco-eslovaco de origem mas naturalizado americano, consagrado teórico do partido democrático – à época no poder. Lá pelas tantas falou da concisão dos textos da lei americana e da adjetivação sempre inserida no da lei brasileira, pelos quais no seu entendimento poderiam levar a uma interpretação divergente.

Aquela afirmação causou-me estupefação de início, mas não tive como não aceitá-la, claro, sob protestos diante do exemplo que explicitou: na lei americana sobre a lei do fumo está: Art. 1º É proibido fumar. Art. 2º Revogadas as disposições em contrário. Fim. A Lei brasileira: Art. 1º É proibido fumar. Art. 2º. Se o cidadão for maior de 18 anos, pode fumar. Parágrafo único: Se o cidadão for menor de 18 anos e tiver a autorização de seus pais, ou de responsável, pode fumar. Evidentemente o que o professor quis dizer com o exemplo acima é de que pela nossa formação cultural de origem latina os textos legais tem costumeira tendência para chegar a detalhes que mais prejudicam, em razão de suas adjetivações, a sua interpretação do que a confiança de um texto que não dá margem a equívocos.

A outra lembrança vem do plenário da Câmara dos Deputados. Certa vez uma empresa européia especializada (creio que da Suíça) testou o índice das partículas poluentes decorrentes da fumaça expelida pelos fumantes de cigarro no plenário, quando de reuniões com ampla presença de parlamentares. O resultado foi alarmante, mais de 150 quilos de nicotina tomava conta do ambiente! A circunstância alertou um grupo de parlamentares, senadores e deputados, levando-os a formar um grupo parlamentar contra o uso de cigarros nos recintos do Congresso Nacional. Fiz parte desse grupo que era presidido pelo senador Lourival Batista do Sergipe. Por delegação do grupo apresentei na Câmara dos Deputados projeto de resolução alterando seu Regimento Interno proibindo o uso do cigarro em suas dependências. Foi uma revolta e a própria mesa diretora a quem cabia dar seqüência a tramitação do projeto discretamente engavetou a proposta. Anos se passaram até que a lucidez imperou entre os parlamentares e hoje a lei não só tem extensão no âmbito do Congresso Nacional como em outros ambientes fechados do território brasileiro.

 

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1984-2024: 40 anos da Academia de Polícia Civil

22/10/2024 07h30

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Incumbido da honrosa e da nobilíssima missão de dirigir como primeiro diretor-geral a então Academia Estadual de Segurança Pública (Aesp-MS) – hoje Academia de Polícia Civil Delegado Júlio Cesar da Fonte Nogueira (Acadepol-MS) – sinto-me na obrigação de, na comemoração dos 40 anos de início do prédio funcional, registrar os princípios que justificaram e nortearam tão imprescindível realização.

Concebida, aliás, com muito carinho pelos denodados secretários de Estado de Segurança Pública Euro Barbosa de Barros, João Batista Pereira e Aleixo Paraguassu, a criação da academia se deu por ato do governo de Pedro Pedrossian, por meio do Decreto nº 1.744, de 11 de agosto de 1982.

Os trabalhos empreendidos para a formação do policial civil em MS tiveram início, logo após a divisão do Estado, em abril de 1979. Após vários cursos temporários, em diversos locais, deu-se a inauguração da sede própria, em uma área de 12 hectares, no exuberante Parque dos Poderes, em 12 de março de 1984.No total, foram aprovados 216 bacharéis em Direito no primeiro concurso público à categoria e foram eles que iniciaram o curso de formação em 19 de março de 1984.

A intenção inicial era a de unir em uma mesma escola de formação duas instituições, tendo em vista uma futura integração das Polícias Civil e Militar. Infelizmente, tal escopo, de grande repercussão social, não foi concretizado.

Toda a estrutura da academia – física, funcional, administrativa, pedagógica, operacional, etc. – teve um batismo espiritual, impregnado até as estranhas o corpo administrativo, docente e discente: a conscientização do policial da grande responsabilidade que envolve sua conduta perante a comunidade, o aprimoramento no exercício de suas atividades profissionais e um exemplar procedimento ético.

Em 40 anos, a academia teve na direção-geral Cezar Mafus Maksoud, José Augusto da Silva, Aloysio Franco de Oliveira, Roberto José Medeiros, Joaquim D’Assunção Felipe de Souza, Osvaldo Vieira de Andrade, Alexandre Augusto Bevilacqua, Dalva Gomes Sampaio, Jorge Razanauskas Neto, Antonio Carlos dos Santos, Mirian Elizabeth Lemos Dutra, Silvio Iran da Costa Melo, Luiz Tadeu Gomes da Silva, Júlio César da Fonte Nogueira, Sidnei Alberto, Waldir Carlos Ide, Lúcia Ferreira Falcão, Maria de Lourdes Souza Cano, Devair Aparecido Francisco, Roberto Gurgel de Oliveira Filho e, atualmente, Rozeman Geise Rodrigues de Paula.O atual secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública é o operoso e diligente Antônio Carlos Videira.

Anunciado já há tempo em livro, o registro histórico da academia, até o momento, não veio à tona sua integral publicação. Esse resgate será de transcendental utilidade, pois o crescimento da instituição, suas fases de aprimoramento, suas diretrizes pedagógicas, analisadas e repensadas, servirão de base para procedimentos cada vez mais aperfeiçoados, tendo em vista a formação do bom policial de quem tanto a sociedade necessita e clama com ardor!

É fácil constatar que hoje, mais que ontem, o mal teima cada vez mais em se transfigurar em mil formas perniciosas de agressões e estratégias, tornando, cada vez mais premente, a formação e o preparo profissional e ético dos que se incumbem do bem-estar e da segurança pública. Essa consideração nos faz recordar da primeira semana de aulas na academia, nos idos de março de 1984...

Surpreendeu-nos no período matutino, nos corredores, uma serpente do gênero Crotalus, uma cascavel com seis guizos quase à porta da sala de aula, proveniente da exuberante mata do Cerrado!

O aparecimento inesperado da víbora foi providencial para servir de tema, em palestra, aos futuros e primeiros delegados de polícia concursados no Estado: a necessidade de meticuloso preparo, a atenção sempre vigilante e contínua, para fazer frente aos inimigos (representados pela cascavel) que põem em risco a tranquilidade e a paz social! 

Faço alusão a esse fato pois, estarrecidos, vemos a todo instante a serpente do mal a nos surpreender de mil formas e com mil insinuações, preparando ardilosamente o seu bote e proclamando que “o crime compensa”, “os malfadados erros dos nossos governantes justificam os nossos”, “a esperteza é fazer valer o direito da força, contra a força do direito”, “na prática, a teoria é outra” e “consciência é argumento dos que não podem ou não sabem prevaricar!”.

Ao ensejo da comemoração de 40 anos, folgamos em sublinhar enfaticamente o nosso sonho. A nossa aspiração, as esperanças de um novo porvir para os nossos filhos, a crença na eternidade do bem e na fugacidade do mal, as perspectivas de um benfazejo horizonte, é ver a academia um santuário vivificante do mais sagrado do nosso ideal, um templo majestoso de fé nos princípios da Justiça, da ordem, do equilíbrio. Um paradigma da legalidade e do Direito.

Uma trincheira avançada, uma resistente fortaleza de salvaguarda das mais lídimas tradições da família brasileira. Um laboratório efervescente de ideias, teorias, processos e antídotos contra o mal, que teima se especializar cada vez mais.

É ver a academia como algo imarcescível a direcionar, com a cadência das bênçãos divinas e do beneplácito da pátria, os caminhos ásperos, mas gloriosos, de policiais, os quais se entregam à meritória faina de resguardar a ordem e a tranquilidade públicas!

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A solução para a exaustão da vida moderna

21/10/2024 07h45

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O que significa brincar? Para muitos, essa pergunta parece simples, mas sua resposta ecoa por toda a nossa existência. Brincar não é apenas uma atividade infantil, mas uma experiência vital, uma manifestação intrínseca da nossa condição humana.

Em meio a um mundo acelerado e pressionado, somos levados a acreditar que o brincar é algo a ser deixado para trás, abandonado na infância, como se fosse uma frivolidade que não tem lugar na vida adulta. Porém, quero provocar aqui uma reflexão: e se o brincar fosse justamente o que nos falta? E se o brincar fosse o antídoto para a exaustão e a sobrecarga emocional da vida moderna?

As pesquisas mais recentes, assim como os pensadores clássicos da psicologia contemporânea, como o psiquiatra Stuart Brown e o psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, indicam que o brincar vai muito além do simples entretenimento. É um mecanismo de construção de identidade, uma forma de nos conectarmos profundamente com o mundo e com os outros.

Como bem argumentou Brown, “brincar é uma força primordial que molda o cérebro, abre a imaginação e revitaliza a alma”. No entanto, por algum motivo, à medida que envelhecemos vamos nos afastando dessa força tão essencial à nossa natureza.

Nosso afastamento do brincar é uma tragédia silenciosa que poucos reconhecem, mas cujos efeitos são visíveis em nossa sociedade exaurida. Vivemos em tempos de burnout, de cansaço crônico, de desilusão e desconexão.

A sociedade contemporânea nos impõe uma agenda rígida em que a produtividade reina absoluta e que qualquer atividade que não vá gerar um retorno tangível ou financeiro é vista como perda de tempo. A pergunta que paira no ar é: onde está o espaço para o prazer, para a espontaneidade, para o brincar?

A cultura nos vende a ideia de que, ao envelhecer, precisamos abandonar certas “infantilidades”. Brincar se torna algo restrito aos pequenos, um “luxo” que não cabe em agendas de adultos responsáveis. Mas será mesmo?

Se pararmos para pensar, veremos que o que chamamos de “seriedade” adulta nada mais é que uma armadilha construída por expectativas externas, uma máscara que nos distancia da nossa autenticidade.

Perdemos o contato com a nossa criança interior e, com isso, perdemos também a capacidade de nos maravilharmos, de improvisar, de descobrir novos significados para o mundo.

A provocação aqui é direta: em que momento acreditamos que o amadurecer significava abrir mão do prazer, da leveza e do brincar? Mais do que nunca, precisamos desafiar essa noção limitada de amadurecimento. A brincadeira não é o oposto da seriedade, mas é, na verdade, a ponte que nos permite encarar a vida de forma mais leve, criativa e flexível.

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