Boris Fausto, um dos mais consagrados intelectuais de nosso País, assegura que a democracia é uma instituição consagrada em nosso meio. Há uma consciência nacional a respeito. Portanto, a interrogação contida na epígrafe não induz apreensão, e sim que os embates decorrentes da crise econômica, mesmo com a turbulência política gerada, hão de se conduzir dentro dos parâmetros constitucionais, ora vigentes. Aliás, assim tem sido o comportamento das partes litigantes – a população atenta e os partidos governistas e os das oposições.
Talvez, na história de nossa Pátria, não houvera um debate como agora, tão longo e tão intenso, sobre os desdobramentos originários do desastre fiscal, econômico e moral a que o governo Dilma tem provocado. No passado, ocorreram fatos que abalaram de forma significativa a ordem legal: crises econômicas ameaçadoras do equilíbrio das contas públicas; escândalos causados pela desordem moral por parte de dirigentes públicos; tentativas de subversão da ordem institucional. Enfim, houve de tudo. Porém, não se registra nada que poderia levar desequilíbrio das emoções populares, como a causada pelos lamentáveis episódios que se iniciaram com o “mensalão”, seguido pelo seu irmão inescrupuloso, o “petrolão”. Daí decorreu a operação higienizadora do Lava Jato.
Tenho lido manifestações de diferentes analistas políticos, assistido a entrevistas pela televisão, e delas percebo que surge com lucidez a palavra renúncia, por parte da senhora presidente. Ela terá esse alcance? Não custa destacar que a nossa história registra quatro atitudes altivas de então presidentes que renunciaram seus mandatos: Deodoro da Fonseca,
Washington Luís, Jânio Quadros e João Goulart. Razões, talvez íntimas, movidas por convicção ou por forças das circunstâncias. Poderia entender que foi para evitar uma conflagração entre irmãos, portanto de grandeza cívica. Pela personalidade forte da senhora presidente, a pergunta ficaria no ar.
A vitória suada nas urnas de 2014 fez com que a presidente perdesse a essência da sua própria origem, de promessas vãs, custo altíssimo com a utilização de recursos públicos esbanjados por uma publicidade estonteante, tudo se transformando em uma onda tsunâmica, cujo caos a nação padece. A posição tida como irredutível, da presidente, poderá sofrer um abalo durante e após as manifestações populares anunciadas para domingo, dia 16. Ao ouvir o clamor das ruas, aliás, de onde partiu sua recondução ao governo, ela poderá perceber que a voz é do mesmo povo que a alerta: Basta!
Todas as notícias que vêm de Brasília são de preocupação, não mais da autoridade presidencial hoje deteriorada, é de a então inexpugnável maioria parlamentar no Congresso esboreou-se. Até o PT, no seu bojo dirigente, arquiteta manhosamente de que Dilma “fora” é o caminho salvador que abre oportunidade para Lula em 2018. O PMDB, tradicional parasita das entranhas do poder, vê com gula pantagruélica a sua oportunidade de saciar-se no poder.
Permito-me registrar: sou tucano. Preocupa-me a divergência entre as nossas lideranças maiores. Tentar anular o resultado das eleições presidenciais de 2014, penso que não alcança a vontade popular hoje tão presente. Esta é – vê-se e se ouve nas ruas – pelo impeachment da presidente, respeitado o que afirma “o livrinho” (a Constituição), na famosa expressão do então presidente Gaspar Dutra. É a lição do passado.