O debate sobre a renovação do convênio entre a Prefeitura de Campo Grande e a Santa Casa exige mais do que reuniões a portas fechadas e comunicados genéricos. Exige transparência plena.
Afinal, o que está em jogo é um convênio que movimenta quase R$ 400 milhões por ano em recursos públicos, provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS) – um sistema que, apesar de ser um dos pilares da saúde brasileira, vive permanentemente em tensão entre o ideal e o possível.
Agora, o hospital pleiteia um reajuste de R$ 150 milhões anuais, quase 40% a mais do que já recebe. O pedido soa, no mínimo, desproporcional diante do cenário de crise econômica e da ausência de clareza sobre as finanças da instituição.
A Santa Casa, que há décadas enfrenta dificuldades e trocas de gestão, segue acumulando denúncias de má administração, contratos pouco claros e gastos questionáveis. Apesar disso, cobra mais recursos sem apresentar um plano detalhado de reestruturação, metas de desempenho ou contrapartidas objetivas para a população.
De outro lado, a Prefeitura também não tem se mostrado um exemplo de boa gestão. É notório o atraso no repasse das verbas federais e estaduais destinadas à unidade, o que agrava a crise e cria um ciclo de dependência e conflito.
Essa combinação de desorganização pública e desconfiança institucional tem custado caro à cidade. O cidadão, que deveria ser o centro da política pública de saúde, continua o elo mais frágil dessa relação.
O drama da Santa Casa é, em muitos sentidos, o retrato do SUS em sua forma mais nua: um sistema que sobrevive mais pela força de seus profissionais e pela urgência dos pacientes do que pela eficiência dos gestores.
É um sistema que provoca críticas generalizadas – dos médicos, que o consideram burocrático e mal remunerado; e da população, que sofre com a lentidão e a falta de estrutura. Mas é também um sistema que, bem administrado, pode ser o caminho para garantir dignidade e acesso universal à saúde.
Diante do impasse atual, não se trata apenas de renovar o convênio, mas de repactuar toda a relação entre o poder público e a Santa Casa. É preciso exigir que o hospital apresente suas contas de forma detalhada e auditável, com clareza sobre contratos, fornecedores e custos.
A Prefeitura, por sua vez, precisa regularizar os repasses e assumir a sua responsabilidade como gestora plena do SUS municipal, sem se esconder atrás de desculpas ou empurrar a culpa para terceiros.
Uma repactuação verdadeira deve incluir critérios de desempenho, metas de atendimento, prazos de pagamento e, sobretudo, transparência total. O contribuinte tem o direito de saber como e onde é gasto cada real dos seus impostos.
Enquanto isso não acontecer, qualquer renovação será apenas a repetição de um modelo falido – aquele em que falta transparência, sobra improviso e, no fim, quem continua pagando a conta é o cidadão comum.


